domingo, 10 de fevereiro de 2013




PODE O CRISTÃO ESTUDAR FILOSOFIA










Há nos dias de hoje, em muitos círculos cristãos, um preconceito infundado em relação a Filosofia. Muitos ainda acreditam que o simples estudo da filosofia é prejudicial a fé de um cristão piedoso. No entanto, devemos entender que geralmente esses irmãos são levados a pensar assim porque assimilaram acriticamente algumas idéias incorretas sobre o valor do conhecimento filosófico.

Não é coisa rara ouvi-los recitar repetidas vezes os mesmos versículos que teoricamente colocam a filosofia como inimiga da fé cristã. E é natural que seja assim. Isto porque este tipo de crítico, pela pobreza do alcance de sua argumentação, se arma de algum versículo a fim de encerrar a discussão sem maiores reflexões. Seu método argumentativo, em virtude da preguiça intelectual, se dá através do caminho mais rápido e fácil: a recitação de versículos antiintelectuais. Vejamos apenas dois versículos comumente usados para refutar o estudo da filosofia: Colossenses 2.8 e 2 Coríntios 3.6 :
Tenham cuidado para que ninguém os escravize a vãs filosofias e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo. (Cl 2.8)

Uma leitura superficial parece sugerir uma condenação paulina acerca do exercício filosófico. Todavia, um estudo mais detalhado do contexto histórico-religioso da igreja em Colossos deixa claro que Paulo não estava condenando a filosofia em si, mas um tipo específico de filosofia: a filosofia vã e enganosa. De acordo com as evidências externas e internas do texto, é possível que Paulo esteja condenando um sistema de pensamento sincrético, que mistura elementos judaizantes e gnósticos . Além do mais, Paulo era um ex-fariseu, erudito da principal academia judaica do primeiro século (escola de Hillel) e um profundo conhecedor da filosofia e literatura grega (Atos 17.27, 28; Tito 1.13,14). Cabe uma pergunta aqui: Como Paulo poderia condenar algo que, em algumas ocasiões serviram para ele como “ponto de contato” com a cultura específica de um determinado local, conforme mostra com exatidão o registro de sua homilia em Atos 17.15-34?
Ele nos capacitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; pois a letra mata, mas o Espírito vivifica. (2 Co 3.6)

Este texto parece ser o mais usado contra aqueles que procuram desenvolver uma vida intelectual no ambiente cristão, principalmente os que declaram seu “amor pela sabedoria” (significado etimológico da palavra filosofia). Eu mesmo cansei de ouvir esta ameaça: irmão cuidado, a letra mata! Na verdade, eu sei que meus irmãos não fazem por mal, pois a sinceridade de sua crítica ao intelectualismo reside no fato de que no processo do acúmulo cognitivo da informação fria, muitos cristãos se tornam inoperantes e improdutivos no pleno conhecimento do Senhor (2 Pedro 1.5-9). Todavia, uma coisa é a experiência do fracasso espiritual de alguns, outra complemente diferente é usar um texto fora de contexto. Trata-se de um argumento falacioso.

Como este breve texto não tem objetivo exegético, basta elucidar que o texto bíblico em questão não se refere a reflexão filosófica ou ao estudo diligente das letras, mas aborda o perigo do legalismo. Isto é, ao fatal apego a Lei mosaica para a salvação. E por esta razão, a afirmação de Paulo é contundente em dizer que a “letra mata”. A perícope de 2 Co. 3.1-18 é uma questão teológica tipicamente paulina; a letra a que Paulo se refere é simplesmente a lei da antiga aliança.

A pergunta que deve ser feita neste momento é: Será que a filosofia é realmente necessária para a tarefa apologética e para o cristianismo de modo geral? C.S. Lewis, um dos gigantes intelectuais do século XX, responde:

"Ser ignorantes e simples agora seria abrir mão de nossas armas a trair nossos irmãos sem formação acadêmica, que, abaixo de Deus, não tem nenhuma defesa contra ataques intelectuais dos pagãos, a não ser a defesa que lhe podemos oferecer. A boa filosofia deve existir. Se não por outra razão, porque a má filosofia precisa de resposta".
Como disse Lewis “a filosofia deve existir, porque a má filosofia precisa de resposta”.

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