quinta-feira, 14 de julho de 2016

Visão 2025 – o último grande surto de novas traduções da Bíblia



icon_desafiosO plano é arrojado demais, difícil demais, dispendioso demais, urgente demais, bonito demais e acertado demais. Puxa! Que plano é esse? É o plano de pelo menos iniciar um programa para a tradução da Bíblia em todas as línguas que ainda não a possuem até o ano 2025.
Elaborado pelos mais competentes lingüistas, antropólogos e missiólogos comprometidos com a ordem de evangelizar o mundo todo, o plano foi lançado em novembro de 2001 pela organização Tradutores da Bíblia Wycliffe Internacional (WBTI, em inglês).
O projeto conta com a adesão de várias organizações missionárias ao redor do mundo que já trabalham com a tradução da Bíblia para línguas nativas, inclusive com a brasileiríssima ALEM (Associação Lingüística Evangélica Missionária), com sede em Brasília. E espera obter o apoio de todas as denominações evangélicas de todos os continentes. Será um esforço realmente global. Além de recursos financeiros, o projeto dependerá de uma grande quantidade de novos missionários lingüistas.

Cartago e Alexandria

O missiólogo Wenceslao Calvo, da PROEL (Promotora Espanhola de Lingüística), tem um argumento muito forte a favor da intensificação do ministério de traduzir a Bíblia. É de ordem histórica. Lembra que, do segundo ao quinto século, a presença cristã no Norte da África era notável. Dali surgiram homens como Tertuliano, Cipriano, Agostinho, Orígenes, Atanásio e Cirilo. Em Alexandria havia uma das maiores escolas teológicas dos primeiros séculos. A partir das invasões árabes, porém, a igreja foi se enfraquecendo até quase morrer por completo. Hoje, todos os países acima do Saara, do oceano Atlântico ao mar Vermelho, exceto o Egito, são 100% muçulmanos. O que se encontra ali são nada mais do que vestígios do cristianismo. Embora o islamismo seja muito forte também no Egito, a situação desse país é bem menos sombria. A razão é que a igreja da antiga Cartago, na atual Tunísia, era de opinião que os convertidos tinham a obrigação de aprender o grego e o latim para se tornarem cristãos. Enquanto isso, a igreja da antiga cidade de Alexandria, no Egito, providenciou a tradução das Escrituras na língua copta, logo no final do segundo século. Na região onde hoje se encontram Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia, sob a influência de Cartago, os cristãos não tinham a Bíblia em sua própria língua, o que não aconteceu no Egito, sob a influência de Alexandria. Além de dificultar em muito a evangelização, a ausência das Escrituras nas línguas nativas facilita a superficialidade religiosa e a penetração do paganismo e de seitas. Outro malefício é que os cristãos são impelidos a buscar símbolos religiosos em demasia (quadros e imagens), o que facilmente deteriora a fé original.

Processo histórico

A Visão 2025, nome oficial do atual esforço em favor da tradução da Bíblia para 3.000 línguas desprovidas da Palavra de Deus, não é um fato isolado. As duas mais notáveis e antigas traduções da Bíblia são as chamadas Septuaginta e Vulgata. A primeira, para o grego, teria sido feita por 70 estudiosos judeus em Alexandria, a pedido do rei Ptolomeu, do Egito. Os cinco primeiros livros da Bíblia foram colocados em circulação em 250 a.C. Talvez tenha sido a mais demorada versão bíblica, pois o trabalho só terminou ao longo dos 200 anos seguintes. A segunda, para o latim, foi feita por Jerônimo (347-420), a pedido do papa Dâmaso, e veio a lume em 404 d.C. Tornou-se a Bíblia oficial da igreja católica a partir do Concílio de Trento (1545-1563).
Entre a Bíblia Latina de Jerônimo (347-420) e a Bíblia Inglesa de João Wycliffe (1330-1384) passaram-se dez séculos. Foi nessa ocasião que surgiu um novo surto de traduções das Sagradas Escrituras. Para Wycliffe, conhecido como a Estrela d’Alva da Reforma, a Palavra de Deus era o único padrão de fé e a única fonte de autoridade. O reformador alemão Martinho Lutero, que nasceu 100 anos depois de Wycliffe, também reconhecia a autoridade da Bíblia e a necessidade de colocá-la nas mãos do povo. Por esta razão, traduziu as Escrituras para o alemão e colocou em circulação perto de 100.000 cópias, um êxito editorial extraordinário para a época. Nesse período, outras línguas européias foram agraciadas com a tradução da Bíblia em vernáculo.
O surto seguinte se deu no início do século 19, junto com o despertamento da consciência missionária a partir de William Carey (1761-1834), que promoveu a tradução das Escrituras para 45 línguas e dialetos da Índia e de outras partes da Ásia, das quais 35 nada tinham até então. Foi nessa ocasião que nasceram as diversas sociedades bíblicas, a começar com a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804) e a Sociedade Bíblica Americana (1816). Essas sociedades produziram centenas de traduções das Escrituras e as colocaram em circulação.
Novo surto iniciou 113 anos depois da organização da primeira sociedade bíblica. O instrumento usado por Deus foi o colportor americano William Cameron Townsend (1896-1982), que foi tremendamente impactado na Guatemala, em 1917, com a idade de 21 anos. Ao oferecer uma Bíblia em espanhol a um indígena cakchiquel, este esbravejou: “Se o seu Deus é tão inteligente, por que Ele não fala a minha língua?” Townsend então enxergou e abraçou entusiasticamente o desafio de traduzir as Escrituras para as línguas nativas. Em 1929, 11 anos depois daquele choque, Towsend completou a tradução do Novo Testamento na língua cakchiquel. Mas não parou aí: em 1934 fundou aquilo que é hoje a maior organização missionária protestante de todo o mundo e talvez de todos os tempos: a Wycliffe Bible Translators (Tradutores da Bíblia Wycliffe) e seu irmão gêmeo, o Summer Institute of Linguistics (Instituto Lingüístico de Verão). O nome Wycliffe é uma homenagem a João Wycliffe, já mencionado.
Hoje a Wycliffe tem mais de 5.300 missionários de 60 diferentes nacionalidades que estão envolvidos com a tradução da Bíblia em mais de 70 países. Apesar da complexidade do trabalho, a cada 10 dias esses missionários lingüistas completam a tradução do Novo Testamento para uma língua. Em 1995, eles fizeram a dedicação do 400º Novo Testamento para uma das 800 línguas da Papua-Nova Guiné.

O último surto

Não faz muito tempo o missionário hispânico Moisés Lopes visitou uma igreja da tribo indígena mazahua no norte do México. A igreja estava cheia. Todos falavam a língua nativa e dispunham de um Novo Testamento nessa língua. Não obstante, o pregador falou em espanhol e o líder do louvor, um nativo, dirigiu cânticos em espanhol. Só os avisos, no final do culto, foram dados na língua do povo. Acabada a reunião, Moisés perguntou ao pastor por que apenas os avisos foram em mazahua. Obteve a seguinte resposta: “É para a congregação entender”. Ora, se os crentes entendiam mal o espanhol, por que a leitura da Bíblia, o sermão e os cânticos não foram na língua nativa?
A diferença entre ler a Palavra de Deus na própria língua e ler em outra língua mesmo pouco ou muito conhecida, é explicada pelo pastor Pedro Samua, da tribo tzutujil, da Guatemala: “Uma coisa é molhar o pé na água do lago; outra é pular dentro dele e nadar à vontade. Assim é a leitura da Bíblia na minha língua e em espanhol. Quando leio em espanhol, eu apenas molho meus pés na graça de Deus. Quando leio em tzutujil, eu mergulho na Palavra e sou refrescado por ela.”
Um dos oradores da conferência Amsterdam 2000, Dela Adalevoh, declarou: “Onde não existe Escritura na língua do povo, a igreja não cresce”.
O filósofo alemão Immanuel Kant, que morreu no ano em que foi organizada a Sociedade Bíblica Britânica (1804), escreveu que “a existência da Bíblia como livro para o povo é o maior benefício que a raça humana jamais recebeu. Todo intento de diminuir a sua importância é crime contra a humanidade”.
Por todas essas razões, o último grande surto de novas traduções das Escrituras Sagradas, conhecido pelo nome Visão 2025, é um plano arrojado demais, urgente demais, bonito demais e acertado demais. Merece todo o apoio de toda a igreja sobre a face da terra!
(Fonte principal: Manual del Representante, Wycliffe Américas, 2002.)

Desafio mundial

Diz-se que os 6,1 bilhões de habitantes do planeta falam 6.809 línguas. A Bíblia completa já foi traduzida para 366 línguas (cerca de 5,4% do total acima). O Novo Testamento já foi traduzido para 1.012 línguas (cerca de 15%). Pelo menos um livro da Bíblia já foi traduzido para outras 883 línguas (cerca de 13%). A soma desses três números revela que 2.261 línguas têm pelo menos uma porção das Escrituras traduzida (cerca de 33,6%).
Estima-se que há 3.000 línguas com óbvia necessidade de tradução bíblica (44% das 6.809 línguas faladas hoje). A população que fala uma língua sem nenhum livro da Bíblia traduzido é de aproximadamente 250 milhões de pessoas (pouco mais de 4% dos 6,1 bilhões de habitantes).
A maior parte desses 3.000 grupos étnicos desprovidos da Palavra de Deus está na Ásia, especialmente na Índia, China, Nepal e Bangladesh. São 1.200 línguas. Depois vem a África Ocidental, a metade nos países que foram colonizados pela França e a outra metade na Nigéria. São pelo menos 1.000 línguas. Em terceiro lugar, vêm as ilhas do Pacífico, especialmente em Papua-Nova Guiné e na Indonésia. São 600 línguas. Por último vem o Oriente Médio, cuja religião predominante é o islamismo. São 150 línguas.
Papua-Nova Guiné é um caso muito especial. Embora a língua oficial desse país da Oceania seja o inglês (por causa da colonização britânica), ali se falam mais de 800 línguas. Trata-se de uma nação pequena em área (menor que a Bahia) e em população (1 milhão a menos que a população da cidade do Rio de Janeiro). Não obstante a tremenda confusão lingüística, Papua-Nova Guiné, bem ao norte da Austrália, é um dos países de maior porcentagem de cristãos: 33% de católicos e 65% de protestantes (98% ao todo).
No presente momento, os tradutores da Bíblia estão trabalhando com 1.500 traduções ao redor do globo. Se o ritmo presente for mantido, a tradução da Bíblia para as outras 3.000 línguas estará em processo somente no ano 2150! A Visão 2025 tem por objetivo reduzir esse tempo em pelo menos 125 anos. Assim, até o ano 2025, todas os povos que ainda não têm a Bíblia em sua língua terão pelo menos algumas traduções iniciadas na língua que lhes fala ao coração.

Desafio brasileiro

De acordo com dados da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), no Brasil existem 251 tribos indígenas, das quais 218 são conhecidas e 33 são consideradas isoladas, isto é, ainda não têm contato permanente com a sociedade nacional.
O número de habitantes de cada tribo varia muito: 52 povos (20%) têm menos de 100 pessoas, 115 (46%) têm entre 100 e 1.000 pessoas, e 84 (34%) têm acima de 1.000.
Do ponto de vista missiológico, 34 tribos (14%) têm o Novo Testamento em suas línguas. Para outras 49 tribos (mais de 19,5%) o trabalho apenas começou. Isso quer dizer que para 168 grupos indígenas brasileiros (70%) nada se fez ainda com referência à tradução da Bíblia.
Uma das razões do nosso atraso está ligada a certos mitos que vêm desde o descobrimento. Um deles é a concepção de que os indígenas não são pecadores por andarem nus e em “comunhão” com a natureza.
Embora tenha preparado mais de 500 missionários que hoje estão espalhados no Brasil e no exterior, a ALEM tem apenas 42 tradutores da Bíblia no país, divididos em 12 equipes.
Os estrategistas em missões relacionadas à tradução da Bíblia garantem que, para alcançar o alvo de 2025, só o continente americano vai precisar de 500 novas equipes de missionários tradutores!

Carta de Brasília

Ao histórico Primeiro Fórum Latino-Americano para a Tradução da Bíblia, realizado em Brasília em novembro de 2002, estiveram presentes 70 pessoas provenientes de nove países da América do Sul, quatro da América Central e um da América do Norte. Na ocasião, foi redigido o seguinte documento:
“Nós, representantes de organizações missionárias envolvidas na tradução da Bíblia, e líderes de 14 países latino-americanos, convocados por Wycliffe Américas para o Primeiro Fórum Latino-Americano para a Tradução da Bíblia nas dependências da Associação Lingüística Evangélica Missionária (ALEM), na cidade de Brasília, DF, ante a realidade de que cerca de 3.000 línguas em todo o mundo carecem das Sagradas Escrituras, e compartilhando da visão de alocar uma equipe de tradução em cada um destes grupos até o ano 2025, como grupo de trabalho nos comprometemos a:
— Mobilizar as igrejas latino-americanas para um urgente movimento de oração, ação e envio de missionários;
— Estabelecer alianças estratégicas entre igrejas, organizações missionárias e grupos etnolingüísticos;
— Fortalecer e acompanhar o processo de recrutamento, seleção, capacitação, envio e cuidado integral dos missionários;
— Estabelecer uma aliança latino-americana, orientada para a tradução da Bíblia, e buscar capacitação continuada, estabelecendo programas e prazos que serão avaliados por regiões, para o cumprimento efetivo destas metas.
Diante de tamanho desafio, confiando na graça do Senhor e na direção do Espírito Santo, cremos que JUNTOS NÓS PODEMOS!”
Brasília, 21 de novembro de 2002.

Primeiras dicas para quem deseja ser tradutor da Bíblia

Caso você queira participar do desafio das novas traduções da Bíblia, é aconselhável fazer o CLM (Curso de Lingüística e Missiologia) e participar de algum tipo de treinamento para o campo, como o ASS (Acampamento de Sobrevivência na Selva), se for trabalhar com grupos indígenas no Brasil. Ambos os cursos são oferecidos pela ALEM e há também cursos semelhantes em outros países.
No CLM você vai estudar Antropologia, Aprendizagem de Línguas, Introdução à Lingüística, Educação Bilíngüe Intercultural, Missiologia, Fonética, Fonologia, Gramática, Antropologia da Religião e Tradução da Bíblia. O curso pode ser feito em Brasília (ALEM), em Lima (Universidade Ricardo Palma) e em outros centros em várias partes do mundo.
No ASS, você vai aprender coisas práticas: Vida Cristã; Antropologia Aplicada (etnocentrismo e interpretação cultural); Noções Gerais da Vida em Ambiente Rústico; Noções Básicas de Enfermagem; Relações Interpessoais; Projeto (como usar e pôr em prática os conhecimentos lingüísticos, adquiridos no CLM); e Orientação Vocacional (como verificar na prática a autenticidade da chamada missionária).
O CLM da ALEM tem a duração de 5 meses e é oferecido no período da segunda semana de janeiro à segunda semana de junho. No Brasil, o ASS é ministrado na proximidade de uma área indígena, por um período de 2 meses, sempre no segundo semestre.
Uma vez consciente de que esta é a sua vocação, converse com o seu pastor e entre em contato com a ALEM:
Caixa postal 6.101
70749-970 Brasília, DF
Tel.: 61 468-7202
Fax: 61 468-7271
alemclm@solar.com.br
www.missaoalem.org.br
Nota:
A ALEM e outras organizações de tradução das Escrituras estão abertas para estabelecer parcerias com igrejas, agências missionárias e juntas denominacionais para traduzir a Bíblia para as línguas carentes. Nas palavras do pastor Likurguio, de Papua-Nova Guiné, “juntos nós podemos”.

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