terça-feira, 30 de agosto de 2016

Soberba e Humildade: Lições que Aprendi com meus Mestres




Os leitores do Teologia & Graça estão cônscios que o editor deste blog não tem por hábito incensar a si mesmo com verbos que endossam os seus feitos, como se não existisse na blogosfera paladinos muito melhores do que ele. Primeiro, por que não sou ufanista e muito menos sofro da síndrome de Narciso. A Bíblia afirma que o soberbo atrai sobre si a afronta (Pv 11.2). Soberba (ARC), no referido texto, é a tradução do hebraico zadhôn (arrogância, presunção), termo empregado pelos irmãos de Davi a respeito de seu desejo de enfrentar o gigante Golias (1Sm 17.28). A lição prática extraída dessa perícope é que falar de seus atos e de suas intenções heróicas pode suscitar desconfiança, quer de pessoas boas, quer de pessoas más.

Espera-se do sábio uma atitude modesta, sóbria e humilde – virtudes que adornam a vida do cidadão da pólis, como afirmava Aristóteles em sua Ética a Nicômaco. A Bíblia enfatiza categoricamente: “melhor é ser humilde de espírito com os mansos” (Pv 16.19a); e que “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda” (Pv 16.18).
Incensar a si mesmo é uma atitude desaconselhável pelas Escrituras, pelos sábios e pelo bom siso. Homens como Pastor Antonio Gilberto, o mais notável mestre das Assembleias de Deus do Brasil, jamais atraiu atenção para si, mas colocou todo seu prestígio e conhecimento a favor da Escola Bíblica Dominical, missão que lhe rendeu impropérios, como por exemplo, ser chamado de “a besta de Apocalipse”, além de, sem sucesso, tentarem excluí-lo em certa Convenção. Com esse humilde servo do Senhor aprendi a não esmorecer diante dos desafios da educação cristã. Lembro-me quando, na Conferência da Escola Dominical em Fortaleza, o Pr. Antonio Gilberto, ministrando a respeito da interpretação bíblica, em um gesto humilde, carregado de amor pedagógico, no meio da palestra, pediu-me para que eu me pusesse em pé e apresentou-me como autor de uma obra de interpretação. Jamais pensei que alguém seria capaz de compartilhar seu crédito, confiança e brio com um autor novato. Eis aí um homem desapegado à glória que lhe atribuem.
Assim como ele, muitos obreiros das Assembleias de Deus teem mais cicatrizes do que medalhas; mais vitupérios do que honras, mais escárnios do que “sucesso”. E, se nós perguntássemos a esses verdadeiros paladinos da fé se todo sofrimento a favor da salvação e aperfeiçoamento dos santos valeu a pena, ouviremos desses lábios eruditos que, se pudessem, fariam tudo outra vez! O verdadeiro servo do Senhor leva a Bandeira do Reino, em vez de conduzir sua própria bandeira pelo Reino; ele busca a expansão do Evangelho de Cristo em vez do sucesso pessoal. Por isso, não atrai atenção para si, mas para Cristo e o Reino de Deus.
Quando eu era da idade de 28 anos, isso em 1998, fui fazer um curso de especialização em Hermenêutica Bíblica, no CETEOL, em SC. Aos pés do Dr. Estevan F. Kirschner, estudava com afinco as regras e manhas da exegese e hermenêutica bíblica. Observando a piedade daquele erudito, do respeito com que falava das teorias e pressupostos de outros mestres, e de sua notável sapiência, disse-lhe que gostaria de me dedicar ao estudo do grego para ajudar a minha denominação. Depois de explicar o árduo aprendizado da língua até o completo domínio do idioma helênico, deu-me um conselho mais precioso do que todas as regras e teorias hermenêuticas que aprendi durante um mês de ensino intensivo: “Esdras, não busque o sucesso e a fama!” O calor dos seus olhos fazia agudo contraste com o hálito gélido daquele inverno, e suas palavras pareciam ter saído dos lábios de um serafim. Nunca esqueci o conselho recebido, o gosto amargo do chimarrão e a doçura do ensino do professor Kirschner.
Hoje, apenas para ilustrar que Deus honra nossos propósitos, embora ainda tenha o que aprender, já fiz revisão e adaptação técnica do livro de grego da FAETAD, Campinas – incluindo a gravação do áudio – , revisei a obra de Dobson, Aprenda o Grego do Novo Testamento, digitei todo texto grego da obra Comentário de Mateus e Marcos, de A.T. Robertson, e digitei, transliterei e revisei todo Dicionário Grego de Strong e, agora, estou fazendo o mesmo no Comentário de Marvin Vincent, todas obras com o selo da CPAD. Apesar desse árduo trabalho, costumo ouvir aqui e acolá indiretas e provocações de blogueiros criticando-me, nalgumas vezes, debochando, de meu interesse pela língua com a qual o Novo Testamento foi escrito.
Esse sentimento e atitude de não buscar atenção demasiada para si é uma das razões pelas quais não costumo divulgar minha agenda e convites pelo Brasil, e muito menos fazer alarde a respeito dos prêmios e reconhecimentos adquiridos pelo fruto de nosso trabalho. Quando sou perguntado a respeito do motivo pelo qual não divulgo minha agenda em meu blog, informo àqueles que de boa vontade me perguntam, que temo ser tido como arrogante, “palestrante do momento”, “preletor requisitadíssimo” ou ainda não ser bem interpretado.

Entendo que
 muitos desejam ter conhecimento de nossa agenda para nos conhecer pessoalmente, nos seminários que ministramos pelo país. Todavia, considero que a pessoa que assim deseja saberá o local em que estarei pelo fato de a própria instituição teológica ou eclesiástica divulgar o evento. Sei que muitos divulgam a badalada agenda como estratégia de marketing pessoal, entretanto, mantendo-me fiel aos princípios ministeriais que fui formado, recuso esse expediente.

Lembro-me muito bem dos ensinos e atitude humilde do Pastor Claudionor de Andrade, em minha opinião, um dos maiores eruditos das Assembleias de Deus. Tenho aprendido muito com esse homem santo. Certa feita, ele recebeu um convite da igreja da Turquia para ministrar um seminário naquele país. Pensei que o Pr. Claudionor aceitaria imediatamente a oportunidade de ministrar no local das Sete Igrejas da Ásia, no entanto, com a mansidão e doçura que são próprias à sua personalidade e formação, recusou educadamente. Esse homem de Deus teme os holofotes terrenais. Nunca cantou os seus feitos e jamais declamou suas realizações, mas em todo tempo, como o imortal Homero, entoa as vitórias de seus amigos, sem qualquer ressentimento.

Tais atitudes me incentivam a seguir sem alarde no Reino de Deus. Apenas para ilustrar, poucas pessoas sabem que fui convidado três vezes para palestrar na Vinacc (Visão Nacional para Consciência Cristã), mas rejeitei por motivos estritamente familiares, isto é, pelo simples fato de escolher ficar com minha esposa e dois filhos. Respeito os meus amigos que divulgam com boas intenções suas agendas, mas escolhi não usar esse recurso, seja por estratégia, seja por falta dela.
Essa postura ministerial e de vida, no entanto, traz rupturas. As regras que procuro seguir são oito. A primeira delas é não se unir a pessoas que buscam fama e sucesso ministerial a todo e qualquer custo, nem que para isso tenham que infamar publicamente os supostos concorrentes. A segunda é não aceitar todo convite para não sacrificar a família, o trabalho, e o estudo acadêmico. A terceira é não fazer do ministério um “pé de meia” para o futuro, quando tudo o mais der errado. A quarta é não buscar o sucesso, a fama e honra para si, fazendo da piedade uma autoafirmação da minha personalidade e talentos naturais. A quinta é jamais usar a simplicidade e acriticidade do povo de Deus como esteio para popularidade e sucesso pessoal. A sexta é não ficar teologicamente em cima do muro para agradar gregos e troianos, mas expressar o que a Bíblia diz sem vacilação. A sétima é não usar a linguagem da piedade e teologal para incensar os próprios feitos. A oitava é ser amigo daqueles que compartilham da mesma visão.

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