sexta-feira, 2 de setembro de 2011

IGREJA FUNCIONA DENTRO DE BOATE NA RUA AUGUSTA EM SP

   
Rua Augusta, 486. Às 3h de um sábado, dezenas de pessoas se aglomeram em frente ao Clube Outs, uma das muitas casas noturnas da região.
Para entrar, é preciso enfrentar seguranças engravatados e desembolsar R$ 20. Lá dentro, flanelados, tatuados e emos dançam hits da música pop dos anos 1980 e 90. 
No dia seguinte, por volta das 18h, a casa continua a mil. Mas as portas estão abertas a qualquer um. Sob a luz de holofotes, uma banda anima um público jovem. Num telão, letras de músicas sobre louvor e compaixão. No bar, as garrafas de Smirnoff e Heineken permanecem intocadas.
O show termina, e Junior Souza, 37, surge. Veste uma camiseta preta estampada com o símbolo matemático que representa o "diferente", tem o antebraço tatuado e brinco na orelha.

Dá alguns avisos, indica o lugar onde fica a caixinha de contribuições e anuncia pelo microfone: "Agora a gente vai fazer um intervalo e já continua o culto, beleza?".

A pausa serve para que os fiéis da Capital Augusta possam trocar ideias. A Capital, como os habitués a ela se referem, é uma igreja protestante, fundada em 2009 pelo pastor Junior. 

O grupo inicial era formado por músicos, designers e gente que "já vivia a vida da Augusta", segundo o pastor, que é professor de inglês e dá aulas na Faculdade Teológica Metodista Livre.

Quando o intervalo termina, Junior, de frente para um laptop, começa a ler um versículo da Bíblia. Carismático, ele às vezes quebra a leitura e traduz um trecho sagrado para uma fala informal.

A maioria dos presentes ainda não chegou aos 30 anos. São jovens antenados, que compartilham sua fé no Facebook e no Twitter. No site da igreja, são disponibilizados podcasts religiosos.

Dono de um corpo tatuado, o skatista e publicitário Bidu Oliveira, 20, diz que sofreu preconceito em outras igrejas e ali encontrou uma comunidade. "O foco aqui é Jesus", justifica.

 Assistam o vídeo aí gente!


A Capital permite a ingestão de bebidas alcoólicas, desde que com moderação. Sexo, melhor dentro do casamento. "O projeto ideal é a castidade, mas, se não é essa a sua realidade, vamos seguir o caminho da reparação", aponta o pastor. Gays são bem-vindos. "Na Augusta, é natural que eles frequentem. Nosso slogan é: 'Proibido Pessoas Perfeitas'."

Além do culto no Outs, há reuniões semanais nas casas dos integrantes. "Ali dividimos as alegrias e frustrações da vida em SP", diz Junior, um paranaense de Assis Chateaubriand.

Antes de chegar à capital, ele era ligado, no interior, a uma igreja Vineyard, associação criada na Califórnia dos anos 1970. Não gosta de ser chamado de evangélico. "Tenho vergonha do que esse termo se tornou no Brasil", confessa.

Culto da Capital Augusta, igreja que reúne cristãos protestantes aos domingos no Clube Outs, na rua Augusta
O aluguel do imóvel na Augusta é bancado por 12 pessoas da liderança da Capital. O dinheiro das doações, segundo o pastor, vai para missões religiosas e outras instituições. 

Valentim Van der Meer, promoter da boate, diz que aceitou alugar o espaço por simpatizar com a igreja. "É o mesmo público que frequenta o Outs na balada."

Por volta das 21h, o culto termina ao som de Metallica. Por uma coincidência irônica que só uma rua tão augusta pode permitir, a poucos metros dali, no número 501, fica o Inferno Club. "É legal ter uma igreja na porta do inferno, mas, infelizmente, ele não está acessível. Eles cobram o dobro do aluguel daqui", diz o pastor, rindo.


 Fonte: Folhaonline 20/08/11


O NOVO RETRATO DA FÉ NO BRASIL


Acaba de nascer no País uma nova categoria religiosa, a dos evangélicos não praticantes. São os fiéis que creem, mas não pertencem a nenhuma denominação. O surgimento dela já era aguardado, uma vez que os católicos, ainda maioria, perdem espaço a cada ano para o conglomerado formado por protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Sendo assim, é cada vez maior o número de brasileiros que nascem em berço evangélico – e, como muitos católicos, não praticam sua fé. Dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram, na semana passada, que evangélicos de origem que não mantêm vínculos com a crença saltaram, em seis anos, de insignificantes 0,7% para 2,9%. Em números absolutos, são quatro milhões de brasileiros a mais nessa condição. Essa é uma das constatações que estatísticos e pesquisadores estão produzindo recentemente, às quais ISTOÉ teve acesso, formando um novo panorama religioso no País.

Isso só é possível porque o universo espiritual está tomado por gente que constrói a sua fé sem seguir a cartilha de uma denominação. Se outrora o padre ou o pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. Assim, muitas vezes, os fiéis interpretam a sua trajetória e o mundo que os cerca de uma maneira pessoal, sem se valer da orientação religiosa. Esse fenômeno, conhecido como secularização, revelou o enfraquecimento da transmissão das tradições, implicou a proliferação de igrejas e fez nascer a migração religiosa, uma prática presente até mesmo entre os que se dizem sem religião (ateus, agnósticos e os que creem em algo, mas não participam de nenhum grupo religioso). É muito provável, portanto, que os evangélicos pesquisados pelo IBGE que se disseram desvinculados da sua instituição estejam, como muitos brasileiros, experimentando outras crenças.

É cada vez maior a circulação de um fiel por diferentes denominações – ao mesmo tempo que decresce a lealdade a uma única instituição religiosa. Em 2006, um levantamento feito pelo Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais (Ceris) e organizado pela especialista em sociologia da religião Sílvia Fernandes, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), verificou que cerca de um quarto dos 2.870 entrevistados já havia trocado de crença. Outro estudo, do ano passado, produzido pela professora Sandra Duarte de Souza, de ciências sociais e religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), para seu trabalho de pós-doutorado na Universidade de Campinas (Unicamp), revelou que 53% das pessoas (o universo pesquisado foi de 433 evangélicos) já haviam participado de outros grupos religiosos.

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ALÁ
Nogueira, muçulmano há um ano: no Rio, os convertidos
saltaram de 15% da comunidade para 85% em 12 anos

“Os indivíduos estão numa fase de experimentação do religioso, seja ele institucionalizado ou não, e, nesse sentido, o desafio das igrejas estabelecidas é maior porque a pessoa pode escolher uma religião hoje e outra amanhã”, afirma Sílvia, da UFRRJ. “Os vínculos são mais frouxos, o que exige das instituições maior oferta de sentido para o fiel aderir a elas e permanecer. É tempo de mobilidade religiosa e pouca permanência.” Transitar por diferentes crenças é algo que já ocorre há algum tempo. A intensificação dessa prática, porém, tem produzido novos retratos. Denominadores comuns do mapa da circulação da fé pregam que católicos se tornam evangélicos ou espíritas, assim como pentecostais e neopentecostais recebem fiéis de religiões afro-brasileiras e do protestantismo histórico. Estudos recentes revelam também que o caminho contrário a essas peregrinações já é uma realidade.

Em sua dissertação de mestrado sobre as motivações de gênero para o trânsito de pentecostais para igrejas metodistas, defendida na Umesp, a psicóloga Patrícia Cristina da Silva Souza Alves verificou, depois de entrevistar 193 protestantes históricos, que 16,5% eram oriundos de igrejas pentecostais. Essa proporção era de 0,6% (27 vezes menor) em 1998, como consta no artigo “Trânsito religioso no Brasil”, produzido pelos pesquisadores Paula Montero e Ronaldo de Almeida, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Para Patrícia, o momento econômico do Brasil, que registra baixos índices de desemprego e ascensão socioeconômica da população, reduz a necessidade da bênção material, um dos principais chamarizes de uma parcela do pentecostalismo. “Por outro lado, desperta o olhar para valores inerentes ao cristianismo, como a ética e a moral cristã, bastante difundidas entre os protestantes históricos”, afirma.

Em busca desses valores, o serralheiro paraibano Marcos Aurélio Barbosa, 37 anos, passou a frequentar a Igreja Metodista há um ano e meio. Segundo ele, nela o culto é ofertado a Deus e não aos fiéis, como acontecia na pentecostal Assembleia de Deus, a instituição da qual Barbosa foi devoto por 16 anos, sendo sete como presbítero. O serralheiro cumpria à risca os rígidos usos e costumes impostos pela denominação. “Eu não vestia bermuda nem dormia sem camisa, não tinha tevê em casa, não bebia vinho, não ia ao cinema nem à praia porque era pecado”, conta. Com o tempo, o paraibano passou a questionar essas proibições e acabou migrando. “Na Metodista encontrei um Deus que perdoa, não um justiceiro.”

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AMÉM
É cada vez mais comum ex-pentecostais, como o atual metodista Barbosa,
que foi pastor da Assembleia de Deus (acima), aderirem às protestantes históricas


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A teóloga Lídia Maria de Lima irá defender até o final do ano uma dissertação de mestrado sobre o trânsito de evangélicos para religiões afro-brasileiras. A pesquisadora já entrevistou 60 umbandistas e candomblecistas e verificou que 35% deles eram evangélicos antes de entrar para os cultos afros. Preterir as denominações cristãs por religiões de origem africana é outro tipo de migração até então pouco comum. Não é, porém, uma movimentação tão traumática, uma vez que o currículo religioso dos ex-evangélicos convertidos à umbanda ou ao candomblé revela, quase sempre, passagens por grupos de matriz africana em algum momento de suas vidas. Pai de santo há dois anos, o contador Silvio Garcia, 52 anos, tem a ficha religiosa marcada por cinco denominações distintas – e a umbanda é uma delas. Foi aos 14 anos, frequentando reuniões na casa de uma vizinha, que Garcia, batizado na Igreja Católica, aprendeu as magias da umbanda. Nessa época, também era assíduo frequentador de centros espíritas. Aos 30, ele passou a cursar uma faculdade de teologia cristã e, com o diploma a tiracolo, tornou-se presbítero de uma igreja protestante. Um ano depois, migrou para uma pentecostal, onde pastoreou fiéis por seis anos. “Mas essas igrejas comercializam a figura de Cristo e eu não me sentia feliz com a minha fé”, diz.

A teóloga Lídia sugere que os sistemas simbólicos das religiões evangélica e afro-brasileira têm favorecido a circulação de fiéis da primeira para a segunda. “Há uma singularidade de ritos, como o fenômeno do transe. Um dos entrevistados me disse que muito do que presenciava na Igreja Universal (do Reino de Deus) ele encontrou na umbanda”, diz. Em suas pesquisas, fiéis do sexo feminino foram as que mais cometeram infidelidade religiosa (67%). Os motivos que levam homens e mulheres a migrar de religião (leia quadro à pág. 60) foram investigados pela professora Sandra, da Umesp. Em outubro, suas conclusões serão publicadas em “Filosofia do Gênero em Face da Teologia: Espelho do Passado e do Presente em Perspectiva do Amanhã” (Editora Champanhat).

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SALVAÇÃO
Homens pensam em si quando buscam uma nova crença:
Higuti, pastor da Bola de Neve, queria se livrar das drogas

Uma diferença básica entre os sexos é que as mulheres mudam de religião em busca de graça para quem está a sua volta (a cura para filhos e maridos doentes ou a recuperação do casamento, por exemplo). Já os homens são motivados por problemas de fundo individual. Assim ocorreu com o empresário paulista Roberto Higuti, 45 anos, que se tornou evangélico para afastar o consumo e o tráfico de drogas de sua vida. Católico na infância, budista e adepto da Igreja Messiânica e da Seicho-No-Ie na adolescência, Higuti saiu de casa aos 15 anos e se tornou um fiel seguidor do mundo do crime. Sua relação com as drogas foi pontuada por internação em hospital psiquiátrico, prisão e duas tentativas de suicídio. Certo dia, cansado da falta de perspectivas, viu uma marca de cruz na parede, ajoelhou-se e disse: “Jesus, se tu existes mesmo, me tira dessa vida maldita.” Há cinco anos, o empresário é pastor da neopentecostal Igreja Bola de Neve, onde ministra dois cultos por semana. “Quero, agora, ganhar almas para o Senhor”, diz.

Antes de se fixar na Bola de Neve, Higuti experimentou outras quatro denominações evangélicas. Mobilidades intraevangélicas como as dele ocorrem com aproximadamente 40% dos adeptos de igrejas pentecostais e neopentecostais, segundo a especialista em sociologia da religião Sílvia, da UFRRJ. Os neopentecostais, porém, possuem uma particularidade. Seus fiéis trocam de igreja como quem descarta uma roupa velha: porque ela não serve mais. São a homogeneização da oferta religiosa e a maior visibilidade de algumas denominações que produzem esse efeito. “Esse grupo, antigamente, era o tal receptor universal de fiéis, para onde iam todas as religiões. Hoje, a singularidade dele é o fato de receber membros de outras neopentecostais”, diz Sandra, da Umesp. “Quanto mais acirrada a concorrência, maior a migração.” A exposição na mídia, fundamentalmente na tevê, é a principal estratégia dos neopentecostais para roubar adeptos da concorrente direta. E cada vez mais as pessoas estabelecem uma relação utilitária com a religião. De acordo com a pesquisadora Sandra, se não há o retorno (material, na maioria das vezes), o fiel procura outra prestadora de serviço religioso. Estima-se, por exemplo, que 70% dos atuais adeptos da Igreja Mundial – uma dissidente da Universal – tenham migrado para lá vindos da denominação de Edir Macedo. “Entre os neopentecostais não se busca mais um líder religioso, mas um mago que resolva tudo num estalar de dedos”, diz Sandra. “Essa magia faz sucesso, mas tem vida curta, uma vez que o fiel se afasta, caso não encontre logo o que quer.”

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SEM LAÇOS
Lucina não segue nenhum credo, mas quando quer alcançar uma graça
procura algum serviço religioso: 30% fazem o mesmo anualmente

Cansada de pular de uma crença para outra, a artesã paulista Lucina Alves, 57 anos, não sente mais necessidade de pertencer a uma igreja. Há oito anos, ela diz ser do grupo dos sem-religião. No entanto, recorre a ritos de fé, principalmente católicos, espíritas e da Seicho-No-Ie, sempre que sente vontade de zelar pelo bem-estar de alguém. “Há um mês, fui até uma benzedeira ligada ao espiritismo para ajudar meu filho que passava por problemas conjugais”, diz. Dados do artigo “Trânsito religioso no Brasil” revelaram que 30,7% das pessoas que se encontram na categoria dos sem-religião frequentam algum serviço religioso anualmente e 20,3% fazem o mesmo mais de uma vez por mês. “Já participei de reuniões evangélicas de orações em casa de familiares”, conta Lucina.

A artesã não cultua santos, crê em Deus, Jesus Cristo e acende vela para anjos. No campo das ciências da religião, manifestações espirituais como as dela são recentes e vêm sendo tema de novos estudos. A migração de brasileiros para o islã é outro fenômeno que cresce no País. O número de convertidos na comunidade muçulmana do Rio de Janeiro, por exemplo, saltou de 15% em 1997 para 85% em 2009. Ex-umbandista que hoje atende por Ahmad Abdul-Haqq, o policial militar paulista Mario Alves da Silva Filho tem um inventário religioso de dar inveja. Batizado no catolicismo, aos 9 anos estreou na umbanda em uma gira de caboclo e baianos. Um ano depois, juntando moedas que ganhava dos pais, comprou seu primeiro livro, sobre bruxaria. Aos 14, passou a frequentar a Federação Espírita paulista, onde fez cursos para trabalhar com incorporações e psicografia. Aos 17 anos, trabalhou em ordens esotéricas ao mesmo tempo que dava expediente na umbanda. O policial, mestrando em sociologia da religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), decidiu se converter ao islã quando fazia um retiro de padres jesuítas. Em uma noite, sonhou com um árabe que o indicava o islã como resposta para suas dúvidas. Aos 29 anos, ele entrou em uma mesquita e disse que queria ser muçulmano. Saiu dela batizado e, desde então, faz cinco orações e repete frases do “Alcorão” diariamente. “Descobri que sou uma criatura de Deus e voltarei ao seio do Criador.”

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MECA
Migração atípica: o policial Filho, de currículo
religioso extenso, trocou  a umbanda pelo islã

Faz dez anos que o número de convertidos ao islã no País aumentou. E não são os atentados às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, que marcam esse novo fluxo, mas a novela “O Clone”, da Globo. Foi ela que “introduziu no imaginário cultural brasileiro imagens bastante positivas dos muçulmanos como pessoas alegres e devotadas à família”, como defende Paulo Hilu da Rocha Pinto em “Islã: Religião e Civilização – Uma Abordagem Antropológica” (Editora Santuário), de 2010. “De lá para cá, a conversão de brasileiros cresceu 25%. Em Salvador, 70% da comunidade é de convertidos”, diz a antropóloga Francirosy Ferreira, pesquisadora de comunidades muçulmanas da Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto.

Assistente financeiro, o paulista Luan Nogueira, 23 anos, tornou-se muçulmano há um ano. Por indicação de um amigo, passou a pesquisar o islã e descobriu que o discurso estigmatizado criado após o 11 de setembro, que relacionava a religião à intolerância e à violência, não era verdadeiro. “Encontrei na mesquita e no “Alcorão” a ética da boa conduta”, diz. “Me sinto mais próximo de Deus no islã.” Para o professor Frank Usarski, do Centro de Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental, da PUC-SP, o atrativo do islã é o fato de não ter perdido, diferentemente de outras religiões, a competência da interpretação completa da vida. “Ele oferece um guarda-chuva de referências para esferas como economia e ciência”, diz Usarski.

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ORIXÁS
Ex-liderança evangélica, Garcia largou os cultos cristãos (abaixo) para se tornar pai de santo



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Segundo o escritor Pinto, que também é professor de antropologia da religião na Universidade Federal Fluminense, o islã permite aos adeptos uma inserção e compreensão sobre questões atuais, como, por exemplo, a Palestina, a Guerra do Iraque e segurança internacional, para as quais outros sistemas religiosos talvez não deem respostas. “Se a adoção do cristianismo em contextos não europeus do século XIX pôde ser definida com uma conversão à modernidade, a entrada de brasileiros no islã pode ser vista como uma conversão à globalização”, escreve ele, em seu livro.

É cada vez mais comum, no País, fiéis rezando com a cartilha da autonomia religiosa. Esse chega para lá na fé institucionalizada tem conferido características mutantes na relação do brasileiro com o sagrado, defende a professora Sandra, de ciências sociais e religião da Umesp. “Deus é constituído de multiplicidade simbólica, é híbrido, pouco ortodoxo, redesenhado a lápis, cujos contornos podem ser apagados e refeitos de acordo com a novidade da próxima experiência.” Agora é o fiel quem quer empunhar a escrita de sua própria fé. 


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FONTE: ISTOÉ

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

CONHEÇA ALGUNS NEGOCIOS DO MERCADO EVANGELICO BRASILEIRO


Conheça alguns dos principais negócios ligados ao mercado evangélico
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Conheça alguns dos principais negócios ligados ao mercado evangélico
BBC Brasil
"Galeria na rua Conde de Sarzedas (Foto: BBC)"
Mercado bilionário crescente, mas ainda pouco estudado, o segmento de produtos cristãos movimenta estimados R$ 12 bilhões por ano no Brasil, segundo cálculos de Mário René, professor de Ciências do Consumo Aplicadas na ESPM e doutor em teologia prática.
Grande parte desses negócios é destinada principalmente aos evangélicos, que crescem em número e em importância econômica no país.
Em paralelo, algumas igrejas evangélicas adquirem espaços milionários na grade de TV aberta brasileira e tomam parte em empreitadas que vão desde a construção de grandes templos até participação em empresas de engenharia e de telecomunicações.
Conheça abaixo alguns dos elementos que compõem esse mercado:
Templo de Salomão
Um terreno de 28 mil metros quadrados - área superior à do Parque Buenos Aires, em São Paulo - vai abrigar o Templo de Salomão, a maior construção da Igreja Universal do Reino de Deus.
Trata-se de uma reprodução de um histórico templo israelense, que está em fase inicial de construção na avenida Celso Garcia, no Brás (Zona Leste de São Paulo). Terá, segundo material de divulgação da própria Iurd, altura equivalente a um prédio de 18 andares, poderá abrigar até 10 mil pessoas sentadas e custará entre R$ 300 milhões e R$ 350 milhões.
O recurso virá de fiéis e 'admiradores' do projeto, também de acordo com a Igreja Universal.
Telecomunicações e mídia
Imagem digital de como será o Templo de Salomão
BBC Brasil
"Imagem digital de como será o Templo de Salomão"
Igrejas e pastores evangélicos detêm dezenas de concessões de emissoras e rádios de TV, além de participação na mídia impressa - um exemplo é a Folha Universal, jornal semanal da Iurd com tiragem declarada de 2,3 milhões de exemplares.
Mas o mais proeminente negócio midiático relacionado aos evangélicos é a Rede Record, controlada desde 1989 por Edir Macedo, fundador da Universal.
Embora tanto a igreja como o grupo midiático sejam do mesmo dono, a Record diz que não sofre interferências da igreja, que é considerada apenas 'um cliente' pela emissora.
As evangélicas também adquirem cerca de 130 horas semanais nas grades de algumas das principais emissoras de TV abertas do país - RedeTV!, Record, Band e Gazeta.
Relatos na imprensa dão conta de que o SBT negocia a venda de seu horário da madrugada para a Igreja Mundial; a assessoria da emissora diz que não há nada confirmado.
Produtos de consumo
A Assembleia de Deus oferece dois tipos de cartão de crédito, o Missionário e o Gold, este último dono de um perfil próprio no Twitter. A Igreja Internacional da Graça de Deus lançou o seu cartão de crédito Igreja da Graça. São exemplos de produtos destinados especialmente para o público evangélico.
A empresa Z3, do interior de São Paulo, se especializou em atender esse público, com livros e jogos infantis com histórias religiosas. 'Nossa rede tem crescido, então acredito na expansão desse mercado', diz Kátia Vieira, funcionária da Z3. 'Todos os dias recebemos clientes novos, quase exclusivamente do público evangélico. Estão sempre à procura de coisas novas.'
Loja Z3, na Conde de Sarzedas
BBC Brasil
"Loja Z3, na Conde de Sarzedas"
Rua especializada
Uma pequena ladeira no Centro de São Paulo se tornou um ponto de encontro de consumidores e fornecedores de produtos cristãos. A rua Conde de Sarzedas tem dezenas de lojas especializadas, que oferecem de bíblias e CDs a jogos infantis, óleos de unção, produtos com frases que remetem a Deus e pacotes de viagem.
É ali que a cantora Mara Maravilha mantém uma loja, que vende seus CDs e DVDs de música gospel. No andar de cima da mesma galeria, funciona a Terra Santa Viagens, que fecha cerca de uma caravana por mês (com cerca de 50 pessoas) para turismo em cidades como Jerusalém, em Israel, e Belém, na Cisjordânia.
'A procura tem sido constante', diz Fernanda, uma das funcionárias. O principal público, ela acrescenta, é o evangélico.
Feiras setoriais
O empresário Eduardo Berzin Filho trabalha há 15 anos para o público evangélico, com a produção de revistas, sites e programas de TV. Há dez anos, lançou a ExpoCristã, que levou, segundo ele, 160 mil visitantes em 2010 ao centro de eventos do Anhembi, em São Paulo.
O evento reuniu atrações da música gospel, exposição de arte cristã e a venda de livros, produtos especializados e mobiliário para templos. A edição de 2011 da ExpoCristã está marcada para setembro.
ExpoCristo, em Curitiba (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
BBC Brasil
"ExpoCristo, em Curitiba (Foto: Divulgação)"
Evento semelhante é realizado há sete anos em Curitiba por Jôfran Alves, que com sua esposa criou a ExpoCristo. A edição mais recente ocorreu em julho, também com atrações musicais, editoras, gravadoras, e até empresas que prestam serviço de segurança para templos. A ideia é atender bem a um 'público que consome de tudo', como o cristão, segundo Alves.
Mercados fonográfico e editorial
Há poucos dados disponíveis sobre os segmentos de livros evangélicos e de música gospel, mas há indícios de crescimento e alta no consumo.
A Câmara Brasileira do Livro (CBL) diz que a produção de livros religiosos cresceu 39,2% em 2010 em comparação com número anterior, dado que inclui livros católicos - o crescimento, inclusive, foi puxado por um livro do padre Marcelo Rossi.
A CBL não tem dados específicos sobre o mercado editorial evangélico, mas percebe crescimento.
'Nossa percepção é de que o público evangélico tem grande participação, e é crescente', diz à BBC Karine Pansa, presidente da Câmara. 'Isso se dá pela cultura de ter uma bíblia para cada pessoa, de ter bíblias específicas, e pela vontade que esse público tem de aprender.'
Sobre o mercado fonográfico gospel, a Associação Brasileira de Produtores de Discos diz não ter dados específicos, mas alguns dados confirmam a força do segmento.
Bíblias na rua Conde de Sarzedas
BBC Brasil
"Bíblias na rua Conde de Sarzedas"
Aline Barros, uma das mais conhecidas cantoras gospel, contabiliza 3,6 milhões de acessos em seu canal no YouTube. Damares, outro nome famoso desse mercado, vendeu 170 mil cópias de seu último CD e recebeu discos de ouro e platina. André Valadão tem nove CDs e cinco DVDs gravados em sete anos de carreira solo.
Serviços de apoio
Para amparar a construção de templos e sua gestão, foram criadas empresas e entidades que prestam serviços especializados.
Algumas têm elos com as próprias igrejas - caso do Engiurd, o Departamento de Engenharia da Igreja Universal do Reino de Deus, criado para 'otimizar recursos em nossos processos de construção, reforma e manutenção de templos', segundo o site da empresa.
Outras entidades prestam serviços para diferentes congregações. É o caso da Sepal (Servindo aos Pastores e Líderes), que ensina técnicas de liderança e gestão de negócios para pastores e líderes religiosos e comunitários, além de realizar pesquisas para identificar regiões 'com necessidades missionárias e sociais' que podem ser atendidas por congregações.
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