terça-feira, 11 de outubro de 2011

FILOSOFIA DE HEGEL e a realidade nas igrejas é similar


    Hegel é sem dúvida um dos maiores filósofos do século XIX. Dessa forma, parece-me relevante estudar sobre sua vida e obra. É legítimo dizer que, em alguns momentos pode-se pensar na relevância de tal estudo, visto que, num ambiente acadêmico teológico temos certa resistência, e diria até de preconceito quanto ao estudo de filósofos que marcaram a história com seus pensamentos.
O conceito de irrelevância acerca deste estudo começa a mudar quando entendemos sua linha de pensamento, e vemos que muitos cristãos, ou até igrejas têm assumido esta filosofia, mesmo que inconscientemente ou por ignorância. Sendo assim, creio que cada cristão é uma cabeça pensante que pode se informar daquilo que está acontecendo em sua realidade eclesiástica, podendo fazer uma crítica embasada no conhecimento histórico de tendências filosóficas.
Nossa responsabilidade como cristãos é de, a partir do momento que somos resgatados pelo nosso único e suficiente Salvador Jesus Cristo, devemos ser bons críticos e pensadores da sociedade, pois como diz o título de  uma obra literária: “Crer é também pensar”.

Georg Wilhelm Hegel (1770-1831), nasceu em Stuttgart. Estudou teologia e filosofia. Em 1793 conseguiu a laurea acadêmica em teologia. Em 1801 foi nomeado professor da Universidade de Iena, onde primeiramente foi amigo e mais tarde adversário de Schelling.  Lecionou também nas Universidades de Heidelberg e Berlim, nesta última ficou até falecer. Na Universidade de Berlim adquiriu grande renome e exerceu grande influência.
As principais obras de Hegel são: a Fenomenologia do Espírito; a Lógica; a Enciclopédia das Ciências Filosóficas; a Filosofia do Direito. Hegel é definido por alguns escritores como “...um gênio poderoso; sua cultura foi vastíssima, bem como sua capacidade sistemática, tanto assim que se pode considerar o Aristóteles e o Tomás de Aquino do pensamento contemporâneo.[1]
Assim como vêm os elogios, as críticas vêm com igual naturalidade. Diz-se que Hegel “... frequentemente deforma os fatos para enquadrá-los no seu esquema lógico do seu sistema racionalista-dialético, bem como altera este por interêsses práticos e políticos.[2]
Sua obra pode ser considerada fortemente sistemática, procurando dar conta dos múltiplos aspectos do saber humano em busca da verdade e em direção ao absoluto, o que constitui em última análise sua finalidade. Hegel morreu em 14 de novembro de 1831 de cólera. Pode ser considerado o filósofo alemão de maior influência no século XIX.
Hegel já de início coloca-se contra a tradição racionalista, principalmente Kant, pois considera a filosofia deste muito formalista e tinha uma ênfase muito grande no ideal científico de desenvolvimento. MARCONDES comenta que Hegel “Ao mesmo tempo rejeita a alternativa dos românticos, que considera irracionalista devido à sua inspiração na intuição e nos sentimentos[3]”.
Como já falamos no início, Hegel procura formular um sistema rigorosamente científico que aproveite todos os dados inegavelmente adquiridos pelas ciências, organizando-os de modo a tirar deles a história universal do Espirito Absoluto. Em sua obra “Fenomenologia do Espírito”, Hegel se propõe a examinar  as várias manifestações do espírito e como elas vieram se realizando no curso da história da humanidade.
O princípio de identidade do ideal e do real afirma que tudo o que é racional é real e tudo o que é real é racional. Pode-se incluir as leis da mente e da lógica como leis da realidade, pois lógica e metafísica são a mesma coisa.
O princípio da contradição diz que na realidade não existe nada que seja idêntico a si mesmo, mas que tudo está sujeito à dialética da afirmação e da negação.
O princípio ontológico, que é o princípio absoluto. Nele se realiza perfeitamente o princípio ideal e o princípio da contradição. O absoluto é a “universalidade concreta, a qual compreende todos os modos e aspectos nos quais ele é e se torna objeto de si; em virtude do princípio de contradição, a realidade do absoluto consiste em um contínuo devir. O seu ser é o seu devir.”[4]
O princípio da mediação é aquele que afirma que o absoluto não se manifesta imediatamente, mas mediatamente. Conforme Hegel afirma, ele não se apresenta imediatamente, completamente, mas só através de realizações parciais ou progressivas.
O princípio da relação afirma que, se uma coisa não pode ser idêntica a si mesma mas é simultaneamente o seu oposto, existe uma relação entre os dois momentos, positivo e negativo.
O princípio do historicismo afirma que toda realidade se resolve na história, dessa forma, não existe realidade fora ou acima da história. Sendo assim, a história e o absoluto são a mesma coisa. A história é do absoluto que se manifesta a si mesmo.
O único método adequado para o estudo de uma realidade em perpétuo devir é o método da lógica especulativa ou dialética. Os diálogos de Platão constituem o exemplo e a prova da validade desse método: um personagem afirma uma teoria, o outro nega e assim se desenvolve a doutrina a respeito da qual os interlocutores terminam concordando. Em outras palavras, existe uma tese, uma antítese das quais se chega a uma síntese.
O absoluto se desenvolve antes de tudo numa tríade dialética fundamental: a idéia em si, a idéia fora de si e a idéia em si e para si. No interior de cada momento dessa tríade, se desenvolve uma nova tríade (tese, antítese e síntese) e em cada elemento dessa segunda tríade surge uma nova tríade e assim sucessivamente até o infinito, pois a realidade está sujeita ao princípio de contradição.
O pensamento de Hegel enfatiza o conhecimento da ciência e o espírito absoluto. Seu sistema pareceu ser bem montado, entretanto, com algumas contradições. Torna-se inviável entender o método, pois ele mesmo afirma que para casa tese, surge uma antítese, chegando a uma síntese depois de alguma discussão, e isso acontecendo infinitamente. Dentro desse método vemos se o método hegeliano passa por este processo, logo ele já se tornou ultrapassado.
Creio que estamos vivendo numa sociedade que tem muito do método hegeliano, já que este sempre está chegando a uma síntese distinta, é possível dizer que não há absolutos. Este tipo de atitude podemos notar na sociedade brasileira, onde o mais importante é  que o indivíduo seja feliz, e que como as pessoas dizem: “É importante chegarmos, a um equilíbrio, onde a situação seja favorável para ambas as partes”.
Infelizmente, a realidade nas igrejas é similar. Estamos ainda alguns degraus acima dos padrões mundanos, mas ao que parece, estamos seguindo a passos largos para sermos “conformados” com o mundo. E isso vem acontecendo com o argumento de que devemos aceitar alguma situação pecaminosa por amor, deixar de pregar alguns temas para não confrontar irmãos, etc. Assim, a Palavra é pregada, mas não toda ela. Dessa forma, chegamos a uma síntese que agrada o líder e os membros do corpo. Visivelmente somos a tese, o mundo a antítese, só que por muitas vezes o povo de Deus quer uma síntese. Não nos conformemos com isso (Rm 12.2; 2Co 6.14-18).
MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein, 2ª ed. Riode Janeiro: JZE Editora, 2000.
MONDIN, Batista. Curso de Filosofia: os filósofos do Ocidente. São Paulo: Paulus, 1983.
PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. História da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1994.



[1] PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luis. História da Filosofia. São Paulo: Melhoramentos, 1994. p. 387.
[2] Ibid.  p. 387.
[3] MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein, 2ª ed. Rio de Janeiro: JZE Editora, 2000, p. 123.
[4] MONDIN, Batista. Curso de Filosofia: os filósofos do Ocidente. São Paulo: Paulus, 1983, p 38.

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