Ele usa a personagem para protestar e diz que a Bíblia não deve ser levada ao pé da letra
Um pastor de uma igreja inclusiva ganhou destaque na imprensa brasileira por se vestir de drag queen para protestar contra o preconceito.
Marcos Lord, da Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM) Betel, Irajá (Rio de Janeiro), se transformou na drag queen Luandha Perón e celebrou um culto vestido de mulher.
Com 26 anos de idade, Lord cresceu em uma igreja evangélica e conta que foi amaldiçoado por seu antigo pastor quando revelou que era homossexual. “Contei para o pastor da minha antiga igreja que era gay e ele praticamente me amaldiçoou”, disse ele ao jornal Extra.
A família também não aceitou a opção sexual de Marcos e ele foi expulso de casa. Foi na ICM que ele entendeu que poderia ser homossexual e servir a Deus.
Em entrevista ao jornal O Globo, Marcos fala que a Bíblia não pode ser levada ao pé da letra. “Se você for ler a Bíblia ao pé da letra, terá muitos problemas. Ela fala sobre escravidão, que você tem direito a ter um irmão escravo seu por sete anos. Ela diz que você não tem direito de comer carne de porco. Mas quem vai abrir mão de comer o seu presunto e o seu pernil?”, questiona.
Ele afirma também que todas as igrejas deveriam ser inclusivas comparando os Livros Sagrados com conselhos antigos dados por sua avó. “Eu não posso simplesmente pegar a Carta aos Romanos e lê-la como se ela tivesse sido escrita para os brasileiros do século XXI. A Carta aos Romanos foi escrita para os cristãos de Roma, daquele período histórico, do primeiro século. Então eu não posso achar que ela é válida para hoje. Mas eu posso tentar pegar alguns ensinamentos que estão ali e achar novos significados para os dias de hoje? Posso. Assim como pego os ensinamentos da minha avó e tento trazer para minha vida até hoje. Mas isso não quer dizer que eu não vá pedir manga com leite numa lanchonete porque ela disse uma vez, lá atrás, que faz mal.”
Ainda em entrevista ao O Globo, Marcos Lord relata que tentou de diversas maneiras se “libertar” do homossexualismo e que chegou até a fazer campanhas de oração na madrugada para vencer o “espírito maligno” que diziam estar dentro dele.
“Eu me lembro claramente de uma noite. Estava passando por aquele momento de crise existencial e de madrugada fazia poças de lágrimas, ajoelhado no chão, pedindo a Deus que me libertasse”, conta.
Foram sete noites de oração nas madrugadas até que ele entendeu que não iria adiantar. “Deus não tinha que me libertar, que não havia do que ser libertado”, acreditou Marcos que conheceu a ICM através de um amigo.
Apesar de ser aceito na igreja, ele relutou um pouco em fazer parte de uma igreja inclusiva. “u não queria uma igreja para gays. Eu queria uma igreja. Eu imaginava que ia ter uma drag queen dublando a Fernanda Brum e a Cassiane, e que na hora da pregação o pastor ia transformar todos os personagens da Bíblia em homossexuais. Mas fui, e eles estavam estudando a Bíblia, como eu estudava nas igrejas de onde vim. Percebi que era uma igreja como qualquer outra. Só que me aceitava como eu sou.”
A ICM foi fundada em 1968 nos Estados Unidos e liderada pelo pastor Troy Perry, que é homossexual, no Brasil a igreja está presente em diversas cidades brasileiras como Fortaleza, Maceió, Belo Horizonte e outras.
A personagem Luandha Perón faz uma homenagem à África e também ao Museu Evita, em Buenos Aires, mas objetivo da fantasia é político. Marcos Lord tem se vestido como drag queen para protestar contra o preconceito.
Para a reportagem do O Globo ele posou vestido de mulher ao lado de um banner onde se lê: “O Senhor é meu pastor… e Ele sabe que eu sou gay!”.