José Pedro de Freitas
José Pedro de Freitas (Fazenda do Fria, Congonhas,
18 de outubro de 1922 (ou 1921) — BR-040, 11 de janeiro de 1971) foi um médium brasileiro. Era conhecido como José Arigó ou simplesmente Zé Arigó.
Desenvolveu suas atividades paranormais em Congonhas durante cerca de vinte anos, tornando nacional e
internacionalmente conhecidas as cirurgias e curas realizadas
por intermédio de sua faculdade mediúnica, pela entidade (espírito)
que se denominava como Dr. Fritz, um médico alemão falecido em 1918,
durante a Primeira Guerra Mundial.
Biografia
Juventude
e matrimônio
Um dos oito filhos de um
sitiante, nasceu na Fazenda do Fria, a cerca de seis quilômetros
de Congonhas. Os poucos recursos da família apenas lhe asseguraram os estudos
até à terceira série do atual Ensino Fundamental, no Grupo
Escolar Barão de Congonhas.
Em 1936, aos quatorze anos de idade, ingressou na Companhia de Mineração de
Ferro e Carvão, (posteriormente denominada Ferteco Mineração S/A, e hoje
incorporada à CVRD), onde trabalhou até 1942. Neste
período ganhou o apelido que o acompanharia toda a vida: "Arigó".
Nomeado servidor do IAPTC, atual INSS, trabalhou na função pública até ao fim da vida.
Em 1946, então com vinte e cinco anos de idade, desposou Arlete André, sua prima
em 4º grau, época em que deixou a casa dos pais. Da união nasceram seis filhos:
José Tarcísio, Haroldo, Eri, Sidney, Leôncio Antônio e Leonardo José.
O início
do trabalho mediúnico
À medida que nasciam os filhos do
casal, por volta de 1950,
Arigó começou a apresentar fortes dores de cabeça, insônia,
percebendo visões (uma luz descrita como muito brilhante) e uma voz gutural
(em idioma que não compreendia) que o fizeram acreditar encontrar-se à beira da
loucura.
A situação perdurou por cerca de três anos, durante os quais visitou médicos e
especialistas, sem melhorias.
De acordo com seus biógrafos,
certo dia, em um sonho
nítido, a voz que o atormentava foi percebida por Arigó como pertencendo a um
personagem robusto e calvo, vestido com roupas antigas e um avental
branco, supervisionando uma equipe de médicos e enfermeiros em uma grande sala
cirúrgica, em torno de um paciente. Após o sonho ter se repetido por várias
vezes, o personagem apresentou-se como sendo Adolph Fritz, um médico
alemão desencarnado durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), sem que tivesse completado a sua obra na Terra. Embora não pudesse
compreender o idioma,
compreendeu a mensagem que o personagem lhe dirigia: Arigó fora escolhido como
médium pelo Dr. Fritz para realizar essa obra. Outros espíritos, de médicos e
de enfermeiros
desencarnados, os auxiliariam. Ainda de acordo com os seus biógrafos, Arigó
acordou desse sonho tão assustado que saiu correndo, nu, aos gritos, ganhando a
rua. Parentes e amigos trouxeram-no de volta ao lar, onde chorou
copiosamente. Procurados, os médicos procederam a exames clínicos e
psicológicos, sem encontrar nada de anormal, embora as dores de cabeça e os
pesadelos continuassem. Até mesmo o padre da cidade tentou auxiliar, efetuando algumas
sessões de exorcismo,
sem sucesso.
Desesperado, sem encontrar uma
saída, certo dia resolveu experimentar atender ao pedido do sonho: encontrando
um amigo, aleijado, obrigado ao uso de muletas para
andar, Arigó ordenou-lhe de súbito que largasse as muletas. E, arrancando-as
com as próprias mãos, ordenou em seguida ao amigo que caminhasse, o que ele
fez, continuando a fazê-lo desse dia em diante.
A partir de então, uma força que
Arigó reputava como "estranha", passou a utilizar-se de suas mãos
rudes, para manejar instrumentos também rudes, em delicados procedimentos
cirúrgicos, no atendimento a enfermos e aflitos.
O caso
do Senador
Entre os casos de personalidade
atendidas por Arigó por volta de 1950, relaciona-se o do Senador Carlos
Alberto Lúcio Bittencourt, então em campanha para reeleição por
Minas Gerais e para a eleição de Getúlio
Vargas para a presidência da República pelo PTB.
Diagnosticado como portador de câncer
nos pulmões,
os médicos haviam recomendado ao Senador a imediata cirurgia,
de preferência em hospital estadunidense, embora
com poucas esperanças. Optando por adiar a cirurgia para depois da campanha eleitoral, em visita
a Congonhas conheceu Arigó, que havia sido líder sindical. Impressionado com o
seu carisma, o Senador convidou Arigó para juntos irem a Belo
Horizonte para um comício. Aceito o convite,
ficaram hospedados juntos no mesmo hotel. Segundo o relato do Senador, já estando
recolhido ao leito em seu quarto, preocupado com a sua condição de saúde,
percebeu a porta que se abria, e um vulto, que parecia ser de Arigó, entrando e
acendendo a luz. Era realmente Arigó, como constatou, que se aproximava com uma
navalha
na mão. Assustado, o Senador tentou levantar-se mas sentiu-se dominado por uma
prostração que o fez cair, adormecido, sobre o leito. Na manhã seguinte, ao
acordar, constatou que o seu pijama estava cortado nas costas, sujo de sangue já
seco. O tumor
cancerígeno fora removido e, como confirmado mais tarde, o Senador
encontrava-se plenamente restabelecido.
A
prática mediúnica e a pesquisa científica
Apesar de possuir desenvolvida mediunidade,
Arigó possuía formação católica tradicional, e seu
nome, a rigor, não se associa formalmente nem ao Espiritualismo
nem ao Espiritismo.
Apesar da desaprovação da Igreja Católica (com quem, entretanto, não criou
inimizades) e das autoridades civis, Arigó fundou uma clínica à Rua Marechal
Floriano, em Congonhas, onde chegava a tratar, gratuitamente, até duzentas
pessoas por dia, oriundas da região e dos diversos Estados do país, da América
do Sul, da Europa e dos Estados Unidos da América. À
época, Congonhas chegou a estar ligada a Buenos
Aires (Argentina) e a Santiago
do Chile (Chile) por linha de ônibus direta e regular.
Entre as dificuldades de ordem
legal enfrentadas pelo médium, destaca-se o processo instaurado em 1956 pela
Associação Médica de Minas Gerais, sob a acusação de prática de curandeirismo,
e pelo qual foi condenado a quinze meses de prisão (1958);
entretanto, teve a sua pena reduzida à metade e não chegou a ser preso, uma vez
que recebeu indulto do então Presidente da República, Juscelino Kubitschek, cuja
filha também havia sido atendida pelo médium, sendo-lhe diagnosticados dois cálculos
renais. Anos mais tarde, responderia a novo processo, sendo
condenado a 18 de novembro de 1964[1]. Desta vez, tendo compreendido o que era um
indulto, recusou-o, sendo detido por sete meses em Conselheiro Lafaiete (MG), pelo exercício ilegal da medicina.
Continuou a prática mediúnica mesmo dentro dos muros do presídio, tendo
retornado a Congonhas com prestígio ainda maior[2].
Nessa época, o estadunidense Henri Belk,
fundador de uma fundação para pesquisa de fenômenos paranormais, acompanhado
por Andrija Puharich (ou Henry K. Puharich),
especialista em bioengenharia, deslocaram-se
até Congonhas, acompanhados por dois intérpretes da Universidade do Rio de
Janeiro e por Jorge Rizzini, conhecido
pesquisador espírita brasileiro, para iniciar uma pesquisa com Arigó (1963). Na ocasião, o Dr. Puahrich teve extraído um lipoma de
seu cotovelo
esquerdo, em um procedimento indolor que consumiu apenas cinco segundos,
executado com um canivete comum. A incisão de menos
de 5 centímetros,
com pouco sangue,
não inchou, conforme documentado nítidamente em filme (a
cores) por Rizzini, vindo a cicatrizar completamente, sem infecção.
Em 1968, dois
outros médicos estadunidenses chegaram a Congonhas para complementar as
pesquisas: os Drs. Laurence John
e P.
Aile Breveter, da William Benk Psychic Foundation. Mesmo sem ter alcançado uma explicação
conclusiva para o fenômeno, comprovaram que a prática do médium não comportava ilusionismo
ou feitiçaria,
declarando que 95% dos diagnósticos do médium eram corretos e que, as operações
realizadas com um canivete, sem qualquer assepsia, só eram possíveis devido à sua sensibilidade, explicável apenas à luz da parapsicologia.
Morte
Os seus biógrafos registram que
Arigó teve um sonho
com um crucifixo
negro, convencendo-se de sua morte próxima. No dia em que faleceu, como de
hábito, compareceu à sua clínica, mas avisou os pacientes que o aguardavam que
necessitava ir a uma localidade próxima para buscar um carro usado, que acabara
de adquirir. Segundo o boletim de ocorrência policial, na rodovia BR-040, às
12:23h de 11 de Janeiro de 1971, José Pedro, vítima de mal súbito, perdeu a direção do Chevrolet
Opala que dirigia, ingressando na contra-mão onde colidiu com um
veículo do Departamento Nacional
de Estradas de Rodagem (DNER), vindo a falecer vítima de traumatismo cerebral.
A
técnica
Incorporado, Arigó utilizava-se
de facas
e canivetes
para extrair em rápidos procedimentos, quistos e tumores. As
incisões eram pequenas, se comparadas aos procedimentos cirúrgicos praticados à
época, muitas vezes menores que o material por elas extraído. Por vezes,
durante a intervenção, Arigó ditava uma receita, datilografada
por um de seus assistentes, para ser entregue ao paciente.
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