quarta-feira, 10 de julho de 2019

Análise sobre vitaliciedade


  1. 1. Daladier Lima dos Santos

  2. 2. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Síntese histórica No princípio era uma Assembleia de Deus. Oops! Era, mais precisamente, a Missão da Fé Apostólica, primeiro nome em terras tupiniquins. Missionária desde o início, ecoando os princípios da Igreja Primitiva. Quando foi necessário fazer o registro civil, afinal era uma associação com personalidade jurídica, Gunnar Vingren, numa estação de bonde com alguns irmãos, sugeriu duas opções: o nome que conhecemos, utilizado nos EUA, ou Igreja Pentecostal. A primeira opção foi unanimidade. Assim nasceu nossa querida Assembleia de Deus, evocando os princípios congregacionais das igrejas americanas e suecas que, em parte, financiaram a empreitada missionária dos dois pioneiros e da própria Igreja Batista da qual eram oriundos os 21 membros iniciais e seus fundadores. O termo assembleia carregava aquele nobre sentimento de igualdade, fraternidade e compromisso mútuo. É significativo o registro captado neste trecho de um livro sobre nossa história: ...tanto nos periódicos como nas cartas, os suecos ao falarem uns dos outros, ou de outros pastores brasileiros, sempre se reportam ao “irmão Vingren”, “ irmão Berg”, “irmão Nystron”. Note-se bem: esse tratamento paritário que os pastores (inclusive os pastores-presidentes das igrejas-sede) usam entre si, é o mesmo que todos os crentes, gente comum e sem título, usa entre si. Óbvio, todos são irmãos1. Tanto Gunnar Vingren, quanto Daniel Berg, tidos, indiscutivelmente, como fundadores nunca tiveram pendores patrimonialistas. Nunca registraram templos ou bens em seus nomes ou de parentes indefinidamente. Ao transferir o controle para os brasileiros, por volta do ano 1930, nada exigiram como reparação para si ou para outrem. Não há registro de indenizações ou reparações pecuniárias, nem mesmo após suas mortes. E seus filhos e descendentes nunca reclamaram algo neste sentido. O mesmo se pode dizer dos demais missionários estrangeiros que os auxiliariam nos anos mais decisivos da denominação. Ninguém estava fazendo investimento ou acumulando poupança! O detalhe é que eram pessoas humildes, tendo, inclusive, se dirigido aos EUA, entre outras razões, por conta de desemprego e crises financeiras em seu país de origem. Com a explosão numérica da denominação poderiam ter crescido o olho, amealhando quinhões e vantagens. Outro traço marcante dos anos iniciais de nossa Igreja era que os pastores circulavam livremente em todo Território Nacional. Ou seja, não havia feudos em cidades ou Estados que impedissem a atuação ou grupos reunidos em Convenções distintas. Curiosamente, Vingren nunca gostou da ideia de se ter uma 1 Alencar, Gedeon, Matriz Pentecostal Brasileira, 2012, Editora Novos Diálogos
  3. 3. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Convenção Geral2! Talvez sua mentalidade batista conservasse a ideia de que cada Igreja deveria seguir o modelo da autogestão. Ele pastoreou igrejas tão distantes quanto Belém e Rio de Janeiro. Berg, por sua vez, instalou-se em Vitória (ES) em 1922, apenas onze anos após a fundação da Igreja. Cinco anos depois pastoreou Santos (SP)! Lendo as biografias dos pioneiros presenciamos tal distância de destinos em praticamente todos eles. Tanto faz estarem nos rincões do Nordeste, embrenhados em alguma região amazônica, quanto adentrarem nos templos do Sul do País. Era uma só casa, uma só família, uma só igreja, um só rebanho. Por que mudou? Calma. A história é longa. Em 1930 foi realizada uma Convenção Geral, onde Vingren e Berg foram questionados a respeito de certas práticas, como a consagração de mulheres ao diaconato e a evangelistas, entre outras coisas. Frida Vingren, esposa de Gunnar, era uma delas, tinha vindo como evangelista da Suécia, Emília Costa, consagrada a diaconisa em São Cristovão e Deolinda consagrada a evangelista em 1929. Gunnar assumiu o pastorado no Rio de Janeiro de 1924 a 1932. Mas a razão principal do questionamento era controle. Vivíamos um processo político nacionalista que culminaria no Estado Novo em 1937. Neste contexto ter uma igreja em ascensão nacional sob controle estrangeiro não agradava aos líderes natos. Até aquela data nenhuma igreja da denominação detinha o controle de seus ministérios. O líder por dedução era Gunnar Vingren. Na igreja de origem, Belém, ministrava o Pr. Samuel Nystrom, que, também, não era brasileiro, e o substituía em suas viagens. Não por acaso a reunião ocorreria em Natal. Era no Norte/Nordeste que reinava a maior insatisfação. O Pr. Levi Pethrus registra as circunstâncias da seguinte maneira: O trabalho no Norte foi fundado há 20 anos, e ali existem agora muitas e grandes igrejas com experimentados pastores e dirigentes, de modo que o trabalho pode ser entregue inteiramente a eles... Um trabalho missionário tem de ter como alvo, sempre que possível, entregar o trabalho aos obreiros nacionais. Cento e sessenta igrejas e mil membros foram repassados aos obreiros locais sem custo algum. Note-se que algumas destas igrejas foram financiadas pela missão sueca e americana. Daí em diante temos o fenômeno dos campos, cujos pastores 2 Para os suecos as igrejas seriam comunidades livres. Para termos ideia de como levaram o pressuposto a sério, somente em 2004 nasceu a primeira convenção naquele país

  4. 4. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos passaram a demarcar seus territórios, inicialmente nos Estados e depois nas Convenções3. Como consequência da demarcação dos campos se consolida a figura do pastor presidente. Um pastor sobre os demais. Em cinquenta anos, consolidaram-se a passagem de poder de modo patriarcal e familiar, o patrimonialismo e o empoderamento pessoal e financeiro da alta cúpula. A concentração de poder e as constantes divisões que se intensificaram com o desmembramento da Assembleia de Deus de Madureira, em 1989 (aliás, foi a Madureira, em 1958, que instituiu o termo, pastor presidente, para seu líder máximo, Pr. Paulo Leivas Macalão4), fizeram com que os pastores presidentes estabelecessem seus direitos sobre a membresia e a própria Igreja. Não raro tratando-a como extensão de sua própria família, no que tange a dinheiro e poder, personalizando sua atuação a ponto de determinados ministérios serem tão diferentes uns dos outros, fugindo totalmente dos ideais de Berg e Vingren. O sociólogo Gedeon Alencar, estudioso da denominação, a classifica assim: moderna, mas conservadora; feminina, mas machista; urbana, mas periférica; comunitária, mas hierarquizada. Donde concluímos: totalmente contraditória! 3 Em 1932, Vingren retorna, definitivamente, à Suécia, morreria no ano seguinte. Daniel Berg só faleceria em 1963, mas também na Suécia para onde havia retornado um ano antes. 4 Alencar, Gedeon, Matriz Pentecostal Brasileira, Editora Novos Diálogos

  5. 5. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Em 1959, o pastor Alcebíades Pereira de Vasconcelos, registrava nas páginas do Mensageiro da Paz, órgão informativo das Assembleias de Deus, o seguinte: As ameaças de perda do cetro e a prevalência deste modelo vertical desaguaram na vitaliciedade. Que se tornou em nada mais do que resguardar direitos indefinidamente. O pastor John Phillip, preletor inglês especialmente convidado para pregar durante a Convenção Geral de 1981 -- no Estádio Jornalista Felipe Drummond (conhecido por “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG, 8 anos antes da maior divisão de nossa história, falando sobre I Coríntios 3 disse o seguinte: Tanto o grande Paulo como o eloquente Apolo não passavam de dois jardineiros. Tudo o que você pode ter é um pedaço de pau para furar o chão e nele plantar a semente, ou um balde d’água com que regar as plantas. Nada mais. De fato, nós mesmos nada somos. Por isso precisamos uns dos outros. De nada adianta plantar, se não houver quem regue. De nada vale regar, se ninguém plantou. Somos, isto sim, cooperadores. Juntos formamos uma grande unidade com Deus.5 5 http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/331/eu-sou-de-sao-cristovao-e-eu-sou-de-madureira

  6. 6. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Muitos já não confiavam no dono do jardim. Muito menos em seus auxiliares. De fato, há diversos relatos de viradas de mesa, aqueles casos em que o pastor perde o domínio sobre suas igrejas e passa a sofrer necessidades, abandonado. Não deixa de ser uma possibilidade, mas ela se deve muito mais à desorganização administrativa (leia-se falta de um estatuto adequado, entre outras coisas) do que à ameaça em si mesma. Há na internet, um site que faz a mudança em estatutos, trabalhando exatamente com este medo. Vejamos6: O conceito da vitaliciedade foi importado de dois lugares: da Igreja Católica, onde o Papa só é substituído com a morte, exceto, quando renuncia como aconteceu com Bento XVI, recentemente, e do Poder Judiciário. Em nossas igrejas, porém, todas as tentativas de justificar a manutenção do cetro nas mãos de uma só pessoa por tanto tempo, desabam com uma análise mais apurada de fatos e circunstâncias. É bíblico? Os que a defendem amparam-se nos exemplos de Moisés, Saul, Samuel e Davi, levantados por Deus para o exercício administrativo até sua morte. Mas a ironia é que a teocracia não existe mais! Como também não existe mais o sacerdócio levítico. Evocar que o pastor é sacerdote para justificar a vitaliciedade é uma agressão à inteligência do ouvinte/leitor. Primeiro, não somos filhos de Levi, segundo, havia eleição anual até para o cargo de sumo sacerdote (João 11:49)! Por fim, a figura do sumo sacerdote desde os tempos apostólicos foi encerrada em Cristo, portanto... Outra vertente se arvora na prerrogativa do Ungido. O pastor presidente, uma vez escolhido por Deus para determinada função, não deve ser retirado do seu cargo, senão por pecado ou solicitação pessoal porque é o Ungido. Parece lógico, mas, por que a premissa não se aplica a todos os demais pastores? Por que somente o 6 http://www.faculdadegospel.com.br/abra-sua-igreja/02-alteramos-e-modificamos-estatutos-antigos-para- que-os-pastores-possam-ter-cargos-vitalicios-nomear-diretoria-e-nao-ter-eleicoes-e-se-filiar-a-nos, acessado em janeiro de 2014

  7. 7. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos presidente é um ente divino a não ser removido? Afinal, ele mesmo escolhe aqueles que vão ser colocados nas congregações, pessoas, julga-se, santas e separadas para aquela tarefa, por que retirá-los por mero capricho? Deus deu pastores à Igreja e não igrejas a pastores. Não é o mantra de nove entre dez EBOs? É ele quem escolhe do pastor mais importante e expressivo ao menor. Ou nas igrejas onde há eleição o pastor é menos ungido? Para jogar a pá de cal no argumento temos a Convenção Geral, colegiado de ministros, e por isso tida não como Igreja, mas como associação (o que as igrejas são perante a Lei!?) na qual se faz eleição! Se a CGADB faz eleição, por que não as igrejas, em geral? Por que a Convenção não é Igreja! Responderá alguém mais apressado. E por que quando se reúne segue a liturgia de um culto assembleiano típico? É uma contradição para Sherlock Holmes! É legal? O artigo 59 da Lei 10.406/2002 preconiza que os participantes de determinada associação, respeitada a vontade soberana da assembleia, destitui ou institui seus administradores. Bem sabemos que a Igreja é espiritual, mas suas ações refletem as leis do País, às quais está subordinada. Logo, compreendemos que tal prerrogativa é da assembleia e não de uma oligarquia ou de interesses obscuros e inconfessáveis. Não custa lembrar que a própria Igreja Católica faz seu conclave para escolher o sucessor de Pedro, como assim dizem. Não há nome aclamado como ousamos fazer7. Mas, vamos analisar a questão da importação do Judiciário. Primeiro, pelo fim. A vitaliciedade no STF, instância máxima da Justiça brasileira, é de 70 anos de idade, com aposentadoria compulsória, em nossas igrejas é até a morte ou incapacidade senil. Segundo, a vitaliciedade existe na Justiça para blindar os juízes de arbitrariedades de outros Poderes. Se o Governo Federal e o Legislativo pudessem se sobreporiam a muitas decisões dos juízes ou influenciariam suas carreiras, como demonstra o noticiário. Para evitar tal influência, existe a vitaliciedade. Ela não garante, notemos, a arbitrariedade do juiz sobre si mesmo ou sobre seus atos. Ele é soberano nos autos, mas há instâncias às quais uma parte de determinada ação pode recorrer, para fazer prevalecer seus direitos. Em 7 A UMADENE (União de Ministros das Assembleias de Deus no Nordeste) foi mais longe ainda. Na última eleição, 2013, os ministros associados já foram com os eleitos postos em seus cargos, uma vez que os pastores presidentes já haviam escolhido os tais, ao arrepio da Lei 10.406/2002. É o Nordeste na vanguarda do retrocesso mais uma vez! E olha que muitos dos componentes daquele órgão são advogados e, portanto, sabem que é ilegal tal escolha. Qualquer membro poderia, de pleno direito, evocar a anulação da aclamação. Isto não aconteceu por pura bondade...

  8. 8. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos diversas situações o juiz é obrigado a votar num colegiado, para que sua decisão seja avaliada por seus pares. Para piorar, um juiz, por exemplo, não tem gerência administrativa de sua comarca, não destina recursos a seu bel prazer, não estabelece seu próprio salário, não ultrapassa sua cota de reembolsos, não prioriza parentes (impedido que está em Lei, inclusive), não acumula bens e capitais em decorrência de seu cargo. Vive somente dos seus vencimentos. Ele apenas não pode ser demitido! Justamente o contrário dos pastores presidentes. Ainda do ponto de vista da Lei, se a assembleia decidir livremente que seu Pastor Presidente terá mandato vitalício não há impedimento legal algum. Porém, nem tudo que é legal, é moral. Ou seja, nem tudo aquilo que se serve da omissão da Lei ou da conivência de um grupo é lícito. É a tal assertiva paulina: todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm fazer. A não ser por justificativa pessoal. Aí já não estamos no terreno do Espírito, mas da carne! É lógico? Aqui o argumento é sobre a dedicação que o cargo exige. Uma vez que o pastor se desprende de suas atividades, vivendo integralmente para as necessidades da Igreja, é lógico que ele tenha sustento garantido por toda a vida. Há algumas considerações a fazer:  O pastor pode optar por não querer assumir uma função que atrapalhe suas atividades seculares. Quem o faz, se joga de corpo e alma na labuta eclesiástica. A exaustão física, mental e emocional é tão notória e histórica que ninguém pode dizer: Eu não sabia...;  Todos os pastores responsáveis tem algum nível de dedicação à Igreja, salvo de sua congregação for muito pequena ou se for relapso ou se não atuar diretamente numa. Logo o princípio que se aplicaria ao presidente se aplica a todos em menor ou maior grau;  Se não há confiança para um desprendimento total, o que dirão os demais pastores comissionados para tarefas em geral e cuidado de igrejas? Como obreiros que arvoram a bandeira do Evangelho nos rincões poderão confiar? Usarão do mesmo artifício? Como fica a situação dos missionários, sabendo que não têm estabilidade alguma? É um caminho perigoso...  Pastorado é sacrifício. Ou assumimos os desafios ou corremos! Não é bolsa de apostas, nem poupança, nem investimento. Via de regra, o pastorado é encarado como uma loteria, da qual determinada pessoa deverá auferir benefícios pela vida afora. Primeiro, a regra não se aplica a todos os pastores, abaixo do presidente. Segundo, o sofrimento, a vida pregressa, as dificuldades

  9. 9. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos não podem chancelar a prevalência de direitos de uns sobre outros, especialmente numa igreja. A ser assim, os irmãos que já passaram por privações extremas como fome e nudez teriam direito a um quinhão maior!? De fato, o argumento tem servido para uma privatização dos recursos da Igreja!  Ouvimos pastores de Norte a Sul dizer que quando assumiram a Igreja era pequena, tinha poucos templos, poucos recursos, agora que cresceu, todo mundo cresceu o olho. É isso mesmo? Primeiro, houve um trabalho concorde de milhares de anônimos, não foi uma pessoa só. Segundo, o trabalho é de Deus, nós somos atores temporais, fazendo o que está à nossa mão da melhor maneira possível. Terceiro, a prevalecer esta mentalidade todo mundo deve levar pra casa um pedaço da Igreja, pois todos os membros e líderes de alguma forma contribuíram para o crescimento da Obra, especialmente os mais antigos. O que Daniel Berg e Gunnar Vingren não deveriam ter herdado, então? Foram eles que investiram tempo, juventude, família, saúde e história em mais larga escala para nosso usufruto hoje! O que é lógico é a Igreja se estruturar para assistir adequadamente TODOS seus pastores, quer estejam na presidência ou não! E não o que aconteceu a nossos pioneiros, que morreram pobres e esquecidos na Suécia. Via de regra, os valores são mal administrados neste quesito, há pouca previsão estatutária, uma vergonhosa consagração de obreiros que crescem tanto em número que o caixa não pode sustentá-los. Outrossim, há tanta concentração de renda que concorre para o esvaziamento dos cofres, se adotada uma solução que satisfizesse a todos. É eclesiástico? A Assembleia de Deus americana, portanto, nossa congênere, é congregacional e todos os pastores são eleitos8. Em todos os lugares aonde ela implantou igrejas, exceto no Brasil (pelas razões acima citadas) se segue o mesmo modelo. Perguntamos: os pastores de tais igrejas são menos chamados que os nossos? São menos escolhidos por Deus que os nossos? A Igreja é menos bíblica que a nossa? Está na contramão da História? A resposta é um reverberante: NÃO! Tem mais. As igrejas batistas e congregacionais (no que tange à denominação) adotam este mesmíssimo modelo aqui mesmo no Brasil. Há eleições e o pastor se reelege indefinidamente, tantas vezes quantas queira a assembleia. Será que Deus só não esposou tal modelo para a Assembleia de Deus tunipiquim? Há casos de pastores que já estão à frente de igrejas congregacionais (o modelo) há 30, 40, 50 anos, sendo reeleitos repetidamente por seus préstimos. Deus nos fez melhores? 8 http://ag.org/top/about/structure.cfm, acessado em janeiro de 2014

  10. 10. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Bem perto de nosso Estado, mais precisamente na Paraíba, temos a COMADEP, presidida pelo Pr. José Carlos de Lima, que faz bienalmente sua eleição9. O que dizer da Igreja O Brasil Para Cristo, cujo fundador, Manoel de Mello, era um diácono oriundo de nossa igreja10. O último estatuto fundamentou algumas diretrizes que nós não conseguimos, com tantos anos à frente, instituir: 1. Eleição de quatro em quatro anos para o pastor presidente Estadual (vários casos históricos de recondução); 2. Eleição congregacional para o pastor no estilo batista. A congregação pode recorrer ao Conselho Estadual para a substituição do pastor, obviamente, fundamentando sua solicitação; 3. Quarenta por cento da arrecadação bruta da congregação fica com o pastor da mesma (ou dois salários mínimos, o que for maior), o restante vai para a Convenção Estadual; 4. Quarenta por cento do que vai das igrejas para a Convenção Estadual é a remuneração do Pastor Presidente Estadual, o restante vai para o Conselho Nacional da Igreja; 5. O pastor tem trânsito nacional, podendo desenvolver suas atividades a convite de um pastor presidente estadual em qualquer Estado do País e até mesmo em outros países. Conclusão: basta querer! Aspectos positivos da vitaliciedade Nem tudo é ruim na vitaliciedade. Citaríamos alguns aspectos positivos, quais sejam: 1) Ausência de competição Infelizmente, nossos líderes não são politizados, aliás, um eco estrutural da formação sociológica brasileira. Via de regra, nossas eleições são uma balbúrdia, que se veja o caso das mesmas na CGADB, porque vencedores e perdedores não estão preocupados senão consigo mesmos. É estranho para a maioria de nós participar de eleições condominiais, de associações de bairro, de representações quaisquer inerentes à democracia. Com a vitaliciedade eliminamos o problema da formação de chapas, da eleição propriamente dita e da administração dos conflitos decorrentes dela. Mas isso 9 http://www.tiagobertulino.com/2014/01/comadep-pastor-jose-carlos-e-reeleito.html, acessado em janeiro de 2014 10 http://site.conselhonacional.org.br/?page_id=2, acessado em janeiro de 2014

  11. 11. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos não mostra nada, senão a ausência de grandeza intelectual. Um perdedor tem que reconhecer o resultado de uma disputa, especialmente, em se tratando de Igreja. Já o ganhador não pode perseguir os concorrentes, negando-lhes espaços, por exemplo, pelo mesmo motivo. E, não menos importante, o nível ético de uma eleição deve condizer com nosso testemunho cristão. 2) Rapidez nas decisões Igrejas nas quais existe a centralização administrativa oriunda da vitaliciedade (episcopais) tendem a decidir mais rápido. Mas há inúmeros casos de velhice, problemas de saúde, mania de perseguição, falta de visão estratégica que depõem contra este argumento. A tendência de médio e longo prazo é a acomodação. 3) Projetos de longo prazo são iniciados e mantidos Tendo em vista a transitoriedade de mandatos, projetos de longo prazo são adiados ou alterados. Com a vitaliciedade projetos que englobam muitos anos são tocados com mais comodidade. Porém, iniciar e manter tais projetos é muito mais fruto de argúcia visionária do que propriamente do modelo. Por vezes, a vitaliciedade acaba justamente atrapalhando tais projetos de longo prazo, porque o gestor se beneficia da acomodação, como registramos acima.

  12. 12. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos Aspectos negativos da vitaliciedade Infelizmente, há muitos mais aspectos negativos. Vejamos: 1) Gestão baseada no carisma O carisma é a característica nata do líder evangélico em geral. Porém, a vitaliciedade exacerba do atributo ao transmitir a cosmovisão do líder como se fosse a única maneira correta de enxergar o mundo. Modos de vestir, falar, se dirigir às pessoas, classificar pecados e erros, muitas vezes baseados apenas em usos e costumes, acabam permeando o modus vivendi da membresia, em oposição a outros líderes que não compactuam desta visão. De modo que em uma Assembleia de Deus algo é pecado e em outra não, às vezes, dentro do mesmo Estado. Trocando os gestores tais referenciais, prejudiciais até certo ponto, se perdem e a membresia fica sem saber a que modelo seguir. Personaliza-se o ethos da Igreja! Por outro lado, os resultados são omitidos e, por vezes, até indesejáveis pois revelariam tibieza e falta de foco. Os planos estratégicos ficam à mercê da boa vontade do gestor, que, por sua vez, não se importa, acomodado que está em sua cadeira. Ao invés de uma gestão baseada em resultados, temos o carisma. O correto seria um balanceamento dos dois itens. Outro problema do carisma é o saldo histórico. Passa-se a viver do que fizemos há anos passados impondo características deste ou daquele líder como vigentes no momento vivenciado. A Igreja é feita de pessoas, mas é impessoal. Somos atores históricos, visando dar nossa contribuição para determinado instante e contexto. Passaremos com e como toda história. Não é preciso esquecer o que alguém fez, porém, precisamos estar atentos ao que é necessário fazer. Precisamos entender que cada tempo tem seu próprio desafio, sua própria moldura, seus próprios atores. Por exemplo, nossos pioneiros andavam em cavalos, hoje andamos em carros modernos. Não podemos nos martirizar por isso, nem eles ou seus filhos e admiradores, podem impingir-nos alguma culpa. Se eles vivessem em nosso tempo, iniciando a denominação agora, certamente lançariam mão de todos os recursos disponíveis e o fariam de modo totalmente diferente de então. 2) Nepotismo Por uma questão lógica, um presidente vitalício tende a se cercar de pessoas da mais estrita confiança. Ele tem medo de sofrer um golpe ou compartilhar informações estratégicas e/ou sigilosas. Acaba delegando tarefas chave a pessoas de seu círculo familiar. Filhos, netos, cunhados, genros são agraciados com os cargos mais elevados. E muitas vezes com salários incompatíveis com

  13. 13. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos seu currículo. Não é raro criar um cabide no qual tais parentes não trabalham, ou trabalham muito pouco em relação aos demais, tal e qual prefeituras e sinecuras governamentais, somente para garantir-lhe apoio em alguma demanda. Tudo isso bancado com dízimos e ofertas. Na sucessão vitalícia o poder é hereditário. Passa de pai para filho11. Muitas vezes, não importando se o mesmo está capacitado para o exercício do cargo. O que importa apenas é manter o poder em família. Na doença do titular, não é raro filhos e esposas assumirem o controle, deixando à deriva a administração da Igreja. Longe de nós pensar que não há filhos e parentes de pastores presidentes capazes, via de regra, porém, se dá o contrário. O Brasil enfrenta ainda outra questão neste quesito: o usufruto da Igreja para fins políticos privilegiando parentes. Ou seja, o pastor presidente usa seu prestígio para, por exemplo, impor à Igreja parentes de sua confiança para a candidatura a cargos eletivos o que é, inclusive, expressamente proibido em Lei12. 3) Oligarquia Oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. Essas pessoas podem distinguir-se pela nobreza, a riqueza, os laços familiares, empresas ou poderio militar. Infelizmente, algumas de nossas igrejas são verdadeiros reinos oligárquicos nos quais o poder está concentrado em poucas mãos. Os gestores têm medo de compartilhar o dia a dia da Igreja. Não raro porque tantas e tão escusas decisões aéticas foram tomadas que eles têm medo de se expor. Compartilhando o poder com um número pequeno de pessoas ele pode minimizar os riscos. Quanto mais o núcleo de gerência cresce, menos poder ele tem sobre o mesmo. 4) Absolutismo Houve um período da história mundial no qual os reis tinham domínio absoluto sobre a vida das pessoas. Podiam matar, degredar, prender sem quaisquer questionamentos. Não havia instância para a qual apelar. Com a vitaliciedade tal poder absoluto se instaura. Pessoas que são defenestradas ou isoladas por discordância ou outros delitos menores, até que passe aquele reinado estão isoladas. Para que esse isolamento se torne realidade basta, por 11 Recentemente, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo passou de sogro para genro. Em Belo Horizonte, o pastor Anselmo Silvestre, transferiu o controle para seu neto. 12 A Lei 9.504/97 proíbe a propaganda política em templos e até mesmo a doação financeira de igrejas para campanhas políticas. A razão é simples: não há isonomia na apresentação de outros candidatos.

  14. 14. Igarassu, Fevereiro de 2014 - Daladier Lima dos Santos exemplo, questionar uma decisão. A alternância permitiria uma reavaliação de tais situações, sem ranço pessoal. Conclusões Entendemos que as igrejas de gestão congregacional não são perfeitas, há problemas e muitos, como acontece em qualquer grupo social. A questão que levantamos é que nos parece divino proceder de modo episcopal, mas não é. E muitos não ousariam dizer que é uma agressão ao chamado de um ou outro pastor. Na realidade é uma opção que está apenas arraigada em nosso inconsciente coletivo, podendo ser mudada a qualquer momento para o bem da Igreja, se esta entender assim. Neste ínterim destacamos que o modelo congregacional era o modelo da Igreja Primitiva, como bem frisou o nobre pastor Alcebíades. O crescimento da Igreja é que agregou tais concepções. Entendemos, também, que a eleição não irá resolver todos nossos males. Mas poderá fazer com que avancemos em direção a um modelo mais bíblico e menos verticalizado, seguindo os ditames da Igreja Primitiva. Por fim, um estatuto moderno e adequado deverá prover as premissas necessárias às eleições, ao sustento pastoral ideal de ex-presidentes, à igualdade de oportunidades dentro da estrutura de administração eclesiástica, visando sempre a Igreja como a beneficiária primordial de todas as gestões. O modelo que temos, infelizmente, tem se omitido no quesito e está visivelmente esgotado. Mantendo-se à custa ora de uma manipulação grosseira dos textos bíblicos, ora por comodismo da assembleia, ora por interesses os mais inomináveis. Sugestões e questionamentos a este documento: daladier2001@hotmail.com.

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Landes, M. George, construindo seu vocabulário hebraico bíblico: aprendendo palavras por freqüência e Cognato. Recursos para o Estudo Bíblico 41. Atlanta, Sociedade de Literatura Bíblica, 2001. (232 páginas, 679 KB).

Kaltner, John e Steven L. McKenzie, eds. Além de Babel: Um Manual para o hebraico bíblico e linguagens relacionadas. Recursos para o Estudo Bíblico 42. Atlanta, Sociedade de Literatura Bíblica 2002. (256 páginas, 961 KB).

Walker-Jones, Arthur, em hebraico para Interpretação Bíblica, Recursos para o Estudo Bíblico 48. Atlanta, Sociedade de Literatura Bíblica, 2003. (294 páginas, 27,7 MB).

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Schmidt, B. Brian, ed. A Busca pelo Israel histórico: Debatendo a Arqueologia e História do Israel precoce. Arqueologia e Estudos Bíblicos 17. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007. (232 páginas, 5,1 MB).

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