Representa uma grande verdade o fato de que o “fazer teológico” não pode ser sintetizado simplesmente à teoria, visto que a práxis teológica é fundamental para o exercício ministerial de qualquer indivíduo. Todavia, ao desenvolver qualquer atividade ministerial sem que haja um amparo teórico, de igual modo, pode ser algo muito preocupante em decorrência de práticas incongruentes, senão inusitadas, que podem surgir. Logo, o estudo teológico fornece amparo bíblico para pensar e agir, embora isso seja desconsiderado por boa parte dos cristãos.
É bem verdade que sempre haverá muitos assuntos aos quais não dominaremos plenamente e sempre careceremos de informação e conhecimento, entretanto, é lastimável o índice de letargia teológica que atinge majoritariamente líderes, obreiros e docentes. Por negligência se abrigam nos mais diversos subterfúgios objetivando ocultar sua indolência teológica; supervalorizam rótulos em detrimento de conteúdo. É péssimo, por exemplo, ouvir um “docente” que “briga” pela oportunidade de lecionar, mas que contraditoriamente não é devoto à leitura, ao estudo e a pesquisa. É angustiante ver alguém querer a todo custo ensinar ou pregar sem que o mesmo seja ensinável.
Um determinado dia, em uma determinada reunião de um determinado departamento, alguém lançou uma pergunta genérica, mas que caiu como uma luva em meu coração, despertou minha consciência e alavancou minha ação. A pergunta foi: “qual a sua formação”? A resposta dos presentes foi “o silêncio”. Trocando em miúdos o emissário que interrogou após certo período de tempo foi o mesmo que concluiu: “quem não tem cão caça com gato”. Confesso que nunca me esqueci daquela reunião. Embora não fosse pessoalmente letárgico, mas, um autodidata por convicção, senti pelo “cutuco” a necessidade de buscar a qualificação teológica necessária para o exercício do ministério que a mim foi proposto (Rm 12.7), quando então me afastei de algumas funções para me dedicar aos estudos teológicos.
Hoje olho para trás e ao mesmo tempo em que agradeço a Deus pela oportunidade de ter trilhado boa parte do caminho, lhe peço forças para continuar caminhando em busca do saber teológico que inevitavelmente me conduzirá cada vez mais para perto de uma visão límpida de Deus e do seu Reino. Aceito a exortação bíblica que Paulo fez a Timóteo: “Até à minha chegada, aplica-te à LEITURA, à exortação, ao ENSINO. Não te faças negligente para com o dom que há tem ti….” (1 Timóteo 4.13,14).
É provável que alguns leitores classifiquem esta postagem sob o marcador da arrogância, quando deveriam classificá-la sob o manto da consciente reflexão. Logo, é comum que o insensato se ofenda facilmente ao ser flagrado em sua letargia, ainda mais quando esta passa a ser denunciada, todavia, aquele que é sábio sempre será motivado pelo sincero desejo de aprender e de buscar aperfeiçoamento (Pv 9.9).
Paulo nos orienta a ser imitadores dele como ele era de Cristo (1 Co 11.1), porém, não quero falar de Paulo, mas de Cristo, a quem, por inferência devemos imitar. O texto lucano registra coisas interessantes a respeito de Jesus, como por exemplo, que Ele quando ainda em sua fase tenra da vida, se fortalecia e se enchia de sabedoria (Lc 2.40); que Jesus não crescia somente em estatura e graça, mas também em sabedoria (Lc 2.52). Que exemplo digno de ser imitado!
Ainda sobre os registros do historiador Lucas, cabe destacar a informação que ele traz a respeito das qualificações exigidas para a escolha dos diáconos a serem encarregados do serviço na igreja: “Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, CHEIOS DO ESPÍRITO e de SABEDORIA, aos quais encarregaremos deste serviço” (Atos 6.3).
Logo, estou plenamente convencido de que ao abraçar o ministério, a cada um de nós proposto, urge inevitavelmente, respeitadas nossas limitações diante do progressivo aprimoramento, a necessidade de dedicação (Rm 12.7) e de crescimento, não somente na Graça, mas também no conhecimento (2 Pe 3.18), objetivando, inclusive, estarmos sempre preparados para responder a todo aquele que pedir razão a respeito da esperança que há em nós (1 Pe 3.15).
Enfim, sou impulsionado a crer, sem desprezar as demais práticas (oração, jejum, etc.), que a formação teológica é a responsável pela relevância das atividades atinentes ao ministério, seja ele exercido dentro ou fora da igreja, pois fornece subsídio à ação pessoal e ministerial. Não há prática sem teoria, ao menos, boa prática sem boa teoria, e por boa prática, entenda-se aqui aquela que está devidamente fundamentada nas Escrituras. Portanto, sem amparo teológico, todo e qualquer ministério se torna deficiente e limitado (2 Tm 2.15). É possível ainda que alguém seja tentado a argumentar contra a teologia, contudo, o objeto de estudo da teologia não é outro, senão a própria Palavra de Deus, a qual é o seu livro texto. Portanto, fuja da letargia teológica. Estude a Bíblia, objetivando crescer no conhecimento do Senhor (Os 6.3)
Por Angelo