sexta-feira, 25 de janeiro de 2013








“O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR” (1Samuel 24.6).

“A Bíblia diz: Ai daquele que tocar no ungido do Senhor!”


Quantas vezes você já ouviu essa afirmação, que soa como uma espécie de imprecação e ameaça? Particularmente, já ouvi dezenas de vezes. Já li outras tantas. Ela é usada com frequência por alguns pastores e líderes que imaginam que o pastorado os torna incriticáveis. 

A ideia transmitida pelo uso indiscriminado da expressão “sou um ungido do Senhor” é que a mesma é uma espécie de “imunidade eclesiástica”, que concede ao indivíduo licença para fazer o que quiser, agir como bem entender, sem a obrigação moral de prestar contas a ninguém por seus atos e seus desmandos. 

Basta que você admoeste o indivíduo por alguma coisa para imediatamente ele (ou alguém que o apoia em suas loucuras megalomaníacas e narcisistas) diga: “A Bíblia diz: Ai daquele que tocar no ungido do Senhor!”

Será que isso está correto? Será que os pastores são os “ungidos do Senhor” e, por essa razão, são incriticáveis e intocáveis? Possuem eles algum tipo de imunidade, que o impede de ser admoestado, exortado a se arrepender de seus pecados? Precisamos examinar as Sagradas Escrituras, pois só elas podem nos dar o correto entendimento da expressão.


A expressão no Antigo Testamento

O termo “ungido” (no hebraico, 
x;yvim' [Mashiah] aparece 47 vezes nas Escrituras do Antigo Testamento, majoritariamente em 1 e 2Samuel (19 vezes) e em Salmos (9 vezes). 
Victor P. Hamilton afirma que, “mashiah é quase exclusivamente reservado como sinônimo de ‘rei’ (melek, q.v.), como em textos poéticos, onde é paralelo de ‘rei’ (1Sm 2.10; 2Sm 22.51; cf. Sl 2.2; 18.50 [51]; mas cf. Sl 28.8, onde é paralelo de ‘povo’). 

São notáveis as frases ‘o ungido do SENHOR’ (mashiah YHWH) ou equivalentes, tal como ‘seu ungido’, as quais se referem a reis”.[i] É importante compreender, como afirma Geerhardus Vos, que “a palavra sempre é qualificada por um genitivo ou um sufixo ligada a ela: ‘o Messias de Yahweh’ (‘o Ungido do Senhor’), ou ‘meu Messias’ (‘meu Ungido’)”.[ii] Algumas passagens podem ajudar a elucidar isso:

“Os que contendem com o SENHOR são quebrantados; dos céus troveja contra eles. O SENHOR julga as extremidades da terra, dá força ao seu rei e exalta o poder do seu ungido”(1Samuel 2.10).

No contexto da escolha de Saul como o primeiro rei de Israel, o profeta Samuel, em seu discurso de despedida, diz: “Eis-me aqui, testemunhai contra mim perante o SENHOR e perante o seu ungido: de quem tomei o boi? De quem tomei o jumento? 

A quem defraudei? E das mãos de quem aceitei suborno para encobrir com ele os meus olhos? E vo-lo restituirei [...] E ele lhes disse: O SENHOR é testemunha contra vós outros, e o seu ungido é, hoje, testemunha de que nada tendes achado nas minhas mãos. E o povo confirmou: Deus é testemunha" (1Samuel 12.3,5).

Por ocasião da unção de Davi como rei de Israel, Samuel imaginou que Eliabe fosse o ungido do Senhor: “Sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse consigo: Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido” (1Samuel 16.6).

“No presente sou fraco, embora ungido rei...” (2Samuel 3.39a).
“Então, respondeu Abisai, filho de Zeruia, e disse: Não morreria, pois, Simei por isto, havendo amaldiçoado ao ungido do SENHOR?” (2Samuel 19.21).
“É ele quem dá vitórias ao seu rei e usa de benignidade para com o seu ungido, com Davi e sua posteridade, para sempre” (2Samuel 22.51).

Todas as passagens listadas acima mostram, de forma indubitável, que a figura do “ungido do Senhor” no Antigo Testamento era o rei de Israel, o rei-pastor, responsável pela condução e cuidado das ovelhas de Yahweh.
  
Outra passagem muito importante que atrela o conceito de “ungido do Senhor” à figura do rei é 1Samuel 24.6: “O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra ele, pois é o ungido do SENHOR” (cf. também 24.10; 26.9,11,16,23 e 2Samuel 1.14,16,21). 

O “ungido do SENHOR” a quem Davi se refere é o rei Saul. Matthew Poole afirma que essa expressão significa que Saul foi “ungido por Deus para o reino”.[iii] Isso é representado pelo ato de ter sido ungido com óleo pelas mãos do profeta Samuel: “Tomou Samuel um vaso de azeite, e lho derramou sobre a cabeça, e o beijou, e disse: Não te ungiu, porventura, o SENHOR por príncipe sobre a sua herança, o povo de Israel?” (1Samuel 10.1).

No Pentateuco o termo mashiah foi usado para se referir ao ofício sacerdotal. “Moisés recebeu instruções para ungir, ordenar e consagrar Arão e seus filhos, de modo que eles pudessem ser reconhecidos, autorizados e qualificados para servir no sacerdócio”.[iv] 

Em Levítico 16.32 está escrito: “Quem for ungido e consagrado para oficiar como sacerdote no lugar de seu pai se fará a expiação, havendo posto as vestes de linho, as vestes santas”

Outras passagens que falam dos sacerdotes como “ungidos” são: Levítico 4.3,5,16; 6.20,22 e Números 35.25. Além disso, Êxodo 29 traz em detalhes as prescrições divinas para a unção e consagração de Arão e seus filhos como sacerdotes.

Existe discussão quanto à unção para o ofício de profeta. Existe discussão até mesmo sobre profeta não ser um ofício. Há quem defenda essa posição. De acordo com essa visão, visto que os profetas não eram ungidos no Antigo Testamento, eles não podem ser considerados como detentores de um ofício, mas sim de uma função. Essa posição é seriamente desafiada por Gerard van Groningen, que acertadamente diz:

Pela falta de prova bíblica não se deve concluir que os profetas não eram ungidos, isto é, designados, separados, autorizados e capacitados para seu trabalho. O fato de não haver relato de um rito de unção prescrito não significa a inexistência de um rito. 

O fato de haver referência à unção de profetas leva-nos à suposição de que um rito poderia ter sido conhecido, mesmo que não fosse praticado sempre da mesma forma.

Os profetas eram considerados ungidos, como claramente inferimos das ordens de não “tocar” os ungidos de Deus e de não “maltratar” seus profetas (Sl 105.15 e 1Cr 16.22 – paralelismo sintético). 

As referências são aos patriarcas. Não se sabe como e quando eles foram ungidos, mas os patriarcas eram profetas, servos ungidos de Deus. O fato de o Senhor mandar Elias ungir Eliseu (1Rs 19.16) certamente significava que os homens foram feitos cônscios de sua designação, consagração, autoridade e capacitação para um ofício.[v]


Além disso, a passagem de Isaías 61.1-3 fala exatamente da unção de um profeta: “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas aos quebrantados, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados; a apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria, em vez de pranto, veste de louvor, em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem carvalhos de justiça, plantados pelo SENHOR para a sua glória”Gerard van Groningen afirma que, “não é descrito o ritual da unção, mas há referência a ele e o resultado é claramente expresso”.[vi]


Para quem os três ofícios e a expressão “ungido do Senhor” apontam?


Como foi atestado pelo Antigo Testamento, os “ungidos do Senhor” eram homens escolhidos pelo Senhor para desempenharem os ofícios de rei, profeta e sacerdote. Além desse fato, dois homens, a saber, Moisés e Samuel, desempenharam os três ofícios simultaneamente. 

Moisés serviu como profeta, transmitindo a vontade de Deus ao seu povo, como sacerdote que oficiou a consagração de Arão e seus filhos e como o líder (governante).[vii] Samuel, semelhantemente, era um profeta, um sacerdote que oferecia sacrifícios a Deus e um juiz, alguém encarregado de governar o povo. 

Mais uma vez, Gerard van Groningen faz um excelente comentário sobre a interrelação dos três ofícios: “É fora de dúvida que os três ofícios deviam complementar-se entre si e cumprir papéis que eram vitais para cada um dos outros dois. Este fato esclarece por que os três ofícios eram cumpridos por homens designados como ‘ungidos do Senhor’”.[viii]

Os três ofícios, profeta, sacerdote e rei, foram desempenhados pelo Senhor Jesus Cristo. E, de fato, todos aqueles que, no Antigo Testamento, desempenharam essas funções e, por essa razão, eram conhecidos como os “ungidos do Senhor”, apontavam para Jesus Cristo. 
Todos os profetas, sacerdotes e reis da antiga administração do Pacto eram tipos de Jesus Cristo, prefiguravam o Messias, o Ungido de Deus.

Catecismo Maior de Westminster, respondendo à pergunta 42[ix], diz o seguinte sobre o tríplice ofício de Cristo: “O nosso Mediador foi chamado Cristo porque foi, acima de toda a medida, ungido com o Espírito Santo; e assim separado e plenamente revestido com toda a autoridade e poder para exercer as funções de profeta, sacerdote e rei da sua Igreja, tanto no estado de sua humilhação, como no da sua exaltação”.[x] 

O mesmo está expresso pela Confissão de Fé de Westminster, no capítulo sobre “Cristo, o Mediador”: “I. Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem, o Profeta, Sacerdote e Rei, o cabeça e Salvador de sua Igreja, o Herdeiro de todas as coisas e o Juiz do mundo”.[xi]William G. T. Shedd expõe as maneiras como Cristo desempenhou os três ofícios da seguinte maneira: 

Seu ofício profético é ensinado nas seguintes passagens: “O SENHOR, teu Deus, te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim” (Dt 18.15,18; Atos 3.22); “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para pregar boas-novas” (Is 61.1; Lc 4.18). 

Seu ofício sacerdotal é ensinado nas seguintes passagens: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque” (Sl 110.4; Hb 5.5-6); “Tendo, pois, a Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus” (Hb 4.14-15). 

Seu ofício real é ensinado nos seguintes textos: “o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6-7); “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (Sl 2.6).[xii]



A afirmação de Turretin também é interessante:

Agora, como todos os tipos relacionados com Cristo obtiveram o seu cumprimento nele, Cristo deve apresentar a verdade desse tríplice ofício em si mesmo, mas muito mais perfeitamente do que nos outros – não apenas em razão da conjugação destas três partes (que nenhum homem poderia cumprir ao mesmo tempo, como já vimos), mas também em virtude da eminência e dignidade, tanto do seu ofício como dos seus dons.[xiii]

Conclusão

A conclusão à qual podemos chegar após o arrazoado feito até aqui, é que todos aqueles que sob a economia do Antigo Testamento foram chamados de “ungidos do Senhor” serviam como tipos de Jesus Cristo, ou seja, eles eram prefigurações de Jesus, apontavam para o verdadeiro Messias, o verdadeiro Ungido. 

Sendo assim, a expressão “ungido do Senhor” é claramente messiânica, e todos aqueles que nos dias de hoje se apropriam de tal expressão estão, na realidade, agindo com um maligno messianismo, colocando-se no mesmo patamar de Jesus Cristo, exigindo das pessoas sob seus cuidados uma revência, uma dignidade e honra que pertencem exclusivamente a Jesus, o Ungido do Senhor.

 Além disso, esconder-se atrás da expressão “ungido do Senhor” é, de certo modo, esposar o episcopado romanista. Aqueles que se consideram como os intocáveis “ungidos do Senhor” dão a entender que possuem um tipo de unção diferenciada, uma unção desconhecida e não possuída pelas pessoas comuns, os membros da igreja, o que é algo falso e antibíblico. Pastores não são “ungidos do Senhor” de maneira diferenciada. 

Eles não são Ungidos, Messias, dotados de um tipo de “imunidade diplomática”. Vociferar: “A Bíblia diz: Ai daquele que tocar no ungido do Senhor! Por isso, não me toque! Não queira ser meu inimigo, pois o Senhor pesa a mão sobre todos aqueles que tocam nos seus ungidos!”, é cometer um sério atentado contra a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes.

 O Novo Testamento apresenta uma expansão nesse conceito, mostrando que todos aqueles que estão unidos a Jesus Cristo, o verdadeiro Ungido do Senhor, são igualmente ungidos pelo Espírito Santo como profetas, sacerdotes e reis. 

O apóstolo Pedro faz uma afirmação fantástica nesse sentido: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pedro 2.9). Os três ofícios são mencionados por Pedro: “sacerdócio real” (ofícios sacerdotal e real), e “a fim de proclamardes” (ofício profético). 

O apóstolo está falando de todos os verdadeiros crentes. Todos eles são “sacerdócio real”. Todos têm o dever de proclamar “as virtudes daqueles que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”. Encerro com a correta afirmação de Geerhardus Vos: “O Rei ‘ungido’ e o povo ‘ungido’ estão intimamente relacionados. 

O caso paralelo da atribuição da ‘filiação’ a ambos sugere a possibilidade da posse comum da ‘unção’ por parte de ambos. No Novo Testamento, a unção é concedida tanto a Cristo como aos crentes”.[xiv]

 Portanto, ninguém pode dizer: “Sou um ungido do Senhor, e por isso, ninguém pode tocar em mim!”, sem incorrer em grave falta.




 Referências Bíbliograficas


[i]
 Victor P. Hamilton, In: R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr., e Bruce K Waltke. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001. p. 885.

[ii]
 Geerhardus Vos. The Self-Disclosure of Jesus: The Modern debate about the Messianic Consciousness. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2002. p. 105.

[iii]
 Matthew Poole. A Commentary On the Holy Bible: Genesis-Job. Vol. 1. Grand Rapids, MI: Hendrickson Publishers, 2010. p. 572.

[iv]
 Gerard van Groningen. Revelação Messiânica no Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p. 29.

[v]
 Ibid. p. 30.

[vi]
 Ibid. p. 31.

vii]
 O teólogo genebrino Francis Turretin afirma que, “nunca conhecemos ninguém que, perfeitamente, cumpriu os três ofícios. Eles estavam reservados para Cristo”. Cf. Francis Turretin. Institutes of Elenctic Theology
Vol. 2. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1994. p. 392. Todavia, a discordância pode ser entendida quando leva-se em consideração que Turretin tem em mente o ofício real em si mesmo, ao passo que menciono Moisés e Samuel não como reis, mas simplesmente como homens que exerceram o governo entre o povo de Irael.

[viii]
 Ibid.

[ix]
 Pergunta 42: Por que foi o nosso Mediador chamado Cristo?

[x]
 O CATECISMO MAIOR DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p. 52. Ênfase acrescentada.

[xi]
 A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. São Paulo: Cultura Cristã, 2003. pp. 73-74.

[xii]
 William G. T. Shedd. Dogmatic Theology. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2003. p. 681.

[xiii]
 Francis Turretin. Institutes of Elenctic TheologyVol. 2. p. 394.

[xiv]
 Geerhardus Vos. The Self-Disclosure of Jesus: The Modern debate about the Messianic Consciousness. p. 107.






Segue abaixo alguns dos sintomas que caracteriza alguém que possivelmente tenha sido contaminado pelo vírus da síndrome do estrelismo gospel:

1 – Necessidade de aparecer na mídia, inclusive a secular.

2 – Sensação de que, o culto não acontece sem a sua presença.

3 – Tristeza quando um crente não pede autografo.

4 – Não participa do culto, porque chega sempre na hora de se apresentar (pregar ou cantar).

5 – Fica ressentido quando é chamado de irmão, ao invés de reverendo, cantor, bispo ou pastor.

6 – No culto o seu assento precisa ter um lugar de destaque.

7 – Participa do evento somente quando o hotel é cinco estrelas, e a viagem é de primeira classe.

8 – Sucesso ministerial é sinônimo de vendas de Cds, Dvds, ou livros, como também, uma agenda cheia de compromissos.

9 – Para que um mero mortal consiga falar com ele (a), precisa passar pela secretaria.

10 – Comparece ao culto somente quando o cachê (que normalmente é exorbitante), já está pago ou previamente combinado.

O antídoto contra este veneno que tem se alastrado no tempo presente em muitos corações ávidos pelo “sucesso ministerial”, continua sendo aquele proposto por Paulo (o apóstolo): 

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo.” (Gálatas 6.14)
***

Samuel Torralbo é colunista do Púlpito Cristão, e contribui com a subversividade ao mundo Gospel.

Fonte: Púlpito cristão

domingo, 20 de janeiro de 2013


Silas Malafaia desmente matéria da Forbes sobre sua renda

Pastor afirma que irá processar a revista
Silas Malafaia desmente matéria da Forbes sobre sua renda

Pela segunda vez no mês de janeiro, o pastor Silas Malafaiavê seu nome na imprensa brasileira ser associado à arrecadação de dinheiro de maneira negativa.
A edição da Veja São Paulo fez uma matéria sobre os “bastidores” de um encontro promovido por ele. Agora, a versão brasileira da Forbes o colocou como o terceiro pastor mais rico do país, com uma fortuna estimada em US$ 150 milhões.
Embora a Forbes diga que obteve os dados junto ao Ministério Público e Polícia Federal, o pastor Malafaia usou seu site de noticias para publicar um desmentido do que chamou de “safadeza” da revista.
Para ele, trata-se de “um jogo muito bem organizado para denegrir pastores evangélicos a fim de que a sociedade tenha uma ideia de que pastor é um malandro usurpando dinheiro de imbecis e idiotas a fim de se locupletar”.
Silas enfatiza que não tem salário da igreja há mais de 25 anos e que sempre divulgou os dados de sua igreja. A Forbes teria juntado as receitas estimadas da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, da Associação Vitória em Cristo, o faturamento da Editora Central Gospel e as ofertas voluntárias que ele recebe por palestras dadas.
O pastor garante que o cálculo está errado por que ele não é “dono” das igrejas Vitoria em Cristo nem da Associação com o mesmo nome. Além disso, a soma da Forbes seria mais do que o dobro do valor real que seu ministério possui.
Concluiu dizendo que todo seu patrimônio pessoal e renda estão declarados na Receita Federal. Como o Ministério Publico e a Polícia Federal não teriam autoridade legal para dar esse tipo de informação, Malafaia irá processar a revista Forbes Brasil.
Coincidência ou não, no final de 2012 Malafaia usou seu programa de TV para avisar aos evangélicos que seu ministério sofreria uma série de ataques da imprensa. Isso seria parte de uma campanha orquestrada pelo PT com o objetivo de abalar sua credibilidade. O pastor disse que amigos seus, que trabalham em “órgãos de informação, imprensa e política partidária”, o alertaram que poderia ser vítima de boatos e acusações, e que se trata de uma questão política, pois ele participou da campanha de muitas pessoas nas últimas eleições


Forbes lista os pastores mais ricos do Brasil, Edir Macedo lidera
Os dados foram somados de acordo com órgãos federais como o Ministério Público e a Polícia Federal

A revista Forbes realizou uma pesquisa e listou os cinco pastores mais ricos do Brasil se baseando em dados do Ministério Público Federal, da União e da Polícia Federal.
A publicação diz que a fé é algo “altamente lucrativo” que tornou alguns dos líderes multimilionários. A lista com os pastores mais ricos não surpreende se falarmos também dos televangelistas mais conhecidos do país, homens que investem em meios de comunicação comprando emissoras de TV ou até mesmo alugando diversos horários em outras emissoras.
Pela lista da Forbes o pastor mais rico do Brasil é o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. O patrimônio dele estaria estimado em US$ 950 milhões (em dólares) e há uma observação na revista americana dizendo que o governo brasileiro acredita que este montante seja ainda maior.
Em segundo lugar está o apóstolo Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, que depois de se desligar da IURD conseguiu acumular US$220 milhões em patrimônios.
O pastor Silas Malafaia aparece em terceiro lugar com US$ 150 milhões, a revista cita que o presidente da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo é o mais sincero entre os pastores e que sempre está envolvido com polêmicas relacionadas a comunidade gay.
O missionário R. R. Soares aparece em quarto lugar, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus ele é o televangelista mais conhecido do país e seu patrimônio chega em US$ 125 milhões.
Em último lugar aparece o casal Estevam e Sonia Hernandes, fundadores da Igreja Renascer. A Forbes afirma que o patrimônio deles é de US$ 65 milhões citando também os problemas judiciais que eles tiveram nos Estados Unidos em 2007 quanto tentaram entrar no país com 56.000 dólares não declarados.
A publicação americana entrou em contato com todos os líderes listados para confirmar os valores e não teve retorno por parte da assessoria dos brasileiros.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Concepção de religião, segundo Karl Marx






Karl Marx
Karl Heinrich Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. Wikipedia



Concepção de religião, segundo Karl Marx



Discutir-se-á os pressupostos metodológicos e epistemológicos da sociologia da religião em aportes teóricos subjacentes na sociologia de Marx, enfocando as abordagens relativas à questão da ordem social e suas mudanças.
A maneira marxiana de analisar a realidade social é fundada numa perspectiva ontológica, o que a diferencia substancialmente de Durkheim e Weber. A perspectiva ontológica marxiana difere, em suas linhas básicas e essenciais, das perspectivas gnosiológicas de análise da realidade social. A perspectiva ontológica busca entender, como o em si pode ser capturável em sua integridade. Na perspectiva de Marx, qualquer componente da ação ou da identidade dos indivíduos que não resulte ou não se vincule diretamente a sua inserção “objetiva” no processo produtivo tem um status meramente residual. A devoção religiosa, na medida em que não é um componente essencial das identidades individuais, não foge a essa regra. Tudo que se tem a dizer sobre ela é que é inconsistente com a identidade essencial dos indivíduos, são cognições disfuncionais com o que indivíduos históricos concretos virão a ser. Portanto, a religião não é propriamente objeto de seu estudo, mas de condenação.
Para Marx: “tudo o que existe, tudo o que vive sobre a Terra e sob a água, não existe e não vive, senão em virtude de um movimento qualquer. Assim, o movimento da história cria as relações sociais, o movimento da indústria nos proporciona os produtos industriais etc.”(Miséria da Filosofia).
Ao criticar o método do “Sr. Proudhon”, Marx diz que aquilo que Hegel fez para a religião, o direito etc., o “Sr. Proudhon” “pretende fazer para a economia política.” Ou seja, Marx critica não a dialética, mas a maneira proudhoniana, idealista, de tratar a dialética. Ao contrário de eternizar as idéias, as categorias, Marx as entende como sendo “produtos históricos e transitórios”.
Para o “Sr. Proudhon”,
“cada categoria econômica tem dois lados, um bom e outro mal. Considera as categorias como o pequeno-burguês considera as grandes figuras históricas: Napoleão é um grande homem; fez muito bem, mas também fez muito mal.O lado bom e o lado mal, a vantagem e o incoveniente, tomado em conjunto, formam, segundo Proudhon, a contradição inerente a cada categoria econômica. Problema a resolver: conservar o lado bom, eliminando o mal”. (Idem).
No exercício de explicitação do método gnosiológico do “Sr. Proudhon” em a Miséria da Filosofia, Marx traça as linhas do seu próprio “método”. Neste texto, Marx procura demonstrar ontologicamente, como o em si pode ser capturável em sua integridade. Para ele, a fonte da ciência está no conhecimento crítico do movimento histórico, movimento esse que produz ele próprio as condições materiais da emancipação humana.
A dialética hegeliana era a dialética do idealismo (doutrina filosófica que nega a realidade individual das coisas distintas do “eu” e só lhes admite a idéia), e a dialética do materialismo é posição filosófica que considera a matéria como a única realidade e que nega a existência da alma, de outra vida e de Deus. Ambas sustentam que realidade e pensamento são a mesma coisa: as leis do pensamento são as leis da realidade. A realidade é contraditória, mas a contradição supera-se na síntese que é a “verdade” dos momentos superados.
Hegel considerava ontologicamente (do grego onto + logos parte da metafísica, que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais) a contradição (antítese) e a superação (síntese). Marx considerava historicamente como contradição de classes vinculada a certo tipo de organização social. Hegel apresentava uma filosofia que procurava demonstrar a perfeição do que existia (divinização da estrutura vigente). Marx apresentava uma filosofia revolucionária que procurava demonstrar as contradições internas da sociedade de classes e as exigências de superação.
Para Marx, a partir do instante em que o processo do movimento dialético se reduz ao simples processo de opor o bem ao mal, de equacionar problemas cuja finalidade consiste em eliminar o mal e empregar uma categoria como antídoto da outra, as categorias perdem sua espontaneidade, a idéia “deixa de funcionar”, já não há vida nela.
Neste sentido, o movimento da história é um processo de construção, satisfação e reconstrução contínua, não linear, das necessidades humanas. É isso que distingue o homem dos animais, cujas necessidades são fixas e imutáveis. É por essa razão que o trabalho, esse intercâmbio criador entre os homens e seu ambiente natural, está na base da sociedade humana. A relação entre o indivíduo e o seu ambiente material estabelece-se por mediação das características particulares da sociedade a que pertence. Quando pretendemos estudar a evolução da sociedade humana, temos de partir do exame dos processos concretos da vida social que constitui condition sine qua non da existência humana.
A essência do homem é não ter essência, a essência do homem é algo que ele próprio constrói, ou seja, a História. “A existência precede a essência”; nenhum ser humano nasce pronto, mas o homem é, em sua essência, produto do meio em que vive que é construído a partir de suas relações sociais em que cada pessoa se encontra. Assim como o homem produz o seu próprio ambiente, por outro lado, esta produção da condição de existência não é livremente escolhida, mas sim, previamente determinada. O homem pode fazer a sua História, mas não pode fazer nas condições por ele escolhidas. O homem é historicamente determinado pelas condições, logo é responsável por todos os seus atos, pois ele é livre para escolher. Logo todas as teorias de Marx estão fundamentadas naquilo que é o homem, ou seja, o que é a sua existência. Portanto, Marx vê a racionalidade como autocontida, e cognições que a transcendam (a religião) são meras derivações que servem à legitimação dos interesses materiais dos atores.
Para Marx as relações sociais do homem são tidas pelas relações que o homem mantém com a natureza, onde desenvolve suas práticas, ou seja, o homem se constitui a partir de seu próprio trabalho, e sua sociedade se constitui a partir de suas condições materiais de produção, que dependem de fatores naturais (clima, biologia, geografia … ) ou seja, relação homem-natureza, assim como da divisão social do trabalho, sua cultura.
Marx expressa no Manifesto aspectos que se vêem todos transformados:
“A burguesia rompeu com todos os laços feudais que subordinavam os homens aos seus ‘superiores naturais’, e não deixou entre homem e homem nenhum outro laço senão seus interesses nus, senão o empedernido salário. Transformou o êxtase paradisíaco do fanatismo piedoso (…) A burguesia despiu o halo de todas as ocupações até então honoráveis, encaradas com reverente respeito (…) Em lugar da exploração mascarada sob ilusões religiosas e políticas, ela colocou uma exploração aberta, desavergonhada, direta e nua.” (p. 475-76)
A oposição aqui feita por Marx é basicamente entre o que é aberto ou nu e o que é escondido, velado, vestido. Para ele na maior parte do pensamento especulativo antigo e medieval, todo o universo da experiência sensual parece como o ilusório e o verdadeiro universo é concebido como acessível somente através da transcendência dos corpos, do espaço e do tempo. Em algumas tradições, a realidade é acessível através da meditação religiosa ou filosófica; em outras, só estará à nossa disposição numa existência futura, pós-morte. (BERMANN, 1986; 104)
Para Marx, a moderna transformação, iniciada na época da Renascença e da Reforma, coloca ambos os universos na terra, no espaço e no tempo, preenchidos com seres humanos. Agora o falso universo é visto como o passado histórico, um mundo que perdemos (ou estamos a ponto de perder), enquanto o universo verdadeiro consiste no mundo físico e social que este para nós, aqui e agora (ou está a ponto de existir).
Assim como o movimento da história não é mais do que a sucessão das várias gerações distintas, cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças produtivas que herdou de todas as gerações precedentes, continuando assim, por um lado, a atividade tradicional, em condições completamente diferentes, e modificando, por outro lado, as antigas condições, por intermédio de uma atividade completamente modificada. A sociedade é comparada a um edifício no qual as fundações, a infraestrutura, seriam representadas pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a superestrutura, representaria as idéias, costumes, instituições (políticas, religiosas, jurídicas etc.).
Para Marx, religião é a teoria geral deste mundo, a sua soma enciclopédia, a sua lógica sob forma popular o “son point d’honnem” espiritualista, seu entusiasmo, a sua sanção moral, o seu complemento solene, a sua consolação e justificação universal. É a realização fantástica do ser humano porque o ser humano não possui verdadeira realidade.
A ênfase dada à racionalidade prática pode conduzir a uma riquíssima teoria de mudança social: desmistifica certas relações de poder e anda de par com a busca do carisma que, por definição a ela se contrapõe. Assim como a ênfase no aspecto cognitivo das religiões também conduz a uma teoria da mudança social. Por outro lado, a ênfase nos aspectos emocionais, conduz a uma riquíssima teoria de coesão social e ao ensaio genial de que as nossas comunicações e cognições não operam sobre bases cognitivas e sim emocionais

Francisco Haas