Derrubadas, removidas, pichadas e desfiguradas, figuras ligadas à colonização, escravidão e ao fascismo foram alvos de manifestações
ANDRÉ NOGUEIRA PUBLICADO EM 15/06/2020, ÀS 12H56
Durante os protestos antirracistas, antifascistas e antissistema que vêm tomando o mundo, com foco nos EUA, muitas estátuas em homenagem a nomes ligados ao escravismo e ao colonialismo estão sendo pichadas, desfiguradas, derrubadas ou removidas de seus pedestais por esforços de mudança dos paradigmas de memória.
Conheça os nomes de figuras que tiveram seus monumentos alterados nessa onda de manifestações
Símbolos de homens do passado ligados ao escravismo foram destruídos ou removidos pelos próprios governos por pressões da sociedade. Um dos casos mais famosos se encontra com a figura do navegador Cristóvão Colombo, responsável pelo início do genocídio indígena na América, cuja estátua fora decapitada em Boston e derrubada em Richmond. Estátuas suas também foram vandalizadas em Wilkes-Barre e Springfield.No Reino Unido, a homenagem ao traficante de escravos Edward Colston foi lançada num rio, mesmo destino de John McDonogh, empresário colonialista, em Nova Orleans. Já no Oregon, uma série de protestos nas universidades derrubou duas estátuas de Alexander Phimister Proctor, que fazia referência aos pioneiros europeus da colonização (The Pioneer e The Pioneer Mother).
Tiveram o mesmo destino monumentos a figuras importantes da defesa da escravidão nos EUA: Thomas Jefferson, em Portland, e Jefferson Davis, em Richmond. Já outras estátuas foram removidas pelo governo após muitas pressões e depredações contra estátuas. No Reino Unido, por exemplo, um monumento a Robert Milligan, traficante de escravos, em Londres, e uma estátua de um menino escravo carregando peso em Dunham foram retirados.
Além disso, após fortes depredações de uma estátua do rei Leopoldo II na Antuérpia (Bélgica), o símbolo foi removido, assim como uma representação do militar colonizador John Hamilton, na cidade de Hamilton, na Nova Zelândia.
Vandalizadas
Os protestos ao redor do mundo também picharam com acusações de racismo e destruíram parcialmente estátuas de figuras polêmicas de tempos mais recentes. É o caso de Winston Churchill, em Londres.Nos EUA, figuras como Robert E. Lee (Richmond), general confederado e Matthew Deady (Eugene), colonizador foram pichados. O mesmo ocorreu em Melbourne (Austrália) com a imagem do navegador e colonizador James Cook e, em Auckland (Nova Zelândia) com George Grey. Uma imagem de Indro Montanelli, em Milão, Itália, foi desfigurada em protestos antifascistas por sua ligação com o programa de colonização do chifre africano de Mussolini.
Pichações também afetaram figuras como Robert Dundas, Henry Temple (Visconde de Palmerston) e Tomas Carlyle, aristocratas britânicos, no Reino Unido, assim como placas em Londres e Berlim com nomes associados ao racismo.
Monumentos foram ameaçados de destruição, mas não chegaram a ser atingidos. É o caso de Robert Clive (militar colonial) e Robert Peel (político) em Londres, além de Gandhi e Mandela, protegidos contra eventuais ataques da extrema-direita, e o fundador do escotismo Robert Baden-Powell (militar e colonialista) em Poole, que teve interferências estéticas mas foi protegido pela população.
Em outro protesto, em Dunedin, na Escócia, duas estátuas sofreram com pichações e cartazes: o poeta Robbie Burns, figura central do país, mas acusado de racismo e crimes de estupro, e a Rainha Vitória, responsável por ações de colonização na Ásia, na África e no próprio Reino Unido.
Pedidos de remoção
Além disso, já movimentos da sociedade civil pelo mundo que apelam ao governo para que estátuas ligadas ao escravismo sejam derrubadas, mas que ainda não sofreram ataques propriamente ditos dessas manifestações.
Na cidade de São Paulo, Brasil, abaixo-assinados pedem a derrubada do Monumento às Bandeiras, que homenageia o movimento de adentramento à colônia por caçadores de índios, e a estátua de Manoel Borba Gato, famoso pela prisão de indígenas e africanos para o mercado de escravos.
Além disso, em Boston, existe uma petição pela derrubada de uma estatua de Abraham Lincoln com um escravo aos pés; uma do ex-presidente William Henry Harrison em Cincinnati; e no Texas, pela retirada de Lawrance Sullivan Ross, político ligado ao escravismo.
Em Oxford, há pedidos contra um monumento ao empresário Cecil Rhodes, central na colonização da África, e em Montreal (Canadá), contra o proprietário de escravos James McGill.