domingo, 17 de março de 2013

Epistemologia




Epistemologia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
O conhecimento como um conjunto de crenças verdadeiras.

Epistemologia (do grego ἐπιστήμη [episteme] - conhecimentociência; λόγος [logos] - estudo de), também chamada de teoria do conhecimento científico, é o ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento. Entre as principais questões debatidas pela epistemologia destacam-se:
  • O que é o conhecimento?
  • Como obtemos conhecimento?
  • Como o ceticismo ajuda a humanidade a separar as crenças falsas das crenças verdadeiras e justificadas?
  • Como defender os nossos modos de conhecer das investidas do pseudo-ceticismo?
A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, motivo pelo qual também é conhecida comoteoria do conhecimento. Relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência, pois, em uma de suas vertentes, avalia a consistência lógica de teorias e suas credenciais científicas. Este facto torna-a uma das principais áreas da filosofia (à medida que prescreveria "correções" à ciência). A sua problemática compreende a questão da possibilidade do conhecimento - nomeadamente, se é possível ao ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, dos limites do conhecimento (haveria realmente uma distinção entre o mundo cognoscível e o mundo incognoscível?) e da origem do conhecimento (Por quais faculdades atingimos o conhecimento? Haverá conhecimento certo e seguro em alguma concepção a priori?).

Índice

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[editar]Origem

Provável forma usada por Pitágoras para demonstrar o teorema que leva o seu nome.
Pode-se dizer que a epistemologia se origina em Platão. Ele opõe a crença ou opinião ("δόξα", em grego) aoconhecimento. A crença é um determinado ponto de vista subjetivo. O conhecimento é crença verdadeira ejustificada.
A teoria de Platão abrange o conhecimento teórico, o saber que. Tal tipo de conhecimento é o conjunto de todas aquelas informações que descrevem e explicam o mundo natural e social que nos rodeia. Este conhecimento consiste em descrever, explicar e predizer uma realidade, isto é, analisar o que ocorre, determinar por que ocorre dessa forma e utilizar estes conhecimentos para antecipar uma realidade futura.
Há outro tipo de conhecimento, não abrangido pela teoria de Platão. Trata-se do conhecimento técnico, o saber como.
A epistemologia também estuda a evidência (entendida não como mero sentimento que temos da verdade do pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de reconhecimento da verdade.
Ante a questão da possibilidade do conhecimento, o sujeito pode tomar diferentes atitudes:
  • Dogmatismo: atitude filosófica pela qual podemos adquirir conhecimentos seguros e universais por inspiração, e ter disso.
  • Cepticismo (AO1990: ceticismo): atitude filosófica oposta ao dogmatismo, a qual duvida de que seja possível um conhecimento firme e seguro, sempre questionando e pondo à prova as crenças, e dependendo dos resultados afirmativos destas provas as crenças podem se tornar convicção ou certeza. Esta postura foi defendida por Pirro de Élis.
  • Relativismo: atitude filosófica defendida pelos sofistas que nega a existência de uma verdade absoluta e defende a ideia de que cada indivíduo possui sua própria verdade, que é em função do contexto histórico do indivíduo em questão.
  • Perspectivismo: atitude filosófica que defende a existência de uma verdade absoluta, mas pensa que nenhum de nós pode chegar a ela senão a apenas uma pequena parte. Cada ser humano tem uma visão parcial da verdade. Esta teoria foi defendida por Nietzsche e notam-se nela ecos de platonismo.

[editar]Conhecimento

[editar]Saber quesaber como e conhecimento por familiaridade

Em geral, a epistemologia discute o conhecimento proposicional ou o "saber que". Esse tipo de conhecimento difere do "saber como" (know-how) e do "conhecimento por familiaridade". Por exemplo: sabe-se que 2 + 2 = 4 e que Napoleão foi derrotado na batalha de Waterloo; e essas formas de conhecimento diferem de saber como andar debicicleta ou como tocar piano, e também diferem de conhecer uma determinada pessoa ou estar "familiarizado" com ela. Alguns filósofos consideram que há uma diferença considerável e importante entre "saber que", "saber como" e "familiaridade" e que o principal interesse da filosofia recai sobre a primeira forma de saber.
Em seu ensaio Os Problemas da FilosofiaBertrand Russell distingue o "conhecimento por descrição" (uma das formas de saber que) do "conhecimento por familiaridade".[1]Gilbert Ryle dedica atenção especial à distinção entre "saber que" e "saber como" em seu O Conceito de Mente.[2] Em Personal KnowledgeMichael Polanyi argumenta a favor da relevância epistemológica do saber-como e do saber-que. Usando o exemplo do equilíbrio envolvido no ato de andar de bicicleta, ele sugere que o conhecimento teórico da física na manutenção do estado de equilíbrio não pode substituir o conhecimento prático sobre como andar de bicicleta. Para Polanyi, é importante saber como essas duas formas de conhecimento são estabelecidas e fundamentadas. Essa posição é a mesma de Ryle, que argumenta que, se não consideramos a diferença entre saber-que e saber-como, somos inevitavelmente conduzidos a um regresso ao infinito.
Mais recentemente, alguns epistemólogos (Ernest SosaJohn GrecoJonathan KvanvigLinda Trinkaus Zagzebski) argumentaram que a epistemologia deveria avaliar as propriedades das pessoas (isto é, suas virtudes intelectuais) e não somente as propriedades das proposições ou das atitudes proposicionais da mente. Uma das razões é que as formas superiores de processamento cognitivo (como, por exemplo, o entendimento) envolveriam características que não podem ser avaliadas por uma abordagem do conhecimento que se restrinja apenas às questões clássicas da crença, verdade e justificação.

[editar]Estudos recentes

Segundo Lalande, trata-se de uma filosofia das ciências, mas de modo especial, enquanto:
É essencialmente o estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados das diversas ciências, destinado a determinar sua origem lógica (não psicológica), seu valor e seu alcance objetivo.
Para Lalande, ela se distingue, portanto, da teoria do conhecimento, da qual serve, contudo, como introdução e auxiliar indispensável.
Portanto, temos que epistemologia é o estudo sobre o conhecimento científico, ou seja, o estudo dos mecanismos que permitem o conhecimento de determinada ciência.
Japiassu distingue dois tipos de Epistemologia
  • Epistemologia global ou geral que trata do saber globalmente considerado, com a virtualidade e os problemas do conjunto de sua organização, quer sejam especulativos, quer científicos;
  • Epistemologia específica que trata de levar em conta uma disciplina intelectualmente constituída em unidade bem definida do saber e de estudá-la de modo próximo, detalhado e técnico, mostrando sua organização, seu funcionamento e as possíveis relações que ela mantém com as demais disciplinas.
Segundo Trindade:
Todo conhecimento torna-se, devido à necessária vinculação do meio ao indivíduo que pertence ao próprio meio, um autoconhecimentoEssa interação faz-se cogente pela gênese unívoca entre os muitos integrantes do mundo da vida, sem olvidar que o homem é um desses integrantes [...] Ocorre, deste modo, um acoplamento estrutural entre o sistema nervoso do observador e o meio, proporcionando, assim, uma mútua transformação/adaptação. O ser é modificado pelo meio ao qual o próprio ser pertence e modifica."(2007, p. 97).

[editar]Ver também

[editar]Bibliografia

  • BOMBASSARO, Luiz Carlos. As fronteiras da Epistemologia. 3a. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.
  • DESCARTES, Rene. Discurso do método.
  • DESCARTES, Rene. Memórias.
  • Grayling, A. C. Epistemology, in Bunnin, Nicholas & Tsui-James, E. P. (eds.) The Blackwell companion to philosophy. 2nd ed. Oxford: Blackwell, 2003.
  • JAPIASSU, Hilton F. O mito da neutralidade científica. Rio, Imago, 1975 (Série Logoteca), 188 p.
  • KANT, Imanuel. Crítica da Razão Pura.
  • MANNHEIM, Karl. Ideologia e Utopia.
  • Russell, Bertrand The Problems of Philosophy. Home University Library, 1912. Tradução para o português.
  • Ryle, GilbertThe concept of mind. The University of Chicago Press, 2002. (Publicado originalmente em 1949). ISBN 0-226-73296-7.

Meditações sobre Filosofia Primeira




Meditações sobre Filosofia Primeira


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Meditações sobre Filosofia Primeira, de Descartes.
Meditações sobre Filosofia Primeira (originalmente em latimMeditationes de prima philosophia, in qua Dei existentia et animæ immortalitas demonstratur) é o nome de um livro publicado por René Descartes em 1641. Trata-se de um aprofundamento da filosofia elaborada nas Regras para a orientação do espírito (1627?) e no Discurso sobre o método (1637).
Meditações compõe-se de primariamete de seis meditações ou partes, nas quais Descartes tenta estabelecer o que podemosconhecer com segurança. Além das seis meditações há um conjunto de sete objeções e respostas.

Índice

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[editar]Esboço das seis meditações

[editar]Primeira Meditação

Adota a dúvida como método. Apresenta o critério para a dúvida: tomar por falso todo o duvidoso; apresenta as razões para a dúvida:
  • Engano dos sentidos
  • Composição pela imaginação
  • Sonho
  • Loucura
  • Deus enganador
  • Gênio maligno

[editar]Segunda Meditação

Encontra algo que resista à dúvida: a frase "Sou" (conhecida como cogito) é verdadeira sempre que dita ou pensada

[editar]Terceira Meditação

Na terceira meditação, Descartes está disposto a provar que Deus existe. Estando em uma situação em que ele sabe que algumas de suas ideias não são verdadeiras (hipótese do gênio maligno), ele acha a prova antológica (mais inteligente). Existem três passos argumentativos para provar que a ideia de Deus é verdadeira: 1 – o encontrar a ideia de perfeição 2 – analisar a ideia de perfeição. Potencializar ao limite as ideias positivas no seu grau máximo. 3 – análise da ideia de casualidade (causa e efeito). Tem que haver mais realidade na causa do que no efeito. A hipótese do gênio perde então a sua razão.
Sendo a hipótese do gênio uma ilusão é preciso achar qual é a causa da potencialidade máxima de todas as propriedades positivas existentes: a existência da perfeição. “ da idéia de perfeição, presente em meu espírito, infiro a existência da perfeição como única causa possível desta idéia.”

[editar]Quarta Meditação

Teodicéia epistemológica onde se mostra que o homem, e não Deus, é o responsável pelos erros.

[editar]Quinta Meditação

São retirados os motivos para duvidar da matemática e da geometria.

[editar]Sexta Meditação

São retirados os motivos para duvidar das sensações. É provada a existência dos corpos.

[editar]Esboço das objeções e respostas

[editar]Primeiras Objeções

Compostas por Caterus, um teólogo escolástico.

[editar]Segundas Objeções

Compostas provavelmente por Marin Mersenne.

[editar]Terceiras Objeções

Compostas por Thomas Hobbes.

[editar]Quartas Objeções

Compostas pelo então jovem teólogo Antoine Arnauld.

[editar]Quintas Objeções

Compostas por Pierre Gassendi.

[editar]Sextas Objeçoes

[editar]Sétimas Objeções

Compostas pelo padre Pierre Bourdin.

sábado, 16 de março de 2013

A teologia destrói a fé





A teologia destrói a fé





Um dia desses fui procurado por um jovem obreiro que me abordou com o seguinte argumento: professor aprendi em minha antiga igreja que a teologia destrói a nossa fé. Hoje, estou em outra denominação e tenho desejo de estudar teologia, mas tenho medo! O jovem então definiu me perguntando: é verdade que a teologia destrói mesmo a fé das pessoas?

 Subitamente lhe respondi: Sim meu irmão, a teologia destrói a fé das pessoas! E prossegui: a teologia destrói sua fé medíocre e flácida e lhe dá uma fé verdadeira e ampla. A teologia destrói a sua fé sem base e sem vida e lhe dá uma fé avivada e contagiante. A teologia destrói a sua fé duvidosa, limitada, frágil, anêmica e temerosa e lhe proporciona uma fé superior e fortalecida.

 Infelizmente algumas pessoas herdaram um conceito de teologia tão desequilibrado que chega a se tornar até mesmo antibíblico.

 É importante saber que a causa da existência de principais vitalidades na esfera cristã, se deu justamente por causa de teólogos com fervor espiritual e de uma teologia comprometida com a Verdade.

 Quero aqui apresentar os três gigantes momentos da questão em destaque: A Reforma Protestante, A Bíblia para todo o povo e a Expansão do Evangelho de Cristo.

  Se hoje existe a Igreja Evangélica, os Movimentos Evangélicos, Os Grupos Musicais na Igreja, As Agências Missionárias, Os pastores, Ministros e tudo que envolve o protestantismo, a causa e efeito maior foi justamente a ação de teólogos, que movidos pelo poder de Deus e conhecimento profundo nas Escrituras Sagradas, denunciaram na época a decadência da Igreja Romana, e buscaram a restauração da Igreja de Cristo, que estava num caminho de podridão, desvio doutrinário e decadência espiritual por parte da visão deturpada de seus “líderes”. 

Os nomes que fizeram parte dessa grande “reação” foram de Martinho Lutero (1483-1546), John Calvino (1509-1564), Úlrico Zwínglio (1484-1531), John Knox e muitos outros que incrivelmente eram Teólogos com a mais acadêmica formação em teologia.

 Lutero era Doutor em Teologia e professor de uma grande universidade, Calvino foi um teólogo tão expressivo que se tornou responsável pela sistematização doutrinária e pela expansão do protestantismo reformado. Zwínglio foi considerado o “pai do protestantismo reformado”. John Knox por sua vez se tonou o teólogo da Escócia. Estudou teologia e foi ordenado sacerdote, possivelmente em 1536.

 Todo esse mover de Deus por meio dos Teólogos e da teologia ficou conhecido como Reforma Protestante. As igrejas evangélicas (históricas, pentecostais, neopentecostais, comunidades cristã, etc.) são todas dessa mesma raiz, salvo é claro os pequenos movimentos desde a Idade Média, que bem antes rejeitavam as práticas romanas.

Como pode então a teologia destruir a fé das pessoas?

Outra grande verdade que exponho aqui é a questão das Traduções da Bíblia. Elas chegaram a nossas mãos! A Igreja Romana havia proibido a leitura da Bíblia aos leigos, ao povo. Por centenas de anos a Bíblia era uma exclusividade dos bispos, padres e autoridades do clero. Nem mesmo a Escritura nas diversas línguas era possível, pelo contrário, um ato desse seria uma grande “blasfêmia”, “heresia” de acordo com a Igreja Romana.

 Mais uma vez homens dotados de teologia e de profundo conhecimento bíblico se colocam á disposição de Deus para serem instrumentos de bênçãos para o mundo. Deus começa então um novo mover, as várias traduções da Bíblia se tornam um marco na história da Igreja Evangélica.

 Os reformadores defendiam as Escrituras Sagradas como única regra de fé e prática para todos os cristãos. Bem antes da Reforma Deus já havia iniciado essa grande obra, movendo o coração de um homem chamado John Wycliffe (1328-1384). 

Esse era professor da Universidade de Oxford e Teólogo de expressiva erudição, considerado um dos precursores da Reforma Protestante. Wycliffe trabalhou na primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe. A tradução de Wycliffe foi perseguida, ironizada, ridicularizada pelo romanismo, mas Deus levantou adiante outro teólogo chamado Willian Tyndale. A obra na pára.

 Lutero mesmo traduziu as Escrituras para o alemão. A sua tradução foi tão importante para o povo do seu país que estudiosos têm considerado Lutero como o pai da língua alemã. Um primo de Calvino traduziu a Bíblia para o Francês. 

A famosa versão King James, considerada a mais “perfeita” tradução foi produzida na Inglaterra, o sínodo de Dort, na Holanda, promoveu a tradução para o holandês. Meio século mais tarde, mas ainda como fruto da Reforma, João Ferreira de Almeida traduziu a Bíblia para a língua Portuguesa. Desde então, centenas de línguas têm recebido o texto Sagrado.

  Tudo isso está interligado á expansão do Evangelho de Cristo em todo o mundo. Por meio de uma igreja saudável e doutrinariamente ortodoxa, cheia de vida, restaurada, o poder de Deus e da chama do Evangelho pelas nações do planeta têm sido vistos a cada dia.

 Isso foi o poder de uma Teologia verdadeiramente fiel e bíblica. Ela jamais destruirá a fé das pessoas, mas as conduzirá como sempre fez, ao compromisso e conhecimento do Deus Verdadeiro. A única teologia que destrói a fé das pessoas é aquele que fere a Verdade, é a teologia interesseira, sem vida e sem os propósitos da Palavra.

 No demais, lembremos das palavras de Calvino: “Os erros jamais podem ser arrancados do coração humano, enquanto não for nele implantado o verdadeiro conhecimento de Deus.” [João Calvino, As Institutas – edição Clássica, Vol I, pag. 74, Ed Cep]

Uma mente debaixo da graça




Uma mente debaixo da graça

O estudo da teologia adquire significado quando lança base sólida para a construção da experiência.

Jon é estudante do primeiro ano de um curso de teologia e pertence a uma vibrante igreja. Ele faz trabalhos no campus onde estuda, e em breve será líder de uma congregação. Como muitos outros estudantes da disciplina, ingressou no seminário com bastante desejo no coração, mas pouco conhecimento do assunto. No ambiente acadêmico, a tarefa de questionar o mundo é levada a sério. Manter sua fé acanhada não é, por isso, uma opção para Jon. Ele se encontra em um mundo secular, onde sua crença sofre constante ataque. Como muitos novos estudantes de teologia, o rapaz sente-se ameaçado quando ouve que há diferentes tipos de cristãos. No começo, algumas das ideias apresentadas em sala de aula o aborreceram claramente. No entanto, aos poucos, ele aprendeu a lidar com tais questões. Agora, sente-se motivado a não apenas concluir os estudos, obter um diploma e partir para o ministério, mas também a tornar-se um cristão melhor – não apenas em seu coração, mas no entendimento de seu chamado e do exercício dele em sua geração.

Aos colegas e professores, Jon comenta que as coisas agora começam a fazer mais sentido. Ele está crescendo na fé, e o estudo das doutrinas – uma mente debaixo da graça – o está ajudando nesse crescimento. Só que doutrina é uma palavra que provoca, na mente moderna, uma série de imagens negativas: desde a memória da Inquisição, que em nome dela mandou gente arder na fogueira, ao enfado de ver teólogos debatendo sobre o número de anjos por metro quadrado no céu. De fato, doutrinas parecem bastante assustadoras. Cristãos vibrantes parecem querer cada vez menos relação com isso, preferindo focar suas atenções nas disciplinas espirituais, trabalhos de misericórdia e vida cristã autêntica. Para muita gente, doutrina pertence ao passado, e era geralmente usada para dividir a Igreja. Afinal, quantos protestantes, inclusive os reformadores, perderam tempo e energia discutindo se era permitido ou não mastigar o pão da ceia?

Será que é possível viver uma vida como discípulo de Cristo sem se deparar com questões doutrinárias? Se doutrina é uma forma de articular a maneira pela qual Deus manifesta sua presença na Igreja e, através dela, no mundo, ela pode trazer muito benefício, como no caso de Jon. Vista sob esse ângulo, a doutrina não é um peso, mas algo que ajuda o cristão em sua caminhada. Sua função não é a de dar aos crentes destaque na sociedade, mas ajudá-los a serem fiéis em seu contexto. A crise nas igrejas no Ocidente não são crises decorrentes da falta de informação, mas decorrentes do tipo de informação que tem sido passada. O filósofo James K.A.Smith apresenta isso de forma perfeita: “A teologia não é uma opção intelectual que faz de nós crentes inteligentes; é o conhecimento da graça que faz de nós discípulos fiéis.”

Para estabelecer bem a diferença entre uma coisa e outra, vale dizer que doutrina é a teologia organizada. E isso, a gente encontra em quaisquer credos e confissões de fé. Teologia, ou como se diz, “fazer teologia”, é o processo de se estudar e elaborar ideias que acabarão como doutrinas. Uma declaração doutrinária – como as declarações do credo Niceno, por exemplo – é sempre uma declaração teológica. Nem todas as declarações teológicas, no entanto, acabam se tornando premissas doutrinárias. Mesmo assim, os termos doutrina e teologia referem-se à abordagem intelectual da fé, que, como Smith afirma, transforma o cristão em discípulo fiel de Jesus. Doutrina existe para fazer com que vejamos nossa vida de forma mais profunda, considerando as implicações de viver em favor do próximo, fazendo o que é certo e beneficiando a todos. Em síntese, doutrina é a sabedoria que nos ajuda a entender qual é nossa missão. Mesmo assim, nós parecemos bastante desinteressados em doutrina nos dias atuais – dentro e fora da igreja.

Experiência X conhecimento – Friedrich Schleiermacher, pensador iluminista alemão do século 19, construiu seu pensamento teológico sobre a questão da experiência espiritual. Tal ideia encontra eco na Igreja de hoje, cujos integrantes parecem muito mais interessados numa religiosidade baseada nas sensações do que em conteúdos. Em muitos casos, nós encontramos essa influência na forma pragmática com que nossas igrejas, seminários e faculdades teológicas são conduzidos, mesmo sem perceber isso. Não por acaso, livros de sucesso entre o público evangélico são aqueles de categorias editoriais como transformação pessoal, autoajuda e espiritualidade prática. Uma teologia fundada sobre experiência geralmente falha em questões como moralismo, humanismo, ou, como é o caso do cristianismo norte-americano, uma religião na qual Deus e a nação são facilmente confundidos.

Considerado o pai da teologia liberal, Schleiermacher pensou que a essência do cristianismo estivesse no impulso da experiência, e não na doutrina, o que parece ter causado bastante problema. Isso prejudicou grandemente a relação entre católicos e protestantes, e ameaçou até mesmo o avanço científico. Para ele, se as ideias pudessem ser filtradas até um denominador comum, então as diferenças seriam dissipadas, e a humanidade poderia caminhar adiante em harmonia. Tal essência era religiosa – uma conexão com Deus capaz de ser experimentada por todo e qualquer homem. Exatamente o que hoje conhecemos como espiritualidade. Schleiermacher começou com experiências pessoais com Deus, e transformou tais experiências em teologia. De acordo com ele, começando a partir de nós mesmos, de nossos desejos, é mais fácil desenvolvermos uma visão mais pura de Deus e sermos relevantes como Igreja. Entretanto, de que forma esse projeto funciona?

Ao longo dos últimos 200 anos de história da Igreja, as ramificações teológicas têm sido grandes. Até mesmo aquela que foi chamada de a única doutrina bíblica verificável empiricamente, a do pecado original, encetou as mais diversas abordagens. Para Schleiermacher, pecado não é apenas uma questão de burlar as leis de Deus; pecado é energia desperdiçada. No seu entender, se prestássemos mais atenção nas coisas e tivéssemos mais informações, desejaríamos ser mais espirituais. Logo, um pecador é alguém que está desinformado acerca de quem ele é. Um religioso, em contrapartida, está ciente de sua posição, uma vez que conhece as verdades espirituais.

Sob tal perspectiva, Jesus aparece apenas como alguém que veio para nos mostrar nosso potencial e despertar a sensibilidade religiosa que existe em nós. Uma espécie de mestre que pode ser chamado de filho de Deus, mas difere do homem apenas em uma questão de nível, e não de natureza. Ou seja, sob tal ótica, questiona-se a divindade de Cristo. A Igreja, então, torna-se o lugar no qual nos encontramos para ouvir que estamos todos bem, seguindo o modelo de piedade estabelecido por Jesus. Embora possa haver questões positivas em tudo isso, permanece a questão de ser Deus ou não, nessa perspectiva, o agente de mudança na vida das pessoas. Afinal de contas, as verdades essenciais cristãs, mesmo aquelas sobre Jesus, precisam ser tidas como autênticas; do contrário, elas são descartadas.

É possível ver, portanto, que a teologia de Schleiermacher precisa ser corrigida em alguns aspectos. Ele nos leva, com seu esquema teológico, a questionarmos conceitos teológicos, ao invés de nos deixarmos ser interrogados por eles. A experiência espiritual acaba por nos colocar, e não a Deus, no banco do motorista. Permanecendo filhos teológicos do filósofo alemão, de forma consciente ou não, corremos o risco de transformar o cristianismo em algo, ainda que aparentemente interessante, desprovido de vigor espiritual. O oposto da experiência é o dogmatismo; um escolasticismo religioso frio, que acaba por sugar e esvaziar nossa relação com Deus.

Diálogo – É preciso prosseguir na discussão reconhecendo uma verdade: toda a teologia cristã nos ajuda a entender a Bíblia. É através dela que podemos entender o sentido espiritual de textos escritos há milhares de anos, partindo de culturas que são completamente diferentes da nossa. Além disso, as Escrituras Sagradas apresentam situações que são claramente direcionadas a contextos específicos, como a questão da imoralidade da cidade de Corinto que o apóstolo Paulo conheceu. Assim, a Palavra de Deus apresenta conceitos que ora parecem fáceis, ora obscuros. Há ainda passagens que proporcionam as mais diversas formas de interpretação.

Os cristãos primitivos sabiam disso tudo muito bem. Os três primeiros séculos da nossa Era foram palco de um diálogo bastante intenso com a Bíblia. Em suas abordagens teológicas, os primeiros crentes em Jesus eram desafiados a ler as Escrituras sem as influências judaicas, gregas ou as tendências paulinas ou petrinas que poderiam prejudicar sua interpretação. Ler a Bíblia através de lentes específicas pode levar a falsas conclusões, resultando em distorções práticas na vida cristã. Aqueles que encontraram pouca evidência bíblica sobre o que estava sendo dito acerca da doutrina da Trindade, por exemplo, acabaram chegando a conclusões sobre um Cristo que nunca foi humano, no caso dos docetas, ou que jamais foi divino, como defendia o arianismo.

Longe de sugerir a desimportância da Bíblia, a investigação teológica tem por objetivo entender as Escrituras como documento histórico, mas, muito além disso, afirmá-la como Palavra de Deus capaz de transformar o homem. A teologia nunca se viu como apenas reflexões humanas sobre algumas verdades conjecturadas. O melhor solo sobre o qual a teologia é edificada são as próprias Escrituras Sagradas como verdade revelada de Deus, e não as experiências espirituais. A autoridade da Palavra não pode ser colocada ao lado das experiências de cristãos. Como disse Martinho Lutero, as Escrituras são autoridade porque vêm de Cristo e apontam para ele. São as Escrituras que nos interrogam. Porque pode ser uma tarefa difícil escutar a Cristo através das Escrituras, a Igreja tem escolhido perscrutá-lo através das investigações teológicas. Alguns escolhem ler a Palavra debaixo da orientação do Espírito, como os abolicionistas nos séculos 18 e 19 fizeram no que concerne à escravidão. A teologia testa estas leituras, ao fazer perguntas ao texto e à Igreja, dando clareza ao movimento do Espírito.

Esse método teológico se apresenta como uma contraposição à proposta de Friedrich Schleiermacher. Nós não devemos começar com uma espiritualidade particular para, só então, construir nossas convicções. O melhor caminho é o oposto – partir de convicções desenvolvidas a partir de uma viva relação com a Palavra de Deus, na presença do Espírito Santo, para moldar nossa espiritualidade, permitindo que a verdade revelada nos ensine e nos corrija.

Conhecimento da graça – Temos um bom exemplo desse processo no trabalho de outro alemão, Dietrich Bonhoeffer, que estudou em um período no qual o pensamento de Schleiermacher estava em alta, nos anos que antecederam a eclosão da Segunda Guerra Mundial. A maior parte dos professores de Bonhoeffer estava afinada com a mentalidade zeitgeist de seu país, o crescente orgulho alemão que se revelava no crescimento do nazismo e da generalização do antissemitismo. Eles liam as Escrituras, mas tomando suas experiências pessoais como prioritárias; como consequência, sua teologia apenas reforçava a mentalidade de poder que permeava a Alemanha de Hitler.

Ao começar a ler as Escrituras, Bonhoeffer percebeu que Jesus deveria ser o centro de toda a sua compreensão. As verdades acerca da expiação e encarnação tomaram cor e vida em sua trajetória pessoal. Suas compreensões acerca de Cristo o ajudaram a ver que o antissemitismo e o nazismo estavam tomando o lugar de Jesus na Igreja alemã, tornando-se, na verdade, num movimento anticristo. Por isso, e a alto preço, tornou-se porta-voz da resistência cristã ao zeitgeist. Bonhoeffer sabia, como Calvino, Agostinho e tantos outros da tradição cristã, que ideias que podem parecer irrelevantes – como a Trindade, expiação, escatologia, encarnação – são extremamente importantes para a formação espiritual do ser humano. A teologia nos ajuda a mapear as Escrituras, à medida que elas nos interrogam, debaixo do poder e da presença do Espírito Santo. Ela é uma espécie de memória que nos faz ouvir o que Deus tem falado, lançando luz sobre nossa experiência.

A crescente falta de interesse em teologia deve-se, em boa parte, aos líderes que enfatizam os sentimentos em detrimento da verdade. Deve-se, também, aos membros de igreja que acham que suas experiências com Deus são mais importantes e dignas de crédito do que as verdades ensinadas na Bíblia. Mas pessoas como Jon, com sua mente ávida por conhecimentos que possam consolidar ainda mais a sua fé, mostram a validade de se interpretar tudo – inclusive, as próprias experiências – à luz da Palavra de Deus. Ele e muitos mais cristãos já aprenderam que não é possível crescer espiritualmente sem conhecer doutrina, e que a teologia é o conhecimento da graça que faz de nós discípulos fiéis.

Darren C. Marks é professor assistente de teologia e estudos judaicos no Huron University College,
na University of Western Ontário (Canadá)
 
Fonte: Revista Cristianismo hoje
http://www.cristianismohoje.com.br/

O valor das doutrinas





O valor das doutrinas



Por Charles Colson e Anne Morse

“Nós caímos em um abismo no qual a reafirmação do óbvio é o primeiro dever do homem inteligente”. Escritas em 1939, as palavras de George Orwell parecem ser endereçadas aos líderes da igreja biblicamente iletrada de hoje.

A coisa mais óbvia a ser dita sobre o Cristianismo é que ele se apóia em fatos históricos: a Criação, a Encarnação, e a Ressurreição. Desde que nossas doutrinas sejam uma reivindicação da verdade, elas não podem ser meros simbolismos. É importante lembrar a forma como celebramos a Ressurreição, que geralmente é ofuscada pelo esplendor da Páscoa.

Para mim, é evidente que a doutrina é importante. Há alguns anos, eu visitei o Sri Lanka, logo depois de o bispo anglicano David Jenkins ter rejeitado a doutrina da Ressurreição como uma “brincadeira mágica com os ossos” (mais tarde foi revelado que ele havia citado um texto erroneamente). O líder do nosso ministério, que me acompanha palas prisões do país, disse que a notícia custou muitas conversões, porque budistas e hindus usaram isso para convencer as pessoas de que o Cristianismo é baseado em uma simples travessura.

Claramente, quando nós paramos de lavar a sério as verdades históricas da igreja, nós enfraquecemos nosso testemunho, geralmente com grandes consequências. Por exemplo, grupos de estudantes islâmicos fazem proselitismo afirmando que os cristãos adoram três Deuses: Pai, Mãe, e Filho. De onde eles tiraram essa ideia? Dos cristãos egípcios do século VII, que abandonaram a Bíblia e abraçaram essa heresia.

Um estudo do Pew Forum on Religion and Public Life, feito a alguns anos,revelou uma excessiva ignorância doutrinária entre os cristãos americanos. 57% das pessoas acreditam que pessoas que seguem outras religiões poderão usufruir a vida eterna. O resultado foi tão inesperado que o fórum repetiu o estudo, perguntando questões mais específicas. As respostas permaneceram inalteradas. Surpreendentemente, cerca da metade disse que qualquer um, inclusive ateus, irão para o céu. Céu para o ateu? Essa é a antiga heresia do universalismo.

A indiferença às verdades do evangelho é percebida em outras esferas também, como entre as pessoas que é defendem os “fatos, e não a crença”, e na infinita discussão sobre as novas formas de “entender” ou “fazer” teologia. Alguns aderem à antigas heresias, que dizem que as doutrinas devem ser extraídas de experiências íntimas, de sentimentos pessoais. Isso é uma versão do Gnosticismo.

Há aqueles que querem adaptar o Cristianismo a era pós-moderna, ou desenvolver sua teologia publicamente com não-cristãos, ajudando a formular o resultado. Sim, nós precisamos contextualizar a mensagem para que as pessoas do nosso tempo e cultura entendam a verdade que nós proclamamos. Mas isso é radicalmente diferente de mudar a verdade cristã que os pais da igreja definiram em seus concílios.

Como um repórter noticiou, mesmo quando os cristãos conhecem as doutrinas verdadeiras, eles temem dizer a verdade com receio de ofender os outros. Por quê eu deveria impor minha verdade aos outros? é um pensamento que define muitos de nossos crentes.

É por isso que J. I. Packer, no seu octogésimo aniversário, disse que o grande desafio dos evangélicos é recatequizar nossas igrejas. Mais do que nunca, os cristãos precisam ter a capacidade de falar corajosamente sobre a esperança que eles escondem dentro de si.

É claro que a fé pessoal é importante, mas não é suficiente. E sim, a doutrina tem sido ensinada de forma seca e insatisfatória. Mas como Dorothy Sayers notou, uma vez que nós entendemos o que as doutrinas cristãs ensinam, “O dogma é o drama”.

A determinação de restaurar a fé ortodoxa - a fé que “de uma vez por todas foi entregue” (Jd 1.3) – nos leva a Reforma, de quem nós somos herdeiros. Uma nova ênfase na doutrina ortodoxa poderia, também, transformar a igreja e a cultura atual.

Há alguns anos eu visitei Atenas e escalei uma rocha chamada Monte de Marte. Eu fiquei no lugar onde eu imaginava que Paulo tinha se confrontado no Areópago, o sábio homem no centro cultural do mundo. Paulo desafiou os atenienses referindo-se à sua própria cultura e seus falsos altares, e depois pregou o evangelho, proclamando que Deus havia ressuscitado Jesus dentre os mortos.

É a mesma mensagem que eu prego nas prisões hoje em dia. Eu penso que é bem mais divertido permanecer em uma crença que dura dois mil anos do que pular de uma para outra.

Poucas pessoas aceitaram o convite que Paulo fez naquele dia para seguirem Cristo. Mas bilhões seguiram Paulo desde aquela época porque Cristo tem um poder inevitável. Ele tem o poder de impedir que Satanás controle nossas almas e de transformar alegremente nossas vidas.

Orwell estava certo: em uma crise, nós geralmente temos o dever de reafirmar o óbvio. E a Páscoa é um bom momento para os cristãos reverem sua confusão doutrinária, irmã das verdades óbvias do Cristianismo.

O maior desafio dos cristãos atuais é não reinventar o Cristianismo, mas descobrir seus ensinamentos mais importantes.

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 Fonte: http://cristianismohoje.com.br