"O olho nunca se esquece do que o coração vê."
- Provérbio bantu.
JOHN CHILEMBWE – UM PASTOR BATISTA CONTRA O RACISMO E O COLONIALISMO
Historiador e Hebreu-Israelita
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
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Skype: lindoebano
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O Malawi ocupa uma pequena região do sudoeste do continente africano, limita-se ao norte com Tanzânia, ao leste e ao sul com Moçambique e ao oeste com a Zâmbia. O seu nome se deve ao lago Malaui ou Nyasa, que ocupa um sexto do seu território.
A capital do Malawi é a cidade de Lilongwe, localizada no centro do país, o maior centro comercial é a cidade de Blantyre - Escócia, nome dado em homenagem à terra natal do explorador e pastor presbiteriano David Livingstone, que muito contribuiu com as suas viagens de “evangelização” para a colonização da África.
LAGO MALAWI
Os Chewas constituem 90% da população da região central, a tribo Nianja predomina no sul e a Tumbuka no norte. Além disso, um número significativo de Tongas vive no Norte; Ngonis - um ramo dos Zulus que vieram de África do Sul, no início dos anos 1800 - vivem abaixo do norte e regiões menores centrais, e os Yao, que são na sua maioria muçulmanos, predominam na região Sul do país e vivem em uma faixa larga a partir de Blantyre e Zomba ao norte do Lago Malawi e no leste da fronteira com o Moçambique. Bantus de outras tribos vieram de Moçambique como refugiados.
JOHN CHILEMBWE E A REVOLTA DOS BATISTAS
Neste país, provavelmente na região Chiradzulu de Niassalândia, nasceu John Chilembwe, por volta de 1871. Seu pai era um Yao e sua mãe era uma escravizada Mang'anja (grupo étnico tradicional da área, vítima da escravidão pelos árabes e dos Yao que eram comerciantes de escravizados).
Os Yao são originais do norte de Moçambique e migraram por causa da fome em seu país e auxiliaram como intermediários para os árabes. Chilembwe é uma mistura dos dois grupos étnicos, representa a situação de ambos. Ele cresceu sob a atmosfera de insegurança predominante das regiões Sul de Niassa. Quando os britânicos colonizaram a área em 1891, nomeando de Niassalândia, eles estabeleceram um governo e missões, e procurou controlar os povos nativos da região.
John Chilembwe, um homem alto, asmático, era o cozinheiro da família do missionário batista Joseph Booth e cuidava da sua filha, tornando-se seu amigo, como consequência foi batizado na fé batista em 17 de julho de 1893 por Joseph Booth, que havia fundado a Missão Zembesi Industrial de cunho fundamentalista como uma alternativa para as mais antigas missões presbiterianas da Escócia que exploravam a população nativa. Booth criticava as missões presbiterianas e pregava uma igreja igualitária, ideia radical e que agradou ao novo convertido. Booth pregava:
"Sinceramente agora, não é uma imagem maravilhosa de ver homens elegantemente vestidos ... pregando um evangelho de autonegação aos homens e escravas .... Eu nunca me senti tão completamente envergonhado .... Devemos ... obedecer ao ensino [o] [do Evangelho]. ".
Em 1897, John viaja com a família Booth para os EUA onde frequentou o Virginia Theological College, um seminário teológico preto, e teve contato com os ensinamentos do branco abolicionista John Brown e dos pan-africanistas Booker T. Washington, Marcus Garvey e outros pretos na América. Estes ensinamentos foram determinantes para as futuras decisões a serem tomadas.
Foi diplomado por esta faculdade teológica preta e ordenado pastor batista pela National American Baptist Convention, retornou a Niassalândia e fundou a Missão Providência industrial, criando sete escolas africanas independentes, que em 1912 tinha 1000 alunos e 800 estudantes adultos. Construiu uma igreja de tijolos bem arquitetada, e em um trabalho pan-africano plantaram lavouras de algodão, café e chá.
O esforço educacional do Pastor John Chilembwe na propagação da paz e do bem-estar da população, combatendo o alcoolismo, a necessidade do trabalho e do aprendizado, a censura veemente contra a prática de homicídios, roubos e todo o tipo de crimes, o fez um homem respeitado e admirado pelo seu povo.
John Chilembwe com sua mulher, Ida, e sua filha, Emma, em uma fotografia, provavelmente entre 1910 e 1914.
A crueldade e o racismo dos brancos colonizadores o obrigaram a tomar uma decisão: Ficar omisso concordando e participando da opressão e pregando uma vida futura no céu para os membros da sua igreja ou agir em combate ao racismo. Optou por uma teologia libertária e se envolveu diretamente no sofrimento dos seus paroquianos, decisão esta tomada décadas posteriores por diversos pastores batistas que não se calaram com o sofrimento do seu povo, um dos maiores exemplos foi o de Martim Luther King.
No período anterior a 1915 a fome atingiu a região e muitos imigrantes moçambicanos vieram para a região e concomitantemente grileiros brancos começaram a se apossar das terras mais férteis e iniciaram uma cobrança exorbitante aos moradores, obrigando aos homens a migrarem para cidades distantes.
Além disso, William Jervis Livingstone, um gerente de fazenda local, tratava seus trabalhadores (muitos deles paroquianos de Chilembwe) asperamente e incendiou igrejas rurais de Chilembwe, que reclamava em voz alta sobre o racismo.
Mas a sua profunda alienação seguiu do surto da I Guerra Mundial na Europa, bem como o recrutamento, que Chilembwe lamentou, dos homens de Niassa para as batalhas contra os alemães na vizinha Tanzânia. "Entendemos que fomos convidados para derramar nosso sangue inocente na guerra deste mundo .... [Mas] haverá quaisquer boas perspectivas para os nativos ... após a guerra?" Chilembwe perguntou. "Estamos impostos a mais do que qualquer outra nacionalidade sob o sol." O restante de sua carta aberta, assinada "em nome de seus compatriotas", foi um protesto forte contra o descaso aos africanos.
Um mês depois, em janeiro de 1915, Chilembwe decidiu "dar um golpe e morrer, pois o nosso sangue vai certamente significar algo no passado." Esta era a única maneira, ele declarou, "para mostrar ao homem branco, que o tratamento que estão dispensando aos nossos homens e mulheres era péssimo e nós estamos determinados a atacar primeiro e dar o último golpe, e, em seguida, todos morrem pela forte tempestade de exército dos homens brancos." Ele falou a seus 200 seguidores da inspiração de John Brown, e advertiu-lhes para não roubar nem para molestar as mulheres brancas. Em 23 de janeiro, em diferentes ataques, seus homens decapitaram Livingstone, mataram outros dois homens brancos e vários africanos , poupando um número de mulheres brancas e crianças, saquearam uma loja de munição em uma cidade grande próxima, e se retiraram para orar. Quando os ataques não conseguiram despertar o apoio local, Chilembwe fugiu em direção a Moçambique. Desarmado, vestindo um casaco azul escuro, uma camisa de pijama listrado sobre uma camisa de cor, e calças de flanela cinza, ele foi morto em 03 de fevereiro por funcionários coloniais.
Chilembwe é reverenciado como um herói moderno em Malawi, que alcançou a independência em 1964. Ele foi o primeiro a expor os principios do inconformismo colonial e o primeiro a quebrar a crença generalizada que "os nativos estavam felizes" sob a dominação estrangeira. um precursor e mártir do nacionalismo do Malawi.
Ele é relembrado no Malwi no dia 15 de janeiro como um heroi nacional.
Ele é relembrado no Malwi no dia 15 de janeiro como um heroi nacional.
"É muito tarde agora para falar do que pode ou não pode ter sido. Tudo o que seja pelas razões nós somos convidados a participar na guerra, a verdade é, somos convidados a morrer para Niassalândia. Nós deixamos tudo para a consideração do Governo, esperamos na misericórdia de Deus Todo-Poderoso, que algumas coisas do dia vão dar certo e que o Governo vai reconhecer a nossa indispensabilidade, e que a justiça prevalecerá."
JOHN Chilembwe
Em nome de seus compatriotas
Niassalândia tempos No.48, 26 de novembro de 1914
- Eu Sou preta e formosa.
O conhecimento foi interrompido com a escravidão como a descontinuidade de comunicação através das línguas nativas e a imposição cultural dos senhores acarretaram a não manutenção de pentes, ervas naturais e lindos penteados que as nossas ancestrais usavam; no processo escravocrata os pretos mais ebanizados eram desvalorizados pelos que tinham as peles mais claras e cabelos mais lisos.
A intenalização no africano de que a sua cor e seu cabelo forte em forma de espiral foram motivos da inferiorizarão racial alterou as atitudes das descendências futuras. O chamado cabelo “bom” se tornou um passaporte econômico-sentimental no mundo branco das Américas. A maioria dos homens pretos, já contaminados pela beleza ocidental, considera as mulheres pretas mais belas quanto mais brancas se parecer, e o cabelo tornou-se a mensagem de beleza, limpeza e adequação a inclusão de uma sociedade desejada, e esquecer o passado africano no olhar do espelho foram, e é à saída da maioria da população africana na América.
Desde o final da escravidão começa a se tornar popular as mudanças estéticas e já em 1920 o grande Marcus Garvey exortava a população para voltar a usar a sua estética africana.
Marcus Garvey estava com toda a razão, já no inicio da década de 1900, Annie Malone, que se tornou milionária, trouxe um novo método de alisamento para as mulheres pretas patenteando o ferro quente, auxiliando as mulheres descontentes e em crise com os cabelos africanos, que usavam para o relaxamento dos cabelos a gordura de ganso gordo, gordura de porco (bacon), manteiga, e chegavam ao cumulo de usar uma faca com manteiga aquecida. Durante décadas a prática de tentar o embranquecimnento através dos cabelos fez com que muitos pretos e pretas usassem água sanitária para o clareamento, alvejantes que nas fórmulas possuíam soda caustica, uso de cremes e loções, combinado com ferro quente, a fim de “endireitar” o cabelo.
A sua ex-empregada madame CJ Walker, anteriormente Sarah Breedlove, nascida na Louisinania em 1967, filha de ex-escravizados, trabalhou como agricultora, lavadeira e cozinheira, e após sofrer uma doença de couro cabeludo, tornou-se uma poderosa empresaria ao criar uma fórmula para os cabelos das mulheres pretas em 1900. Foi à primeira preta milionária dos USA na indústria de produtos para os cabelos, e aperfeiçou o ferro quente, ampliando os dentes patenteado pela sua ex-patroa Annie Malone.
Uma das propagandas usadas por Madame CJ Walker para convencer as mulheres pretas a modificar os cabelos foi a uso de um livro infantil publicado em 1900: The Gift of the Good Fairy (O dom da fada boa)
- "Era uma vez, uma boa fada, cujos pensamentos diários eram em muito meninos e meninas de se transformarem em mulheres e homens bonitos, e de como ela poderia embelezar aqueles infelizes a quem a natureza não tivesse dado cabelos longos e ondulados e uma pele suave e encantadora”.
A propaganda retratava o cabelo que não é ondulado e liso como indesejáveis e algo que a fada boa ( Madame CJ Walker) podia corrigir. Já se passaram cem anos e as mulheres pretas ainda valorizam o cabelo liso, e sonham com a boa fada que modificará os seus cabelos.
Garrett Augustus Morgan, um inventor preto, experimentou um líquido de agulhas para máquinas de costura, e acidentalmente, descobriu que este líquido não só esticava o tecido, mas também o cabelo. Ele fez o líquido em um creme e começou a GA Morgan Refining Company Hair. Morgan também fez um óleo corante preto para o cabelo e um pente de ferro dente-curvo em 1910, para “endireitar” o cabelo.
O processo de negação do cabelo africano começa com a infância, especialmente com as meninas. A simples brincadeiras com bonecas alertam a criança das diferenças estéticas. Foi o que ocorreu com Sergi, uma menina de origem etíope, adotada por Joey Mazzarino, principal escritor de Sesame Street, e manipulador de marionetes. Sergi ao brincar com as bonecas Barbie começou a dizer coisas negativas sobre si mesma e ao seu próprio cabelo.
- "Ela estava passando por esta fase em que realmente queria o cabelo comprido e loiro.
Mazzarino, um homem branco não ignorou o problema como fazem milhões de pais e mães pretas nas Américas. Sabia que no futuro Sergi teria problemas com a auto-estima, e ele criou um muppet para mostrar a sua filha como era belo o seu cabelo.
I Love My Hair
Desejo que este vídeo fale direto ao seu coração, minha amada irmã preta que alimenta a baixo-estima por causa dos seus cabelos. Eles são lindos. Tu és bela. Remanescente das mulheres originais
O processo da indústria de relaxantes especialmente nos Estados Unidos da América se desenvolveu de maneira surpreendente e afetou todas as regiões das Américas. Atualmente a indústria do cabelo ultrapassa a cifra de 10 bilhões de dólares só nos USA. Nós os africanos nas Américas vivemos 400 anos sem usar um pente e processos de relaxamentos. O relaxamento dos cabelos nos USA é conhecido como o “crack cremoso” pela dependência que criou nas mulheres pretas.
Dois importantes documentários foram produzidos recentemente nos USA: Nappy Roots: A Journey Through Black Hair Itage-2005, dirigido por Regina Kimbell, e Good Hair, produzido por Chris Rock em 2009. Com certeza irão contribuir nas nossas discussões para o entendimento deste nefasto processo de auto-violação do corpo preto.
RASTAFARI
A filosofia rastafari é pan-africanista, oriunda da interpretação de uma revelação do grande líder Jamaicano Marcus Garvey, tornando-se conhecida internacionalmente a partir da década de 60 do século passado, tendo como um dos principais objetivos a repatriação dos africanos nas Américas. Como disse, a Etiópia é a pátria espiritual do movimento religioso Rastafari.
Como vimos, são períodos linearmente diferentes que em certo momento na história se encontram: o Mosaismo de Beta Israel e o Cristianismo de Ezana criando conflitos de poder, perseguições e no século XX exílio para o primeiro grupo. Por outro lado, o Movimento Rastafari surge após a escravidão nas Américas, intimamente ligado à história da Igreja Cristã Etíope.
Os rastafaris que tem como um dos seus princípios a genealogia salomônica descrita no livro Kebra Nagast, assim legitimam as dinastias etíopes como descendentes diretos de Menelik, filho do rei Salomão e da rainha Makeda de Sabá. Devemos atentar que o Kebra Nagast apresenta Salomão como descendente da tribo de Judá, por isso os rastafaris elegeram o imperador etíope Haile Sellasie, como o Leão de Judá, o Mashiach (Messias). Título e função não reconhecidos pelo próprio monarca, um fervoroso seguidor da Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo.
Peter Tosh "Rastafari Is"
A Etiópia tem laços históricos com as três mais importantes religiões do mundo que se dizem abraâmicas. Foi um dos primeiros países cristãos no mundo, tendo adotado oficialmente o cristianismo como religião do Estado no século IV d.C. Mantêm algumas observâncias do Tora, como: a guarda do sábado, a circuncisão masculina após o nascimento e regras alimentares,entre elas, a proibição da ingestão de carne de porco. Além disso, as mulheres da Igreja Ortodoxa Etíope são proibidas de entrar nos locais de adoração quando menstruadas, cobrem a cabeça com um lenço e sentam-se separadas nas igrejas, os homens sempre à esquerda e as mulheres à direita (quando de frente para o altar).
Um importante diferencial da Igreja Etíope e de outras igrejas cristãs é a tradição de que Menelik levou a Arca da Aliança para a Etiópia. Sendo cristã compactuam com a concepção européia de um messias branco (Jesus Cristo) e não compactuam com a filosofia Rastafári sobre Haille Selassie como sendo o Messias. Na fé dos Rastas, Haile Selassie é reverenciado como Jah Ras Tafari I, o Messias, o “Cristo Negro” que ascendeu ao Trono do Rei Davi em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Em certos escritos e vídeos alguns grupos rastafaris colocam Beta Israel como referência, causando uma enorme confusão.
Deixando essas duas linhas de interpretação da Igreja ortodoxa Etíope e dos Rastafaris, iremos nos centrar no conflito milenar entre a maioria etíope cristã e a minoria hebréia de Beta Israel. É muito importante pontuar que Beta Israel não aceita o Kebra Nagast, concomitantemente, não veio com Menelik conforme os escritos e tradição etíope. Beta Israel, segundo a sua própria oralidade, é da tribo de Dan (danitas) não são da tribo de Judá (judeus). Não aceitam a Trindade, ao contrário, são monoteístas, e tem como base de fé o Torá e o Tanach. Ignoram a tradição etíope e a filosofia rastafari. É importante ressaltar, que Beta - Israel e os hebreu-israelitas nas Américas não se utilizam do termo JAH, porque não existe no Torá e no Tanach. O nome do Eterno é YHWH e em muitos trechos do Tanach é citado como YAH.
Não confunda a tribo de Judá e a dinastia salomônica com Beta Israel que é da tribo de Dan. Não esqueçam Jacó (Israel) foi pai de 12 filhos, e originou as 12 tribos de Israel, sendo a tribo de José, dividida em duas: Mannasés e Efraim. Beta Israel e a dinastia salomônica foram para a Etiópia em momentos distintos e por razões diferentes, apesar de serem da descendência de Israel. Beta Israel não aceita como verdadeiro o cristianismo etíope.
Ressaltando mais uma vez, a história dos hebreus (Beta Israel) foi de extrema perseguição desde que o cristianismo chega à Etiópia, com as transformações da tradição oral e as novas concepções de poder criadas pela suposta dinastia salomônica. Neste sentido, no próximo artigo discorremos sobre a negação do Kebra Nagast por Beta Israel e as guerras de sobrevivência dentro da Etiópia dos hebreus da tribo de Dan (Beta Israel), enfrentando guerras violentas contra o império cristão axumita, perseguição do fascismo de Mussolini e vitimas da ditadura etíope, da guerra civil e da fome, até que fugiram retirados por tropas israelitas (askenazis), através da Operação Moisés (1984) e da Operação Salomão (1991).
A filosofia rastafari é pan-africanista, oriunda da interpretação de uma revelação do grande líder Jamaicano Marcus Garvey, tornando-se conhecida internacionalmente a partir da década de 60 do século passado, tendo como um dos principais objetivos a repatriação dos africanos nas Américas. Como disse, a Etiópia é a pátria espiritual do movimento religioso Rastafari.
Como vimos, são períodos linearmente diferentes que em certo momento na história se encontram: o Mosaismo de Beta Israel e o Cristianismo de Ezana criando conflitos de poder, perseguições e no século XX exílio para o primeiro grupo. Por outro lado, o Movimento Rastafari surge após a escravidão nas Américas, intimamente ligado à história da Igreja Cristã Etíope.
Os rastafaris que tem como um dos seus princípios a genealogia salomônica descrita no livro Kebra Nagast, assim legitimam as dinastias etíopes como descendentes diretos de Menelik, filho do rei Salomão e da rainha Makeda de Sabá. Devemos atentar que o Kebra Nagast apresenta Salomão como descendente da tribo de Judá, por isso os rastafaris elegeram o imperador etíope Haile Sellasie, como o Leão de Judá, o Mashiach (Messias). Título e função não reconhecidos pelo próprio monarca, um fervoroso seguidor da Igreja Ortodoxa Etíope Tewahedo.
Peter Tosh "Rastafari Is"
A Etiópia tem laços históricos com as três mais importantes religiões do mundo que se dizem abraâmicas. Foi um dos primeiros países cristãos no mundo, tendo adotado oficialmente o cristianismo como religião do Estado no século IV d.C. Mantêm algumas observâncias do Tora, como: a guarda do sábado, a circuncisão masculina após o nascimento e regras alimentares,entre elas, a proibição da ingestão de carne de porco. Além disso, as mulheres da Igreja Ortodoxa Etíope são proibidas de entrar nos locais de adoração quando menstruadas, cobrem a cabeça com um lenço e sentam-se separadas nas igrejas, os homens sempre à esquerda e as mulheres à direita (quando de frente para o altar).
Um importante diferencial da Igreja Etíope e de outras igrejas cristãs é a tradição de que Menelik levou a Arca da Aliança para a Etiópia. Sendo cristã compactuam com a concepção européia de um messias branco (Jesus Cristo) e não compactuam com a filosofia Rastafári sobre Haille Selassie como sendo o Messias. Na fé dos Rastas, Haile Selassie é reverenciado como Jah Ras Tafari I, o Messias, o “Cristo Negro” que ascendeu ao Trono do Rei Davi em Adis Abeba, capital da Etiópia.
Em certos escritos e vídeos alguns grupos rastafaris colocam Beta Israel como referência, causando uma enorme confusão.
Deixando essas duas linhas de interpretação da Igreja ortodoxa Etíope e dos Rastafaris, iremos nos centrar no conflito milenar entre a maioria etíope cristã e a minoria hebréia de Beta Israel. É muito importante pontuar que Beta Israel não aceita o Kebra Nagast, concomitantemente, não veio com Menelik conforme os escritos e tradição etíope. Beta Israel, segundo a sua própria oralidade, é da tribo de Dan (danitas) não são da tribo de Judá (judeus). Não aceitam a Trindade, ao contrário, são monoteístas, e tem como base de fé o Torá e o Tanach. Ignoram a tradição etíope e a filosofia rastafari. É importante ressaltar, que Beta - Israel e os hebreu-israelitas nas Américas não se utilizam do termo JAH, porque não existe no Torá e no Tanach. O nome do Eterno é YHWH e em muitos trechos do Tanach é citado como YAH.
Não confunda a tribo de Judá e a dinastia salomônica com Beta Israel que é da tribo de Dan. Não esqueçam Jacó (Israel) foi pai de 12 filhos, e originou as 12 tribos de Israel, sendo a tribo de José, dividida em duas: Mannasés e Efraim. Beta Israel e a dinastia salomônica foram para a Etiópia em momentos distintos e por razões diferentes, apesar de serem da descendência de Israel. Beta Israel não aceita como verdadeiro o cristianismo etíope.
Ressaltando mais uma vez, a história dos hebreus (Beta Israel) foi de extrema perseguição desde que o cristianismo chega à Etiópia, com as transformações da tradição oral e as novas concepções de poder criadas pela suposta dinastia salomônica. Neste sentido, no próximo artigo discorremos sobre a negação do Kebra Nagast por Beta Israel e as guerras de sobrevivência dentro da Etiópia dos hebreus da tribo de Dan (Beta Israel), enfrentando guerras violentas contra o império cristão axumita, perseguição do fascismo de Mussolini e vitimas da ditadura etíope, da guerra civil e da fome, até que fugiram retirados por tropas israelitas (askenazis), através da Operação Moisés (1984) e da Operação Salomão (1991).
VERDADEIRO PAI DA MEDICINA – IMHOTEP OU HIPÓCRATES?
Por Walter Passos, Historiador,Panafricanista,
Afrocentrista e Teólogo.
Pseudônimo: Kefing Foluke.
E-mail: walterpassos21@yahoo.com.br
Msn:kefingfoluke1@hotmail.com
Skype: lindoebano
"No Egito, os homens são mais hábeis em Medicina do que qualquer outra da espécie humana". Homero, em Odisséia.
Na historiografia, o erro crucial é a falsificação da história africana, realizada por autores do eurocentrismo, problema identificado por Cheik Anta Diop em seus diversos escritos. Este vilipêndio foi programado e com objetivos perversos; a falácia do eurocentrismo tentou apagar da memória mundial a verdade histórica, e afetar psicologicamente os africanos e afro-diaspóricos, conseguindo êxito na diminuição da auto-estima de bilhões de pessoas. A denúncia desta perversidade eurocêntrica é um dos caminhos que todo historiador na África ou em diáspora deve participar, desenvolvendo e tendo em prática a afrocentricidade.
Fico deveras preocupado quando ouço intelectuais pretos se gabarem de possuir conhecimentos de proeminentes teóricos europeus que criaram, decretaram e difundiram a inferioridade intelectual dos africanos, exemplos: Voltaire (1694-1778), Cuvier (1769-1832), Gobineau (1816-1882) Lévy-Bruhl (1857-1939) Hume (1711-1776) Kant (1724-1804) Hegel (1770-1831), entre outros.
Já participei de debates onde doutores afro-diaspóricos cheios de empáfia se apresentam como weberianos, marxistas, gramscinianos, pós-modernistas, e diversas outras adjetivações, combatendo o conhecimento afrocêntrico. Lembro da frase muito peculiar de Malcolm X:
“É preciso ter muito cuidado, muito cuidado mesmo, ao apresentar a verdade ao homem preto que nunca antes ouviu a verdade a respeito de si mesmo, de sua espécie e do homem branco”.
O filosofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel afirmou:
“A África, na história, ficou reclusa, sem conexão com o resto do mundo, é a terra do ouro, recolhida em si mesma, o país da infância, que além da época da história consciente, está enterrada na escuridão da noite.”
Presunçoso, racista e desinformado este filósofo alemão, desconhecia o grande conhecimento preto-africano, se o conhecesse não escreveria esta asneira (asno).
Nesta falsificação da história foi necessário promover uma civilização branca ocidental, como símbolo do conhecimento, da sabedoria aonde todas as ciências se tornaram “racionais”. Elegeram a civilização helênica. Não satisfeitos tentaram mascarar a genes de todo o conhecimento humano: África.
Ignóbeis gregos que plagiaram os conhecimentos africanos antigos, mas, os documentos históricos os desmentem, os próprios escritos gregos são provas de onde obtiveram o conhecimento como meros aprendizes, os quais são corroborados com os monumentos e escritos feitos pelos reais criadores na África.
Dentre esses grandes plágios e absorções de conhecimentos a medicina africana foi uma das maiores vítimas, tema que discorrerei com as amadas e amados ledores deste blogger.
Hipócrates, Herófilo, Erasístrato (“pai da fisiologia?”), Galeno de Pergamo, reconheceram de que suas informações são Khemitas, estudadas no templo de Imothep, em Memphis.
Quando falamos em história da medicina, todo estudante das ciências médicas cita o grego Hipocrates, considerado o pai da medicina, líder da Escola de Cós, autor de vários tratados médicos, e sendo homenageado até hoje com “O juramento de Hipócrates” nas formaturas dos médicos e médicas, vejamos um trecho:
"As coisas sagradas devem ser ensinados as pessoas puras, é um sacrilégio se comunicar com pessoas de fora até que tenham iniciado nos mistérios da ciência. Palavras de Hipocrates repetindo os seus mestres das Escolas de Mistérios no Egito.
Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.” Juramento de Hipocrates.
HIPPOCRATES OF COS (THE FATHER OF MEDICINE)
As pesquisas históricas comprovaram que Hipocrates aprendeu medicina no Egito e plagiou diversos ensinamentos, entre eles, o diagnóstico de infertilidade feminina. Hipocrates sempre fora fiel aos ensinamentos, iniciado nos Templos de Thoth, dos seus mestres egípcios das Escolas de Mistérios.
O conhecimento da medicina chegou à Grécia em três momentos complementares. A princípio, as relações comerciais entre egípcios e os povos do Mediterrâneo levaram o conhecimento de sua avançada ciência em relação àqueles povos, principalmente aos gregos. Em seguida, espantados com os conhecimentos imensurável dos egípcios, os mesmos gregos, como Sócrates e Hipocrates, foram ao Egito aprender nas chamadas Escolas dos Mistérios. Por fim, a invasão de Alexandre e o roubo de preciosos documentos médicos que se tornaram excepcional fonte documental de estudos para os gregos nas ciências médicas e posteriormente para os romanos.
IMHOTEP – VERDADEIRO PAI DA MEDICINA
Antes de adentramos ao conhecimento real de Imhotep, vejamos algumas curiosidades sobre o verdadeiro pai da medicina:
São atribuídas obras arquitetônicas belíssimas a Imhotep, dentre elas se destaca a Pirâmide de Djoser (também chamada pirâmide escalonada ou dos degraus).
Observe agora o detalhe com o nome de IMHOTEP em hieróglifo, proveniente do complexo da pirâmide de Sakkara.
Entre outras coisas Imhotep também é atribuída à previsão e prevenção de uma fome de sete anos que veio sobre a terra, ele previu a fome depois de interpretar um sonho do faraó Djoser. Neste sonho do deus do Nilo falou ao faraó, e Imhotep foi o único que poderia interpretar o sonho. Qualquer pessoa com algum conhecimento básico da Bíblia notará imediatamente que esta história é idêntica à de José, o menino pastor que foi vendido como escravizado por seus irmãos, Joseph agora, depois de muitas tentativas finalmente chegou ao Egito, onde ele previu e, impedido, uma fome de sete anos, tornou-se o grão-vizir para faraó da época e em todo o Egito a única pessoa que estava acima dele, foi o faraó, similar à vida de Imhotep.
E, como não poderia deixar de ser, a Indústria branca do cinema hollywoodiana tem usado a chamada sétima arte para distorcer os fatos históricos africanos, e usaram a personagem Imhotep colocando como vilão, um ser perverso, mesquinho que ressuscita pensando no seu bem-estar e sem preocupações humanitárias. O ator do filme A Múmia e o Retorno da Múmia são o sul-africano Arnold Vosloo. No filme, Imhotep é condenado à pior de todas as maldições egípcias após ter se relacionado com Ank-Su-Namon amante do faraó Seti I, do qual era seu sacerdote. Assim, após um grupo de pesquisadores acordarem a múmia (Imhotep) de seu túmulo, as pragas do Egito caem sobre a cidade e a maldição sobre aqueles que o acordaram.
O verdadeiro pai das ciências médicas, Imhotep, viveu no Egito antigo em (2700-2670 a.C), o significado do seu nome é: "aquele que vem em Paz”. Foi também, administrador, teólogo, escritor, astrônomo e arquiteto.
Imhotep é um exemplo do culto da personalidade. Aproximadamente 100 anos após a sua morte, foi considerado como um semideus médico. Em aproximadamente 525 a.C., cerca de 2.000 anos após a sua morte, foi elevado à categoria de um deus, e substituiu Nefertum na tríade grande em Mênfis. No Cânon de Turin era considerado como filho de Ptah. Imhotep, conjuntamente Amenhotep, foi os únicos egípcios mortais que alcançaram o estatuto de deuses. Foi também associado com Thoth, deus da sabedoria, da escrita e da aprendizagem.
Patrono dos médicos, no Egito, endeusado na época e invocado nas orações, ele foi adorado pelos gregos como Asclépio e pelos romanos como Esculápio. Os pagãos - cristãos romanos o consideravam “Príncipe da Paz”. Imhotep viveu durante a Terceira Dinastia no corte do Faraó Zoser, Imhotep havia morrido 2500 anos antes do nascimento de Hipócrates. Foi honrado pelos Romanos e os imperadores Claudius e Tibério ordenaram que fossem feitas inscrições louvando Imhotep nas paredes dos seus templos egípcios.
Imhotep escreveu textos médicos, a ele é creditada a autoria do papiro de Edwin Smith, é a única cópia de parte de um antigo livro egípcio sobre trauma da cirurgia. O mais antigo escrito de literatura médica, e é o mais antigo documento cirúrgico do mundo. È considerado pelos grandes professores das ciências médicas ocidentais como o berço do pensamento analítico da medicina.
Possui mais de 90 termos anatômicos e 48 lesões são descritas, uma das grandes importâncias deste grande legado da medicina que contem 17 páginas riquíssimas sobre questões médicas- cirúrgicas da traumatologia, abordando diagnósticos e métodos de tratamento. Fez os primeiros prontuários médicos da história.
Um dos fatores que chama a atenção deste papiro é a descrição anatômica dos pés a cabeça, demonstrando vasto conhecimento sobre o coração, rins, bexiga, baço, fígado e ureteres que as escolas médicas da Idade Média seguiram e é usado até hoje nas escolas de medicina.
Fundou uma escola de medicina em Memphis, e diagnosticou e tratou mais de 200 doenças, entre elas: 15 doenças do abdômen, 11 da bexiga, 10 do reto, 29 dos olhos, 18 da pele, cabelos, unhas e língua. Também conhecia a posição e a função dos órgãos vitais e da circulação do sistema sanguíneo. Imhotep extraía os remédios das plantas.
ANCIENT AFRICA BY VAN SERTIMA PT 3
Imhotep entrou na história por seus conhecimentos médicos e vasta sabedoria. No Egito havia também a biblioteca Faraônica Imhotep, que armazenavam todos os seus tratados de medicina e cirurgia. Na Grécia os templos dedicados a ele se tornaram centros de estudos médicos.
O povo cantou provérbios séculos mais tarde após a sua morte e 2500 anos depois, havia tornado um deus da medicina, nos quais os gregos, que o chamam Imouthes, reconheceu o seu próprio Asclépio.
IMHOTEP, O MÉDICO
De acordo com Clemente de Alexandria, os Egípcios possuíam mais de 42 livros de Hermenêutica, e cerca de seis livros médicos, a saber: sobre a construção do corpo, sobre as doenças, sobre os equipamentos (o médico), sobre a medicação, os olhos (sobre doenças), sobre as condições das mulheres.
O maior compêndio de medicamento foi compilado por Hermes, um médico de origem grega que estudou no Egito, e constou de seis livros. O primeiro dos seis livros estava diretamente relacionado à anatomia, outro psíquico, outro de farmacologia e outros temas.
“A arte de curar está dividida. Cada tratamento médico de uma doença, e não vários, e tudo está cheio de doutores. Há médicos para os olhos, para a cabeça, os dentes, para o corpo e medicina interna.” Heródoto, Histórias, II, 84
THE LEGACY OF IMHOTEP
Detalhando inscrição egípcia instrumentos médicos, incluindo serras ósseas, ventosas, facas e bisturis, afastadores, escalas, lanças, cinzéis e instrumentos dentários.
A medicina em Kemet, segundo textos encontrados freqüentemente relatam que os médicos, eram: oculistas, dentistas que usavam fios de ouro e realizaram obturações com cimento mineral e outras técnicas foram amplamente usadas. Havia especialistas, incluindo médicos veterinários. A documentação é vastíssima sobre a medicina e muitos papiros foram encontrados trazendo a luz os conhecimentos africanos sobre a ciência médica, que descreve as doenças, e o tratamento aplicado em todas as áreas da medicina, incluindo ginecologia, cirurgia óssea e as queixas de olhos, entre outras doenças.
Os antigos egípcios inventaram também a prótese para os que nasciam com deformidade ou sofriam algum acidente. Em 2007, uma múmia feminina datada entre 1000 e 600 a.C foi encontrado um dedo protético criado a partir de madeira e couro.
Criaram os primeiros hospitais do mundo, os santuários de cura onde médicos e sacerdotes cuidavam dos doentes.
O estudo da anatomia e fisiologia mostra um grau de conhecimento do funcionamento do corpo humano, sua estrutura, o trabalho do coração e vasos sanguíneos.
Entre os diversos procedimentos do antigo estava à trepanação (cirurgia do crânio) e a cesariana.
O conhecimento médico no antigo Egito tinha uma reputação excelente, e os governantes de outros impérios solicitavam aos faraós egípcio de enviar-lhes o melhor médico para tratar os seus entes queridos. Se você vivesse no chamado “mundo antigo” o seu centro médico de referência seria Kemet (Egito). E se quisesse se tornar um bom médico ou médica iria estudar no Egito, país das melhores faculdades de medicina e dos melhores médicos do mundo. Na terra dos pretos você aprenderia com profundidade a medicina.
"Os egípcios eram hábeis na medicina mais do que qualquer outra arte." Heródoto.
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