Padre Hosana
Padre mata bispo com três tiros à queima-roupa e quarenta anos depois é assassinado a pauladas
Era dia primeiro de julho de 1957. O padre Hosana de Siqueira e Silva, pároco da cidade de Quipapá, vai ao Palácio Episcopal, em Garanhuns, e bate à porta que é aberta pelo bispo Dom Francisco Expedito Lopes. Depois de um bate-boca (os dois estavam brigados), o padre dispara três tiros à queima-roupa no bispo, foge do local e se entrega aos religiosos do Mosteiro de São Bento.
Levado às pressas para o hospital, Dom Expedito morre na madrugada do dia seguinte. O caso abala Pernambuco, ganha manchetes de jornais em todo o Brasil e também repercute no exterior. O padre assassino é capturado pela Polícia e transferido para uma prisão no Recife.
Os motivos do crime: um romance proibido. O padre Hosana estaria de caso com uma prima (Maria José Martins) que ele abrigou na casa paroquial de Quipapá e, por isso, foi suspenso de suas atividades religiosas pelo bispo, por tempo indeterminado. Depois de transferir a prima, grávida, para um outro local, o padre reagiu e por várias vezes tentou mudar o rumo do episódio.
Negava o caso amoroso e dizia que "as verdadeiras razões" de sua suspensão foram "boatos de pessoas que querem me afastar da paróquia". Mas o bispo não aceitou as explicações e a briga ficou feia. Até que o padre Hosana decidiu "resolver de vez essa questão" e foi ao encontro de Dom Expedito.
Julgamentos anulados
Enquanto a história do assassinato do bispo ganhava a boca do povo e virava tema de reportagens, livros e folhetos de cordel, o padre Hosana estava recolhido à Casa de Detenção do Recife. No primeiro julgamento (ocorrido a 20 de fevereiro de 1959), ele foi condenado a dois anos e seis meses de prisão e mais dois anos numa clínica psiquiátrica.
Mas a acusação achou a pena suave, recorreu e esse julgamento foi anulado. O segundo, também. No terceiro julgamento, ocorrido a 06 de dezembro de 1963, padre Hosana é condenado a 19 anos de cadeia. Cumpriu a pena até 05 de setembro de 1968, quando ganhou liberdade condicional.
Escomungado, Hosana deixou a prisão carregando o fardo de ser o terceiro padre na história da Igreja Católica em todo o mundo a assassinar um bispo: o primeiro caso aconteceu a 03 de janeiro de 1857, quando o padre Luiz Verge matou a punhaladas, na Igreja de Santa Madalena, em Paris, o arcebispo Dom Augusto Sibour; o segundo caso data de 18 de abril de 1867, quando o abade Galleote Costella matou, com um tiro de revólver, o bispo de Madri, Espanha, Dom Martinez Izqueierdo.
Recolhido em sua fazenda, a 09 km da cidade de Correntes, onde nasceu, o padre Hosana passou a viver da agricultura. Ali, dia 07/11/1997, aos 84 anos, ele foi assassinado a golpes de madeira na cabeça.
Sobre as intrigas que acabaram como o assassinato de Dom Expedito, o padre Hosana nunca admitiu que tivera um romance proibido. Dizia que tudo foi uma invenção para encobrir uma acirrada disputa de poder na paróquia de Quipapá. Mas, enquanto viveu tentando provar sua inocência, nunca apresentou provas consistentes dessa sua versão.
Dizia que os conflitos entre ele e o bispo foram provocados "por disse-me-disse de um mesmo grupo de pessoas", citando entre elas o padre Acácio Rodrigues (que era auxiliar de Dom Expedito e que pretendia assumir a paróquia) e um coroínha que ficara com raiva por ter sido afastado de suas funções.
Já o caso do assassinato do padre, este é mais misterioso ainda. No inquérito instaurado para apurar o episódio, foram indiciados como autores do crime Cícero Barbosa da Silva e Evalda Maria Peixoto da Silva, um casal de humildes agricultores residentes nas proximidades da fazenda onde Hosana viveu os seus últimos dias.
Mas, desde o início, nem mesmo a promotora de Correntes, Ana Jaqueline Barbosa Lopes, acreditou que os dois agricultores foram realmente os matadores do assassino confesso do bispo de Garanhuns . Tudo o que restou do segundo lance dessa tragédia foi a pergunta: quem, finalmente, matou o Padre Hosana?
Pergunta que, como tudo indica, ninguém está muito interessado em responder.
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