Chega de falar daquilo que “todo mundo” está falando quando o assunto são críticas à Igreja. É claro que muitos fatores, dentre eles o “politicamente correto” – a reinvenção da hipocrisia secular – e hetorodoxias, como o “evangelho da prosperidade”, enraizaram-se rápida e profundamente no seio eclesial.
Isto criou uma espécie de “baixo clero”, um movimento espontâneo, “paraeclesiástico”, que tem arregimentado muitos cristãos descontentes com os modelos mais tradicionais do evangelicalismo. Entre os líderes destes dissidentes, encontram-se aqueles que, outrora, foram alguns dos mais ardorosos defensores do modelo eclesial tradicional, com suas ligações e trâmites inter e transdenominacionais, as quais, diga-se de passagem, ainda vigoram na gigantesca maioria das denominações dos dias atuais.
Porém, os “revoltosos” das ilações da Igreja e seus desdobramentos não são caracterizados apenas por sua animosidade, mas – e, talvez, principalmente -, por seu estilo de vida cool, sua suavidade reflexiva quanto às obrigações cristãs e outras características próprias da Igreja. A própria hermenêutica bíblica de grande parte destes “revoltosos” tornou-se mais “suave”, mais aberta a leituras que, anteriormente, de forma alguma flertariam com o evangelicalismo nacional.
Isto tem causado muita confusão nas mentes dos que não são cristãos evangélicos, pois, se à Igreja já faltava uma identidade nacional, agora isto se tornou um sonho quase utópico. Mesmo a nova “Aliança Evangélica Brasileira” parece ser uma Agenda que nasceu morta: perdendo membros a cada dia, pelos mais diversos motivos, o ostracismo dos que insistem no projeto tem falado mais alto do que as adocicadas e inexpressivas palavras que são frequentes nos encontros dos que a compõem.
Em contrapartida, o modelo evangelical tradicional, pentecostal ou histórico, também sofre com constantes (e crescentes) divisões, denúncias que envolvem líderes famosos e que, inevitavelmente, enfraquecem a imagem da Igreja através de suas muitas instituições: e o pior de tudo é que o Evangelho fica obstruído pela imagem institucional das denominações evangélicas – e de todas as suas contradições.
Ostentação de líderes megalômanos e a abertura para o chamado “neopentecostalismo” ou, como dizia ou saudoso Bp. Robinson Cavalcanti, “pseudo-pentecostalismo”, também têm contribuído para o arrefecimento da fé em relação à “instituição” eclesiástica de um modo geral, principalmente de uma classe média, cuja massa cresce a cada dia, tem mais acesso à informação e não aceita qualquer balela como “conversa espiritual”.
O último Censo do IBGE mostrou que, curiosamente, a IURD de Edir Macedo sofreu um decréscimo, na última década, de algumas dezenas de milhares de fiéis. Em contrapartida, a Convenção Batista Brasileira, igreja de tradição histórica (i.e., não pentecostal), teve um acréscimo de membros na última década, constituindo-se, excepcionalmente, como a segunda maior denominação do Brasil, perdendo para a Assembléia de Deus (pentecostal). Apesar das muitas controvérsias destas denominações, ambas, segundo o IBGE, experimentaram crescimento quantitativo. Mas o fato é que, curiosamente, aumentou exponencialmente o número de “desigrejados”, isto é, de pessoas que se auto-proclamam “evangélicas”, mas que não frequentam uma igreja de maneira fixa, ou seja, não são membros de qualquer denominação.
Essa massa de “desigrejados” – uma igreja à parte, diga-se de passagem – tem constituído características próprias, às vezes um pouco contraditórias, posto que tal massa é tão grande que temos, agora, de separar os descontentes e “separados” pelos diversos motivos que os fizeram abandonar os modelos eclesiásticos tradicionais. É um fenômeno que em nada é parecido com a “Reforma” protestante. A Reforma produziu, sim, movimentos contrastantes até, mas todos eram unidos pelo desejo profundo de uma genuína e universal reforma nos dogmas da dominante Igreja Romana. O “separatismo” atual é mais fruto de frustração pessoal do que de consciência doutrinária: a população evangélica nacional, seja de “igrejados” ou de “desigrejados” parece só ter em comum a desagradável característica de não ser muito apegada à leitura da Palavra, fenômeno que castiga a Igreja e que, por si só, serviria para explicar em parte o panorama caótico pelo qual o evangelicalismo brasileiro tem passado.
As estimativas, ao meu ver, não são boas. As cisões parecem aumentar, assim como aumentam os egos dos líderes megalômanos e suas cada vez mais beligerantes homilias. O “baixo clero” evangélico, o evangelicalismo light, diet ou como “menos calórico” queiramos chamá-lo, é, além disso, “ensosso” espiritualmente. São líderes de índole duvidosa, subindo em púlpitos (que eles não querem que sejam chamados de púlpitos), em igrejas (que eles não querem que sejam chamados de igrejas), fazendo pregações (que eles não querem que sejam chamadas de pregações) que revelam toda a profusão de sua frustração existencial e espiritual: Jesus, na boca de vários destes, é-nos revelado mais como um hippie transloucado e subversivo do que como o Senhor e Salvador, o Messias prometido, conforme profetizado pelo Antigo Testamento e confirmado nos Evangelhos, do Novo.
Em meio a esta panacéia, então, o que fazer? Como Pastor, asseguro-lhe, prezado internauta (se o seu caso for o de estar procurando uma “via do meio”): orar, orar e orar a Deus, para que Ele o oriente e o abençoe em sua busca por um lugar no qual você não apenas se identifique, mas que se identifique com você! Sim, posto que comunhão eclesial é feita pela sinergia da membresia e, principalmente, pelo “alimento espiritual” vindo do púlpito cristão!
Saiba que existem, sim, movimentos, igrejas e Pastores sérios, comprometidos com a simplicidade e pureza da PALAVRA DE DEUS, acima de qualquer outra coisa. Que não transformaram seus respectivos ministérios em negócios, que sabem dividir as ocasiões, que não devoram as carnes das ovelhas, seja através dos berros histéricos do neopentecostalismo, seja através da hipocrisia velada dos enfadonhos movimentos “históricos”.
Há, sim, um REMANESCENTE fiel ao Senhor Deus que não quer vã glória para si, ou sonhos megalômanos, mas que a bandeira do Reino de Deus seja arvorada com mais intensidade nos corações do que nos altos dos montes.
Peço a Deus, diariamente, para estar incluído sempre nesta “via do meio”.
Artur Eduardo
Graduado em Teologia e Filosofia. Pós graduado em Doc. do Ensino Superior, Teologia Bíblica e Psicopedagogia (FATIN). Mestre em Filosofia (Univ. Federal de Pernambuco). Doutorando em Filosofia (Univ. Federal de Pernambuco). Diretor do IALTH (Inst. Aliança de Linguística, Teologia e Humanidades). Pastor da IEVCA (Igreja Ev. Aliança).
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