O blog do jornalista Paulo Lopes, reconhecidamente antirreligioso e ateísta, publicouo seguinte post sobre o filósofo e mametático Bertrand Russel, reconhecido como um dos ateus mais célebres da contemporaneidade. A afirmação do blog, baseado nas assertivas de Russel, é que "não pode haver inversão do ônus da prova" quanto ao desafio de os cristãos/teístas terem de provar a existência de Deus. Logo abaixo colocamos o post, na íntegra, e, mais abaixo, demonstramos porque o pensamento de Russel é falho
O filósofo e matemático Bertrand Russel |
No artigo “Existe em Deus”, Russell criou uma analogia entre um bule de chá e Deus para dizer que o ônus da prova da existência de Deus, ou seja lá do que for, cabe a quem dá credibilidade a essa suposta existência.
Ele escreveu: “Muitos indivíduos ortodoxos dão a entender que é papel dos céticos refutar os dogmas apresentados – em vez dos dogmáticos terem de prová-los. Essa ideia, obviamente, é um erro. De minha parte, poderia sugerir que entre a Terra e Marte há um bule de chá de porcelana girando em torno do Sol em uma órbita elíptica, e ninguém seria capaz de refutar minha asserção, tendo em vista que teria o cuidado de acrescentar que o pote de chá é pequeno demais para ser observado mesmo pelos nossos telescópios mais poderosos. Mas se afirmasse que, devido à minha asserção não poder ser refutada, seria uma presunção intolerável da razão humana duvidar dela, com razão pensariam que estou falando uma tolice. Entretanto, se a existência de tal pote de chá fosse afirmada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todo domingo e instilada nas mentes das crianças na escola, a hesitação de crer em sua existência seria sinal de excentricidade e levaria o cético às atenções de um psiquiatra, numa época esclarecida, ou às atenções de um inquisidor, numa época passada.”
De família aristocrata, Bertrand Arthur William Russell foi conde, o terceiro da linhagem Russel. Ele nasceu no dia 18 de maio de 1872 em Ravenscroft, no País de Gales. No auge, portanto, do poderio econômico e político de Império Britânico. Morreu no mesmo país no dia 2 de fevereiro de 1970. Sua vida pessoal foi atribulada, embora na juventude tenha sido tímido e solitário. Passou uns tempos nos Estados Unidos e se casou quatro vezes, o que, na época dele, era uma excentricidade, mais do que hoje. Sua primeira mulher foi a americana Alys Pearsall Smith, uma Quaker de 17 anos.
Russell foi um dos fundadores da filosofia analítica, cuja sustentação é a lógica formal e a ciência. Escreveu ensaios sobre história, política, economia, educação, ética, problemas sociais. Foram mais de 20 livros e centenas de artigos para a imprensa. Tornou-se um divulgador da ciência. Em 1950, Russel ganhou o Nobel de Literatura "em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento", de acordo com a avaliação da Academia da Suécia.
Ele já era então uma referência moral. Criticou, por exemplo, a guerra do Vietnã e as armas nucleares. Durante a Primeira Guerra Mundial pregou o pacifismo. A sua perspectiva sempre foi humanista. Escreveu em sua biografia ter oscilado quando jovem entre o agnosticismo e o ateísmo. Aos 18 anos, ele se assumiu como ateu ao se colocar a seguinte questão: “Quem criou Deus?” Concluiu que, se alguém viesse a provar a existência de Deus, teria também de explicar quem criou Deus, e assim sucessivamente, algo sem fim, sem lógica.
No mesmo livro, com base na experiência de sua vida, propôs dez princípios, que seguem em livre tradução:
Fonte: Paulo Lopes1 - Não tenha certeza absoluta de nada.2 - Não considere que valha a pena esconder evidências, pois elas inevitavelmente virão à luz.3 - Nunca tente desencorajar o pensamento, pois assim com certeza obterá sucesso.4 - Quando encontrar oposição, mesmo que seja de seu cônjuge ou de suas crianças, esforce para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, porque uma vitória que dependente da autoridade é irreal e ilusória.5 - Não tenha respeito pela autoridade dos outros, porque há sempre autoridades contrárias.
6 - Não use o poder para suprimir opiniões que considere perniciosas, pois as opiniões vão lhe suprimir.
7 - Não tenha medo de possuir opiniões excêntricas, porque todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8 - Encontre mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, porque, se valorizar a inteligência, chegará a um acordo proveitoso e profundo.
9 - Seja escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentar escondê-la.
10 - Não tenha inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.
NOTA: Mas, será que é impossível que se prove a inexistência de algo? Não, exatamente!! Desde que dadas as prerrogativas necessárias sobre a) do que se tenta provar a inexistência; b) por quais métodos; c) em quais parâmetros, observa-se que a prova da inexistência de algo não é incoerente e, tampouco, absurda, como afirmam alguns neoateus. Por exemplo: digamos que estamos procurando fósseis de Megalossauros em determinada área, pois suspeita-se que aquela área seja um antigo depósito de fósseis. Bem, delimita-se a área de busca em questão. Isto é fundamental, pois é concebível que qualquer método de medição/aferição não circunscreva uma determinada área. Uma vez delimitada a área de busca, estabelecem-se os parâmetros, através dos quais as busca será feita. Com sondas, escavações, análise espectrômica, etc. Ora, definidos o local de busca, os métodos e os parâmetros em que a busca se processará, então conclui-se, objetivamente, se há ou não fósseis naquela determinada área. O dr. William L. Craig respondeu similarmente a uma questão parecida:
Outro erro fundamental de Russel foi o de querer, ao que tudo indica em seus escritos, provas materiais para algo que é puramente metafísico. Da mesma maneira que não se pode provar materialmente a existência da essência de uma cadeira ou do que quer que seja, não se pode afirmar que Deus não existe porque não podemos prová-lo materialmente. Isso é um engodo. Deus á, para usarmos linguagem filosófica medieval, "ato puro". Sua perfeição consiste justamente no fato de ser ilimitado, ou, em outras palavras, abranger toda a realidade possível. É por isso que afirmamos que, em qualquer "mundo possível", Deuscontinuaria sendo Deus, posto que toda e qualquer realidade dependem dele para exisitr. Como uma "Causa Necessária", Deus existe necessariamente, sem a necessidade deque algo preconize sua existência - isto, justamente pelo fato de Deus ser um ens necessitans, um "ser necessário". Desta forma, a pergunta "quem criou Deus?" é absurda em si mesma, pois auto-anula-se logicamente. É o mesmo que perguntarmos: qual o fim da sequência infinita dos números naturais? Ou ainda: qual o "fator de redondeza"do quadrado de lado 3?" (não importa se o quadrado tem lado 3, 4, 25, 7893, 9093876539, ou, de fato, qualquer tamanho, posto que é um quadrado e, num quadrado, não há "fator de redondeza". Requerer provas materiais de algo que perpassa quaisquer limites de realidade física é sinal de confusão mental e desconhecimento das regras básicas da dedução. Podemos deduzir objetos, formas e, é claro, o ser natural, a partir de inferências lógicas do nosso modo defensivo. Este foi um erro de Russel... mas, por toda a sua história, o erro torna-se ainda espetacular, pois Russel não era um livreiro ou simples leitor de jornais e periodista... mas um homem cotado para ser, talvez, e aclamado no mundo todo por sua oposiçãohistoricamente neoateísta, que foi matermático e filósofo, e pregava a razão como algo que deveria modelar, inclusive, o pensamento, não deve perfilar como um dos "homens mais sábios" que já exisitiram. Russelerrou ao não encarar melhor a natureza dos próprios problemas em questão, confundindo-se até em questões que possuem auto-contradições triviais. Essa eu não entendi, sr. Russel!!....rsrsrsrs.
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