Especialistas listam 10 desafios para o novo Papa
quarta-feira (13).
Especialistas apontam desafios que ele encontrará no comando da Igreja.
O recém-eleito papa Francisco, Cardeal Jorge Mario Bergoglio, dá a benção na varanda da Basílica de São Pedro (Foto: Dylan Martinez/Reuters)
Aos 76 anos, o argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, foi eleito pelos cardeais na quarta-feira (13) para suceder o Papa Emérito Bento XVI no comando da Santa Sé. Ao aceitar a incumbência, ele escolheu ser chamado de Francisco.
Fotógrafo registra o momento exato em que um raio
atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, no
Vaticano (Foto: Filippo Monteforte/AFP)
atinge a cúpula da Basílica de São Pedro, no
Vaticano (Foto: Filippo Monteforte/AFP)
A tarefa de gerir a Igreja no século XXI exigirá muito do pontífice, afirmam os especialistas entrevistados pelo G1, como o próprio Bento XVI já havia assinalado no discurso em que comunicou sua renúncia: “[...] no mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo”.
De acordo com os estudiosos, o sucessor herda uma série de desafios relacionados à sociedade moderna e à administração da Santa Sé, tais como a reforma da Cúria Romana, o fim da perseguição aos católicos na África e Ásia, a ampliação do diálogo ecumênico, além da discussão de temas como divórcio, celibato e ordenação de mulheres.
Foram ouvidos o professor Francisco Borba, coordenador do núcleo de fé e cultura da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo; o teólogo Fernando Altemeyer Júnior, professor da PUC-SP; o Padre Luiz Corrêa Lima, da PUC-Rio; e o Padre Agenor Brighenti, da PUC-PR.
Veja dez desafios do novo pontífice:
Reforma da Cúria Romana e do banco do Vaticano
Sob acusações de intrigas, tráfico de influência e abusos de poder, a Cúria Romana (governo central da Santa Sé) precisará ser reformada pelo sucessor de Bento XVI, afirmam os especialistas. “O novo Papa terá como desafio implantar uma gestão mais transparente na Cúria e no Banco Vaticano”, acredita o professor Francisco Borba.
Sob acusações de intrigas, tráfico de influência e abusos de poder, a Cúria Romana (governo central da Santa Sé) precisará ser reformada pelo sucessor de Bento XVI, afirmam os especialistas. “O novo Papa terá como desafio implantar uma gestão mais transparente na Cúria e no Banco Vaticano”, acredita o professor Francisco Borba.
O mesmo deve ocorrer com o Instituto para as Obras de Religião (IOR), banco oficial do Vaticano, que dispõe de 5 bilhões de euros e foi palco de escândalos financeiros, durante o pontificado de João Paulo II e Bento XVI. Em 2010, as autoridades italianas abriram investigação contra os dirigentes da instituição por violação das leis de lavagem de dinheiro e, nos últimos meses, o banco também esteve no centro do episódio conhecido como “Vatileaks” (veja segundo item).
A diminuição da burocracia e a descentralização da Cúria também são apontadas como problemas a serem enfrentados pelo novo pontífice. “Ele precisa internacionalizar a Cúria, dar mais mobilidade à Igreja. São necessários mais cardeais do terceiro mundo, porque hoje o peso europeu ainda é muito maior”, acredita Borba.
Investigação do caso “Vatileaks”
A primeira tarefa do novo pontífice no comando da igreja talvez seja analisar o relatório secreto elaborado por três cardeais sobre o “Vatileaks” – vazamento de documentos confidenciais do aposento papal. O documento foi redigido a pedido do agora Papa Emérito Bento XVI, depois que cartas confidenciais dirigidas a ele foram parar nas mãos de jornalistas.
A primeira tarefa do novo pontífice no comando da igreja talvez seja analisar o relatório secreto elaborado por três cardeais sobre o “Vatileaks” – vazamento de documentos confidenciais do aposento papal. O documento foi redigido a pedido do agora Papa Emérito Bento XVI, depois que cartas confidenciais dirigidas a ele foram parar nas mãos de jornalistas.
Em um dos seus últimos atos no comando da Santa Sé, em fevereiro, Bento XVI decidiu entregar “exclusivamente” ao seu sucessor a conclusão da investigação. “O novo Papa certamente terá que enfrentar o que estiver escrito ali”, afirma o teólogo Fernando Altemeyer Júnior.
Moral sexual e família
Existe hoje uma pressão da sociedade moderna para que a Igreja reveja seus conceitos sobre o divórcio, uso de preservativos, homossexualidade, aborto e pesquisas com células tronco, temas sobre os quais o novo pontífice terá de se posicionar.
O novo Papa não fará grandes mudanças com relação à maioria dessas questões, enquanto outras têm mais chances de serem discutidas, acredita Altemeyer. “Os assuntos relacionados à família não vão mudar, porque são dogmas da Igreja. Temas como o aborto e a sexualidade são patrimônio moral. Por outro lado, pode-se discutir eventualmente a fertilização in vitro ou questões relacionadas às células tronco não-embrionárias”, afirma
Ainda que não faça mudanças, o novo Papa terá como desafio responder a essas demandas, fundamentando a postura da Igreja Católica. “Se a igreja pelo menos se comunicar com mais facilidade com a sociedade, o diálogo com essas demandas irá melhorar bastante”, assegura Francisco Borba.
Secularização e secularismo
A Igreja, que por muitos anos esteve presente em todas as esferas da sociedade, hoje convive com uma crescente autonomia das instituições em relação à religião – secularização; e com a hostilidade à fé, chamada de secularismo.
A Igreja, que por muitos anos esteve presente em todas as esferas da sociedade, hoje convive com uma crescente autonomia das instituições em relação à religião – secularização; e com a hostilidade à fé, chamada de secularismo.
“O remédio para isso [secularismo] também é o diálogo, mostrando que a igreja não ameaça a liberdade, as ciências e as instituições. Na medida em que a Igreja convive bem com a sociedade pluralista, esse fenômeno tende a diminuir”, afirma o Padre Luiz Corrêa Lima.
Perseguição aos cristãos na África e Ásia
O continente em que o catolicismo mais cresce é o africano que, junto com o Oriente Médio e com a Ásia, concentra um grande número de perseguições e mortes de fiéis, afirmam os especialistas. “Nesses locais, existem muitos casos de massacres de cristãos, atendamos a igrejas e assassinatos por causa da intolerância religiosa. Esse é um desafio difícil e doloroso, mas precisa ser enfrentado”, diz Francisco Borba.
Pedofilia
Os casos de pedofilia, abusos sexuais por parte de padres e o acobertamento dos autores desses crimes são “uma terrível ferida no corpo da Igreja”, afirmou o cardeal americano Francis George em entrevista coletiva no dia 4 de março.
Os casos de pedofilia, abusos sexuais por parte de padres e o acobertamento dos autores desses crimes são “uma terrível ferida no corpo da Igreja”, afirmou o cardeal americano Francis George em entrevista coletiva no dia 4 de março.
Durante seu papado, o Bento XVI empenhou esforços para combater os escândalos sexuais, que culminaram principalmente na exigência de que os culpados fossem denunciados à justiça e respondessem na esfera criminal. Ele ainda se encontrou com as vítimas de abuso e pediu desculpas a elas. Agora, cabe ao novo chefe da Igreja Católica manter uma postura firme com relação aos casos de pedofilia.
“Tudo o que João Paulo II deixou de fazer para combater o problema, Bento XVI fez. Antes havia uma cultura eclesiástica de que isso deveria ser resolvido internamente, mas Bento XVI fez questão de comunicar os casos ao poder civil. Espera-se do próximo pontífice que ele continue nesse caminho e não cometa nenhum retrocesso”, declarou o Padre Corrêa Lima.
Celibato
As discussões sobre a flexibilização do celibato têm cada vez mais adeptos entre as dioceses, padres e bispos. “Essa é tradição do celibato é algo próprio da Igreja Católica do Ocidente. No Oriente existem os dois modelos: casados e celibatários”, explica o Padre Luiz Corrêa. De acordo com ele, não se trata de um dogma, mas da disciplina eclesiástica, que pode ser discutida e mudada a qualquer momento, possibilitando também que um maior número de pessoas exerçam o sacerdócio.
As discussões sobre a flexibilização do celibato têm cada vez mais adeptos entre as dioceses, padres e bispos. “Essa é tradição do celibato é algo próprio da Igreja Católica do Ocidente. No Oriente existem os dois modelos: casados e celibatários”, explica o Padre Luiz Corrêa. De acordo com ele, não se trata de um dogma, mas da disciplina eclesiástica, que pode ser discutida e mudada a qualquer momento, possibilitando também que um maior número de pessoas exerçam o sacerdócio.
Crise das vocações
A Europa vive uma crise das vocações sem precedentes. Antigamente, era comum encontrar pais que desejavam ver os filhos seguindo a vida religiosa. Nos dias de hoje, essa postura é rara e há cada vez menos jovens aderindo ao sacerdócio. A falta de párocos é tão grande que países da América Latina e África têm “exportado” padres e missionários para o continente europeu.
A Europa vive uma crise das vocações sem precedentes. Antigamente, era comum encontrar pais que desejavam ver os filhos seguindo a vida religiosa. Nos dias de hoje, essa postura é rara e há cada vez menos jovens aderindo ao sacerdócio. A falta de párocos é tão grande que países da América Latina e África têm “exportado” padres e missionários para o continente europeu.
No Brasil, após anos de queda, foi registrado um crescimento no número de rapazes que querem ser padres, mas a quantidade ainda é pequena perto da população brasileira e do número de paróquias e dioceses. “No nosso país, houve uma crise nos anos 70 e agora há um boom. O problema principal é a Europa”, afirma o professor Fernando Altemeyer. Cabe ao novo Papa encontrar uma de atrair novamente os jovens para o sacerdócio.
Ordenação de mulheres
A ordenação de mulheres ganhou muitos defensores nos últimos anos, mas ainda está longe de virar uma realidade. “Há muita resistência dentro da Igreja Católica. Existem muitos teólogos e bispos que já se manifestaram a favor, mas é muito improvável que essa questão mude no próximo pontificado”, afirma Padre Luiz Corrêa Lima.
De acordo com ele, nos séculos passados, existia o posto de diaconisa – o equivalente feminino ao diácono. “Se já existiu, pode voltar a existir, mas ainda não há um consenso sobre essa questão”.
Diálogo ecumênico e inter-religioso
Uma tarefa importante do Papa Francisco é dar um novo impulso ao diálogo ecumênico e inter-religioso, afirma o Padre Agenor Brighenti. “No passado, as religiões motivaram muitas guerras. Agora, ao trocar experiência entre si, elas assumem um papel importante para fomentar a paz no mundo, a consciência ecológica e o combate à fome”, concorda o Padre Luiz Correa.
Uma tarefa importante do Papa Francisco é dar um novo impulso ao diálogo ecumênico e inter-religioso, afirma o Padre Agenor Brighenti. “No passado, as religiões motivaram muitas guerras. Agora, ao trocar experiência entre si, elas assumem um papel importante para fomentar a paz no mundo, a consciência ecológica e o combate à fome”, concorda o Padre Luiz Correa.
Fonte: G1
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